Fabricantes de chocolate se preparam para aderir a regras da UE contra o desmatamento

Lindt, Ferrero e Unilever afirmam apoiar a legislação que proíbe a importação de alimentos cultivados em áreas de desmatamento; medida pode elevar os preços

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Bloomberg — As grandes empresas de chocolate receberam com satisfação as novas regras da União Europeia que protegem as florestas, mas que tendem a afetar ainda mais os bolsos dos consumidores.

A UE prepara leis que garantem que commodities como cacau, café e óleo de palma não sejam cultivadas em terras desmatadas, além de implementar medidas para combater problemas como trabalho infantil nas cadeias de suprimentos.

Empresas como Lindt & Spruengli, Ferrero e Unilever afirmam apoiar a iniciativa porque a medida cuida do meio ambiente e protege aqueles que cultivam os produtos agrícolas.

No entanto, para os compradores, que cada vez mais desejam saber de onde vem sua comida e se foi produzida de forma ética, isso pode ter um custo. Gana, o segundo maior produtor de cacau, alertou que os compradores devem estar preparados para pagar mais devido ao investimento necessário para estabelecer sistemas que rastreiem os grãos até as fazendas.

Isso pode potencialmente aumentar os preços de itens comuns, como barras de chocolate e gel de banho, para consumidores europeus que enfrentam uma crise de aumento de custo de vida.

“Claramente, há um investimento que precisa ser feito”, disse Francesco Tramontin, vice-presidente de relações institucionais da Ferrero, fabricante da marca Kinder. Ele afirmou que a empresa já tem rastreabilidade completa das fazendas de onde compra cacau.

Aumento de preços

A perspectiva de ter que pagar mais por commodities como cacau surge em um momento em que a inflação continua sendo um problema particular para os alimentos devido a restrições de oferta. Por exemplo, os preços futuros de cacau dispararam para uma máxima de vários anos e os preços do café também subiram em Londres.

A produtora de chocolate premium Lindt, que também recebeu bem a nova regulamentação e já estava trabalhando nesse sentido, preferiu não comentar o impacto potencial para os consumidores.

As novas regras sobre desmatamento entram em vigor agora, embora as empresas tenham até o final do próximo ano para se adequar. Costa do Marfim e Gana, a fonte de dois terços do cacau mundial, estão tendo que estabelecer sistemas especiais que atendam aos requisitos da UE, como o georreferenciamento das terras nas quais esses produtos foram colhidos.

A Unilever, que utiliza chocolate em seus sorvetes e compra cacau ganês por meio do processador Barry Callebaut, disse que o “planeta precisa desesperadamente” das medidas e que elas representarão uma concorrência justa na Europa.

“Acredito que Gana está certa em dizer que, como país, eles precisarão que todos paguem mais, assim como fazemos”, disse Hanneke Faber, chefe de nutrição da Unilever. Ela afirmou que a empresa paga mais para garantir que a commodity seja produzida sem desmatamento ou com trabalho análogo à escravidão.

Até agora, a Unilever tem conseguido evitar repassar os preços para os consumidores e espera que isso seja o caso para toda a indústria no futuro.

Rastreamento

O rastreamento do cacau atualmente ocorre por meio de programas voluntários de sustentabilidade conduzidos por empresas individuais. Cada programa tem critérios diferentes e os governos nacionais não têm supervisão. Tramontin, da Ferrero, afirma que a indústria precisa de padrões de sustentabilidade em nível de política.

“Caso contrário, você terá apenas empresas que selam sua cadeia de suprimentos, o que será bom para eles em termos de trazer o cacau para a Europa, mas não necessariamente terá o impacto que todos desejam em grande escala”, disse ele.

A Nestlé se comprometeu a obter cacau proveniente de áreas livres de desmatamento até 2023. A Unilever diz que até o final deste ano o cacau que ela compra também será livre de desmatamento.

Algumas empresas afirmam que a conformidade com as regras já está incorporada em seus sistemas, mas analistas alertam para um impacto na lucratividade. Por exemplo, o Barclays estima que os processos de conformidade relacionados às regras para a Barry Callebaut em 2025 afetarão cerca de 9% do Ebitda de 2023. A empresa preferiu não comentar.

-- Com a colaboração de Yinka Ibukun e Megan Durisin.

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