Estes investidores apostaram antes em startups de IA. E agora miram bilhões

Potencial de aplicação da IA atraiu empreendedores e investidores cuja riqueza disparou com a febre em torno da tecnologia, além de reforçar as fortunas de bilionários já estabelecidos

Sam Altman (à direita), CEO da OpenAI: levado ao estrelato com a startup que atraiu a atenção da Microsoft (Foto: Chris J. Ratcliffe/Bloomberg)
Por Blake Schmidt
24 de Junho, 2023 | 07:30 AM

Bloomberg — Quando o investidor e empreendedor Mustafa Suleyman fez uma parceria com o bilionário fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, no ano passado em uma startup chamada Inflection AI, ele viu o potencial em seu premiado projeto: um chatbot destinado a ser um “companheiro emocional que é gentil, encorajador e racional”.

Agora, investidores com muito dinheiro também passaram a enxergar esse potencial.

Uma rodada de financiamento de US$ 225 milhões em maio de 2022, muito antes de os mercados entrarem em frenesi com a Inteligência Artificial (IA), fez a empresa ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão que caracteriza um unicórnio. A Inflection AI não divulga seu valuation atual, mas Suleyman diz que agora vale bilhões – dando à ele uma fortuna considerável de centenas de milhões de dólares.

Grandes apostas de alguns investidores no potencial da IA, desde a inspeção de infraestrutura até a tradução de idiomas e o reconhecimento de imagem, fizeram com que a riqueza de investidores iniciantes como Suleyman disparasse, ao mesmo tempo em que reforçou as fortunas de bilionários já estabelecidos.

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O maior aumento do ano veio da Nvidia (NVDA), fabricante de chips de IA, cujo fundador, Jensen Huang, quase triplicou seu patrimônio líquido para US$ 38,5 bilhões este ano, de acordo com o índice de bilionários da Bloomberg.

Larry Ellison, da Oracle (ORCL), tornou-se a quarta pessoa mais rica do mundo, enquanto Sergey Brin e Larry Page, co-fundadores do Google (GOOGL), ganharam bilhões depois de anunciarem planos para um bot de bate-papo com inteligência artificial como parte de um mecanismo de busca renovado.

Dados do Pitchbook mostram que US$ 35 bilhões em negócios de IA foram registrados neste ano até maio, com um recorde de US$ 12,8 bilhões provenientes de empresas que trabalham com IA generativa - caso do ChatGPT - ou algoritmos que podem ser usados para criar novos conteúdos, de texto a vídeos. Isso é quase quintuplicar o valor do mesmo período do ano passado.

“Isso é o melhor do capitalismo. Você quer que o capital busque oportunidades e isso impulsiona a criatividade e a invenção”, disse Suleyman. Mas também é um mundo carregado de riscos, com investidores potencialmente investindo em startups superestimadas. “Claro, algumas pessoas vão quebrar a cara”, disse.

O atual frenesi de financiamento decolou em janeiro, quando a OpenAI, empresa fundada por Sam Altman que criou o ChatGPT, estabeleceu o recorde de aporte recebido por startups de IA com um aumento de US$ 10 bilhões da Microsoft (MSFT), levando a um valuation de US$ 29 bilhões.

Mustafa Suleyman, co-fundador da startup Inflection AI: fortuna agora de centenas de milhões de dólares por aposta antecipada em IA (Foto: Marlene Awaad/Bloomberg)

Um dos beneficiários foi a Anthropic, empresa de pesquisa e segurança de IA cofundada pelos irmãos e ex-executivos da OpenAI Daniela e Dario Amodei. A companhia levantou US$ 450 milhões com um valuation de US$ 5 bilhões, a maior em IA desde a OpenAI, com o apoio do Google.

A empresa disse que usará os fundos para tornar a experiência do chatbot mais segura. Com base nas participações minoritárias dos irmãos Amodei, a injeção provavelmente aumentou suas fortunas em centenas de milhões de dólares.

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Boom e queda

Mas, apesar de o boom impulsionado pela internet ter criado grandes fortunas, ele também pode terminar em grandes perdas: o que torna a IA diferente desta vez?

Em 2017, Gregg Johnson, ex-executivo da Salesforce (CRM), ingressou na Invoca, uma empresa que usa IA para inteligência de conversação que permite às empresas rastrear melhor as métricas de vendas e marketing.

A empresa percorreu um longo caminho desde seu humilde começo em 2008: agora tem cerca de US$ 100 milhões em receita recorrente e 400 funcionários, disse Johnson, que é o CEO. No ano passado, ela levantou US$ 83 milhões para um valuation de US$ 1,1 bilhão.

Embora a Invoca tenha um histórico comprovado que remonta a mais de uma década, hoje em dia “muitas empresas estão obtendo quantias insanas com apenas US$ 3 milhões a US$ 5 milhões em receita”, disse.

Johnson e outros líderes do setor temem que a comunidade bancária esteja de volta a “jogar dinheiro em startups de IA de qualquer maneira” como fizeram em 2021, potencialmente abrindo caminho para uma grande liquidação se o dinheiro chegar a players superestimados, disse.

James Penny, diretor de investimentos da TAM Asset Management e um investidor veterano que previu os ventos contrários que agora ameaçam o movimento ESG, ecoou as preocupações de Johnson.

Segundo ele, o cenário atual o lembra dos primeiros dias da bolha tecnológica que estourou em 2000, eliminando mais de 70% de valor do índice Nasdaq.

Embora Johnson e Penny tenham a história a seu favor, a realidade é que construir uma startup de IA é um empreendimento de capital intensivo que dura anos. Os fundadores precisam do dinheiro se quiserem ter uma chance real.

Em 2014, Abhinai Srivastava cofundou a Mashgin, uma empresa que procura trocar os quiosques de pagamento convencionais nas lojas por outros que usariam inteligência artificial e visão computacional para verificar os preços – em essência, substituindo os códigos de barras.

Um grande banco americano logo deu a Srivastava sua grande chance, concordando em instalar os quiosques de caixa de IA em seus refeitórios. O banco acabou instalando milhares deles em seus escritórios de Nova York.

Mashgin agora se expandiu para estádios, incluindo o Madison Square Garden e o Ford Field de Detroit. Lojas de conveniência como Circle K e outros mercados também usam seus quiosques de IA.

No ano passado, o grupo levantou US$ 62,5 milhões com um valuation de US$ 1,5 bilhão, elevando o valor da participação pessoal de Srivastava para mais de US$ 200 milhões.

“Pensamos que levaria de três a seis meses, mas levamos cinco anos para lançar nosso primeiro produto”, disse ele. Provar a viabilidade de um produto no laboratório é uma coisa, mas “o mundo real é mais difícil”.

Risco regulatório

No curto prazo, a regulamentação pode desacelerar os investimentos.

Desde a fundação da OpenAI, Sam Altman assumiu um papel de liderança no debate em torno da regulamentação da IA. A OpenAI está trabalhando ao lado de um seleto grupo de empresas, incluindo Anthropic e Google, para conduzir uma avaliação de sistemas de IA para a Casa Branca.

Claro, ter magnatas da IA ajudando a escrever as regras para sua própria indústria traz desvantagens. A OpenAI fez lobby para que elementos significativos da Lei de IA da Europa fossem diluídos, de acordo com uma reportagem recente da Time.

No final de maio, Altman juntou-se a centenas de outros entusiastas da IA ao assinar uma declaração de uma linha divulgada pelo Center for AI Safety, um grupo de pesquisa sem fins lucrativos: “Mitigar o risco de extinção da IA deve ser uma prioridade global ao lado de outras iniciativas em escala social, como riscos relacionados a pandemias e guerra nuclear”.

Hoffman não assinou a declaração. Mas Suleyman, sim.

Suleyman disse que reconhece as possíveis armadilhas da IA e acredita que os riscos da tecnologia exigem uma regulamentação mais rígida – tanto dos governos quanto das próprias empresas.

“Algumas pessoas vão criar IAs que agem como humanos e tentar convencer as pessoas de que são humanos”, disse ele. “Isso vai turbinar a disseminação da narrativa manipulativa e persuasiva. Teremos que adotar uma abordagem muito mais agressiva em relação à moderação online e à responsabilidade da plataforma.”

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