Com um ano e meio, Inteli amplia impacto e vai de bootcamp a curso executivo

Instituto de Tecnologia e Liderança, idelizado por André Esteves e família e Roberto Sallouti, acelera ações para reforçar importância da tecnologia em diferentes carreiras

Instalação do Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança) no campus da USP, em São Paulo (Foto: Divulgação/Inteli)
29 de Junho, 2023 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — Em apresentação recente no mês passado, profissionais do Inteli (Instituto de Liderança e Tecnologia) atenderam não alunos, mas 80 orientadores de carreira de 50 escolas do ensino médio. O objetivo? Auxiliá-los a dispor de mais informações sobre as carreiras em tecnologia, das diferenças entre engenharia e ciência da computação às possibilidades crescentes com uso de Inteligência Artificial.

Não foi exceção. “Temos uma apresentação em que mostramos como a tecnologia é transversal entre as áreas, da saúde à agricultura, sempre com exemplos concretos, como o uso de Inteligência Artificial na advocacia ou de robótica na medicina”, disse Ana Beatriz Garcia, diretora de Operações do Inteli, à Bloomberg Línea. “Investimos muito no relacionamento com escolas.”

Em outra apresentação, os profissionais do Inteli revelam o uso estratégico de tecnologia em empresas que não são classificadas como techs no grupo das cem maiores do mundo, da Nike à Disney, ou seja, em um grupo que vai muito além de referências como Apple e Google.

No ano passado, foram realizados mais de 190 eventos pelo Inteli, que levaram 10 mil pessoas para a sede que fica próxima à Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, de alunos do ensino médio e seus pais a professores e acadêmicos. Houve treinamentos para coordenadores de escolas do ensino médio no modelo de aprendizagem com base em projetos, entre outros.

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“É algo que estava previsto desde o início, para que possamos ajudar outras instituições a aprenderem um modelo que já existe há mais tempo e é comprovado”, disse Garcia. “E criamos vínculos com escolas.”

Outra maneira são os bootcamps, que reúnem alunos do ensino médio para o desenvolvimento de projetos. Foi a maneira como o próprio Inteli começou a funcionar antes da gradução, segundo a diretora.

O quinto bootcamp começará em julho (com inscrições abertas até sexta, dia 30), em que 40 alunos selecionados terão que desenvolver um projeto em cima de uma demanda real de uma empresa parceira - no caso, uma aplicação web que será uma plataforma de carreira para um grande banco.

O Inteli, que nasceu com o objetivo de formar lideranças para o país que possam conciliar conhecimento de tecnologia e capacidade de aplicação de projetos com habilidades comportamentais como ética - por exemplo, no viés na programação de uma máquina -, completa um ano e meio de operação com mais ações para ampliar o seu alcance, enquanto também busca meios de se viabilizar financeiramente de forma crescente.

O instituto foi idealizado em 2019 por André Esteves e família e Roberto Sallouti, como uma iniciativa sem fins lucrativos independente do BTG Pactual, dos quais são os principais acionistas e executivos, inspirado em faculdades americanas como Stanford e MIT (Massachusetts Institute of Technology) depois de dois anos de estudo de benchmarks que melhor atenderiam ao objetivo acima citado.

Esteves e família viabilizaram a criação do Inteli com a doação de R$ 200 milhões, além do envolvimento e do corpo a corpo frequente com empresários e executivos para a doação de bolsas que bancam não só os quatro anos da gradução de um aluno como ajuda financeira para alimentação e moradia. Atraíram e recrutaram para o comando Maíra Habimorad, que foi CEO da Cia de Talentos.

Segundo Garcia, atualmente 55% dos cerca de 340 alunos contam com algum tipo de bolsa, dado que o objetivo é atrair e formar jovens promissores independentemente da condição socioeconômica.

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O Inteli tem como base acadêmica um modelo com base em projetos para solucionar demandas concretas de empresas, ONGs e agências de governo, selecionadas por meio de editais. Cada turma funciona com um parceiro e é dividida em cinco grupos para a resolução ao longo de dez semanas.

Em um ano e meio, já foram desenvolvidos 150 protótipos de 30 parceiros diferentes. “É uma maneira como medimos impacto, pois todos os protótipos são desenvolvidos em código aberto e ficam disponíveis no nosso site e no nosso GitHub [plataforma aberta para projetos]”, disse Garcia.

“Qualquer pessoa pode baixar os projetos, que envolvem de modelos preditivos usando Inteligência Artificial a Internet das Coisas, e aplicar em seus negócios”, afirmou.

O Inteli conta com três turmas de alunos já iniciadas, duas em 2022 e uma no começo de 2023. Apesar do tempo relativamente curto de operação, com alunos no máximo no segundo ano, Garcia contou que há diferentes métricas que atestam a eficácia e os resultados do modelo acadêmico, como a resolução das demandas das empresas e a conquista de resultados em hackatons no Brasil e no exterior.

Há desafios que surgem, como conflitos entre alunos dentro dos grupos, mas a diretora disse que os próprios buscaram soluções como a formação com treinamento para que atuem como mediadores.

Segundo Garcia, um próximo passo do Inteli é o desenvolvimento de novos produtos que vão além da gradução. Um dos planos é oferecer cursos executivos para empresas, um segmento com muita demanda, e para CEOs. “Temos dois cursos já desenhados, um de dados e outro de tecnologias emergentes, que vamos levar a mercado. O desafio é entender o equilíbrio ótimo entre excelência e escala.”

Os recursos levantados vão ser direcionados para a sustentabilidade financeira da instituição, dentro do plano de médio prazo para que possa depender cada vez menos de aportes.

Em outra iniciativa de produto e também para disseminar conhecimento, o Inteli começou a desenvolver com algumas escolas disciplinas eletivas que atendem ao novo ensino médio, que vão além das obrigatórias e permitem que alunos possam aprender sobre temas como robótica ou pesquisa científica.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.