Movimento contra o ESG coloca em alerta gestoras de investimento britânicas

Com força dentro dos Estados Unidos, grupos contra o ESG começam a surgir no Reino Unido, influenciando alocação de recursos

Associação de Investimento e Finanças Sustentáveis do Reino Unido inclui o Barclays e o JP Morgan Chase
Por Frances Schwartzkopff
27 de Junho, 2023 | 02:03 PM

Bloomberg — A Associação de Investimento e Finanças Sustentáveis do Reino Unido (UKSIF), cujos membros administram mais de 19 trilhões de libras (US$ 24 trilhões) e incluem o JPMorgan Chase e o Barclays, quer que o governo forneça diretrizes claras que especifiquem se as gestoras de ativos têm como dever se preocupar com riscos de danos ambientais, impactos sociais e má governança corporativa.

James Alexander, diretor-presidente da associação, espera que a UKSIF e outras associações de investidores defendam publicamente a incorporação de considerações ESG na regulação do mercado. “Não é uma busca direta de uma agenda política, mas algo necessário para que investidores cumpram seu dever fiduciário”, afirma.

Alexander faz parte de um número crescente de participantes do mercado financeiro no Reino Unido e da União Europeia que observam a evolução do assunto nos EUA com uma sensação de desconforto.

A reação contra o ESG liderada pelo Partido Republicano chocou o setor, com ameaças de ações judiciais e listas contra alguns dos maiores bancos e gestoras de ativos do mundo.

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O Partido Republicano classifica o ESG de movimento antiamericano que colocar uma agenda “woke” (termo relativo ao ativismo) à frente dos deveres fiduciários, que incluem a responsabilidade dos gestores de agir em prol dos interesses dos investidores.

Nos EUA, há evidências de que a retórica contra o ESG levou algumas empresas do setor financeiro a suavizar seus compromissos com os chamados padrões ambientais, sociais e de governança em suas conversas com clientes. E fundos de pensão se encontram no meio de uma longa batalha entre o governo Biden e republicanos sobre se podem levar em consideração os riscos ESG em seus investimentos.

Até agora, pouca coisa sugere que esses níveis de hostilidade em relação ao ESG estejam se formando no Reino Unido. Mas alguns incidentes isolados se destacam.

Durante um discurso na Câmara dos Comuns em outubro defendendo o direito da polícia de tratar os manifestantes como criminosos, a ministra do Interior, Suella Braverman, adotou uma retórica que parece sair direto do manual do Partido Republicano, ao atacar os “comedores de tofu woke’”, em referência à ala esquerdista da política britânica.

Em março, o governo do Reino Unido disse acreditar ser “importante que a agenda ESG não seja desviada pelo ativismo político ou agendas políticas”, que podem redirecionar recursos destinados a segmentos como o de armas.

A preocupação de que empresas de defesa corram o risco de serem subfinanciadas devido às prioridades ESG levou autoridades britânicas a agendar uma reunião na quarta-feira com as indústrias de investimento e defesa, de acordo com a Sky News.

“O ceticismo em relação ao ESG pode se espalhar e, em casos limitados”, já atingiu o Reino Unido, e pode levar a “algo mais ameaçador e obstrutivo”, disse Alexander Stafford, presidente do All-Party Parliamentary Group on Environmental, Social and Governance. Ele diz que parlamentares agora precisam fazer o que for possível para “ajudar a conter qualquer histeria que possa vir dos EUA”.

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No mercado americano, o movimento contra o ESG começa a esbarrar na realidade das leis. Dos 165 projetos de lei apresentados em 37 estados dos EUA este ano, 83 já estão “mortos”, de acordo com relatório publicado pela Pleiades Strategy.

“Apesar de todo o ‘hype’, a grande maioria dos projetos de lei contra o ESG não conseguiu passar pelas câmaras legislativas, inclusive em dez estados totalmente controlados pelos republicanos”, constatou o estudo.

A indústria de investimentos do Reino Unido precisa de “mais esclarecimentos” das autoridades relevantes sobre como os fatores ESG e o impacto devem ser interpretados para cumprir os deveres fiduciários, disse Alexander. Em alguns casos, os investidores podem precisar de apoio regulatório “para minimizar possíveis riscos de responsabilidade”, principalmente em relação aos planos de transição climática, afirmou.

-- Com a colaboração de Gautam Naik.

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