Casino pretende vender o Grupo Pão de Açúcar para reduzir dívida

Grupo francês pretende vender filiais em Latam de forma a garantir sustentabilidade econômica; na semana passada, vendeu sua fatia no Assaí

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Bloomberg — O Grupo Casino anunciou nesta segunda-feira (26) que pretende vender suas filiais restantes na América Latina: o Pão de Açúcar (PCAR3), no Brasil, e o Éxito, na Colômbia. O movimento vista reduzir a dívida da companhia e garantir a sustentabilidade econômica.

O Casino detém atualmente 40,9% das ações ordinárias do Grupo Pão de Açúcar. O restante dos papéis é negociado em free float na bolsa de valores.

Em fato relevante divulgado nesta manhã, o GPA disse que não tem “qualquer informação sobre potencial venda de suas ações pelo controlador, motivo pelo qual o questionou na data de hoje e manterá o mercado informado assim que tiver mais detalhes”. As ações PCAR3 tinham queda de 1,4% na B3 por volta das 11h (horário de Brasília).

Na semana passada, o Casino anunciou a venda de sua participação de 11,7% na rede atacadista brasileira Assaí (ASAI3), por cerca de R$ 2 bilhões.

Segundo comunicado, a rede francesa de supermercados precisará de um aumento de capital de no mínimo 900 milhões de euros (US$ 981 milhões). Além disso, a empresa planeja converter sua dívida não garantida em ações como parte de um plano de reestruturação.

As negociações entre a empresa e seus credores estão em andamento desde maio e espera-se que cheguem a um acordo até o final de julho, embora o processo possa se arrastar até outubro.

As ações do Casino caíram até 7,6% nas negociações de Paris desta segunda-feira (26), enquanto os títulos sem garantia da varejista caíram mais de para cerca de 0,12 euros.

Ofertas de investidores

A rede Casino e seu CEO, Jean-Charles Naouri, lutaram muitos anos para manter o equilíbrio financeiro devido ao alto endividamento, mas concordaram em entrar em negociações supervisionadas pelo tribunal com os credores. Dois grupos de investidores já abordaram a empresa, cada um oferecendo injeções de capital de 1,1 bilhão de euros.

Uma das ofertas é liderada pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky, que possui cerca de 10% da empresa francesa. Kretinsky está disposto a investir 750 milhões de euros, desde que o Casino reduza em 3,6 bilhões de euros em empréstimos não garantidos por meio da recompra de títulos e conversão da dívida em ações. A Fimalac também investiria 150 milhões de euros nessa oferta.

Outra proposta é liderada por Xavier Niel, magnata das telecomunicações, juntamente com dois parceiros de negócios. Eles planejam investir até 300 milhões de euros em um plano de resgate mais amplo de 1,1 bilhão de euros. Detalhes sobre como o restante do montante será levantado ainda não foram divulgados.

O Casino possui cerca de 7 bilhões de euros em dívidas e busca converter pelo menos 3,5 bilhões de euros em ações, além de estender o vencimento do restante da dívida. O objetivo é ter liquidez suficiente para executar seu plano de negócios. A empresa está discutindo os termos da conversão com seus credores.

O diretor financeiro, David Lubek, afirmou que o Casino possui recursos suficientes para operar até o final do ano, desde que certas condições sejam atendidas, incluindo o fechamento da venda de algumas lojas para o Groupement Les Mousquetaires.

O Casino pretende fortalecer seus formatos de lojas de conveniência, principalmente as marcas Monoprix e Franprix, como parte de seu plano de negócios.

O Casino continuará com as alienações de ativos, incluindo os restantes na América Latina, participações imobiliárias e uma participação residual na empresa de energia renovável GreenYellow, ao longo deste ano e do próximo.

Acordo com o governo francês

Segundo Charles Allen, analista da Bloomberg Intelligence, o plano de reestruturação do Casino pressupõe, de forma um tanto fantasiosa, que o crescimento na França pode ser reiniciado em torno da conveniência e dos surpermercados urbanos premium depois que 900 milhões de euros em novas ações forem levantados, todas as dívidas não garantidas forem convertidas em ações e os ativos restantes da América Latina forem vendidos.

“A incapacidade de gerar fluxo de caixa livre operacional não está sendo resolvida, de modo que os credores e os novos investidores podem exigir mais controle e um plano que resolva os pontos fracos de longa data”, disse.

Para preservar a liquidez, o grupo chegou a um acordo com o governo francês na semana passada para adiar o pagamento de cerca de 300 milhões de euros em impostos e obrigações de seguridade social com vencimento entre maio e setembro.

Esse valor terá prioridade sobre outras obrigações existentes e será pago na data de conclusão da reestruturação financeira, informou a empresa.

Os conciliadores também pediram a todos os credores financeiros que concordassem com a suspensão de quaisquer pagamentos de juros e outras taxas e parcelas do principal devido durante as negociações da dívida - excluindo swaps, saques bancários a descoberto e outros financiamentos operacionais.

Eles também pediram aos bancos relevantes que renunciassem a qualquer possível inadimplência ou evento de inadimplência cruzada como resultado dessa suspensão, bem como a qualquer violação de cláusulas financeiras nos termos da linha de crédito rotativo em 30 de junho e 30 de setembro.

-- Com informações da Bloomberg Línea. Atualizada para incluir informações sobre a participação do Casino no GPA, fato relevante e desempenho das ações.

-- Com a colaboração de Giulia Morpurgo

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