Esforço de Wall Street para reduzir danos climáticos é limitado, diz pesquisa

Para pesquisadores de Columbia, mercado deveria deixar lobby de lado e pressionar por precificação do carbono, financiamento público e regulamentações

Ativistas protestam contra as mudanças climáticas perto de Wall Street, na cidade de Nova York, em 2019
Por Saijel Kishan
27 de Junho, 2023 | 12:47 PM

Bloomberg — Nos últimos anos, uma série de promessas, grupos e modelos climáticos ganhou espaço em Wall Street em uma tentativa de reduzir – ou ao menos parecer reduzir – o papel do setor financeiro no aquecimento global.

Mas muitos desses esforços tiveram um impacto limitado na prevenção dos danos causados pelas mudanças climáticas, de acordo com pesquisadores da Universidade de Columbia. E, ao mesmo tempo, Wall Street gasta centenas de milhões de dólares todos os anos para bloquear medidas que poderiam ajudar.

Em uma análise de 59 páginas de bancos e gestoras dos Estados Unidos publicada na semana passada, os pesquisadores disseram que a variedade de métricas, cálculos e metas que eles empregam pode ser confusa e enganosa e “pode não ser adequada ao propósito”.

E o foco na redução das pegadas de carbono, com a venda de ativos altamente poluentes ou via uso de compensações de carbono não significa que as emissões de gases de efeito estufa estejam sendo realmente cortadas no mundo real, disse Lisa Sachs, diretora do grupo de investimento sustentável de Columbia, que liderou a pesquisa.

PUBLICIDADE

Para que Wall Street tenha um impacto maior nas mudanças climáticas, o mercado financeiro deveria parar de apoiar lobistas e grupos de interesses especiais que bloqueiam a regulamentação, destaca o relatório. As empresas financeiras devem pressionar por coisas como precificação do carbono, financiamento público e regulamentações, disseram os pesquisadores.

Quase US$ 200 trilhões em investimentos são necessários até 2050 para alcançar emissões líquidas zero, estimam pesquisadores da BloombergNEF. Sob pressão de ambientalistas e investidores, Wall Street desenvolveu maneiras de medir ostensivamente sua pegada de carbono e se juntou a grupos prometendo cortes de emissões.

Ativistas climáticos dizem que esses esforços não conseguem lidar com a mudança climática.

Bancos e empresas de investimento, dizem os pesquisadores de Columbia, muitas vezes confundem a redução de seus próprios riscos financeiros para a mudança climática com a adoção de ações que realmente reduzem o aquecimento global. A indústria precisa explicar suas medidas climáticas com mais precisão.

Um exemplo dado pelos pesquisadores é a Glasgow Financial Alliance for Net Zero, conhecida como GFANZ, na sigla em inglês. A coalizão disse em novembro de 2021 que suas centenas de parceiros, com ativos combinados da ordem de US$ 130 trilhões, estão comprometidos em acelerar a descarbonização da economia global.

“Dos ativos controlados pelas instituições parceiras, poucos foram de alguma forma redirecionados, alavancados ou usados de outra forma para promover a ação climática”, escreveram os pesquisadores em seu relatório.

Uma porta-voz da GFANZ disse que a aliança não pode comentar sobre um relatório que não viu. (A GFANZ é co-presidida por Michael R. Bloomberg, o fundador e proprietário majoritário da Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News.)

PUBLICIDADE

Além disso, grande parte do trabalho climático feito por empresas financeiras cobre apenas um conjunto limitado de seus ativos e, portanto, elas precisam deixar claro quanto de seu financiamento ou investimento é realmente coberto por suas medidas climáticas, de acordo com o relatório de Columbia.

Medidas com pouco impacto real

Os pesquisadores disseram que os esforços dos investidores para se desfazer de ativos altamente poluentes em um movimento para descarbonizar seus investimentos têm pouco impacto no corte geral das emissões, porque esses ativos são meramente vendidos a outros investidores.

Além disso, alienar pequenas quantidades de ações de poluidores não penaliza as empresas por aumentar seus custos de financiamento, disseram os pesquisadores, citando um estudo acadêmico.

O relatório de Columbia criticou os esforços contínuos dos bancos para calcular as emissões associadas ao seu financiamento. As chamadas “emissões financiadas” são repletas de diferentes metodologias que dificultam a comparação de dados.

As medições também podem ser distorcidas por coisas como inflação ou recessões, resultando em resultados inconsistentes, disse o relatório.

Segundo os pesquisadores, o setor financeiro precisa reduzir o uso de compensações de carbono enquanto estabelece metas de curto e longo prazo para reduzir as emissões.

As empresas também devem usar metas para cortar emissões absolutas – ou um valor definido – em vez de emissões por unidade de receita ou produção. E, finalmente, deveriam separar as emissões de metano mais potentes de outros gases de efeito estufa em seus cálculos.

Mas talvez o mais importante, de acordo com os pesquisadores, se o setor financeiro quiser ajudar na luta para retardar o aquecimento global, deve parar de trabalhar ativamente para torná-lo pior.

As empresas financeiras devem parar de fazer lobby contra a ação climática e exigir que seus clientes e as empresas nas quais investem façam o mesmo, disseram os pesquisadores.

A indústria gastou mais de US$ 663 milhões em lobby no ano passado, enquanto os pagamentos políticos a membros do Congresso durante o ciclo eleitoral de 2022 totalizaram US$ 303 milhões, disse o relatório, citando dados do site “Open Secrets”.

“O mercado financeiro precisam parar de bloquear e começar a apoiar políticas climáticas robustas”, disse Sachs.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Jatinhos buscam alternativa menos poluente para atender à tendência ESG

Este banco inglês explica por que só prevê perdas ligadas ao clima em 2030

Por que BlackRock e Brookfield estão apostando em fazendas solares no Chile