Opinión - Bloomberg

Este executivo transformou US$ 100 mi em perdas em um negócio bilionário

Sob o comando de Larry Fink, gigante de investimentos BlackRock teve receita de US$ 1,4 bilhão em 2022 com a venda de serviços de tecnologia para clientes institucionais

Larry Fink, CEO da BlackRock (Foto: Stefan Wermuth/Bloomberg)
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Se alguém olhar o relatório anual da BlackRock (BLK), verá que a empresa lhe diz o que faz. “A BlackRock oferece uma ampla gama de serviços de gestão de investimentos e tecnologia para clientes institucionais e de varejo em todo o mundo”, afirma o relatório.

A parte de gestão de investimentos não deveria ser surpresa. Com US$ 9,1 trilhões sob gestão e uma franquia que se estende por todo o mundo, a BlackRock tem uma presença formidável no setor. Em serviços de tecnologia, no entanto, a empresa é menos conhecida.

Além de seu negócio de gestão ativa de ativos (US$ 5,4 bilhões de receita em 2022), de fundos negociados em bolsa, os ETFs (US$ 5,5 bilhões de receita) e de ativos alternativos (US$ 2 bilhões de receita), os serviços de tecnologia contribuíram com US$ 1,4 bilhão.

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É verdade que isso representa menos de 10%, mas no Investor Day da empresa na semana passada, a BlackRock destacou esse negócio e seu papel na sustentação da estratégia geral de crescimento do grupo.

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“Da mesma forma que as organizações de todos os setores deixam de pagar por seus próprios servidores e equipe de suporte e passam a usar provedores de nuvem, os clientes estão fazendo a transição de suas demandas de gestão de investimentos e tecnologia financeira para a BlackRock”, disse o CEO Larry Fink.

De fato, a BlackRock vem fornecendo tecnologia financeira desde antes da invenção da computação em nuvem. A biografia do CEO da Blackstone (BX), Steve Schwarzman, conta a história de como alguns hedges mal calculados levaram o departamento de Fink no First Boston a registrar um prejuízo trimestral de US$ 100 milhões.

A lição que Fink aprendeu quando lançou a BlackRock em 1988 foi a de manter um controle rígido sobre seu back office. Assim, ele desenvolveu um sistema de gerenciamento de risco que seria totalmente integrado ao processo de investimento, chamado Aladdin (“Asset, Liability, Debt and Derivative Investment Network” – “Ativos, Passivos, Dívida e Rede de Investimentos em Derivativos”).

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A função do Aladdin era fornecer uma visão geral abrangente dos riscos das carteiras da empresa; ele se tornou essencial para a manutenção de posições, registros e controle de riscos.

Em 1994, a empresa percebeu uma oportunidade de alugar o sistema para terceiros. “As pessoas tinham muitos títulos hipotecários que haviam comprado e não dispunham de tecnologia para entender o que haviam comprado”, disse Rob Goldstein, diretor de operações da BlackRock. Começamos a receber ligações de pessoas dizendo: “vocês podem dar uma olhada na minha carteira e dizer o que acham?”

O primeiro cliente foi a General Electric (GE), e logo se juntaram Freddie Mac e outras empresas. No final de 1998, a empresa fazia análises de risco para 10 clientes, cobrindo mais de US$ 400 bilhões em ativos.

Quando a crise financeira estourou em 2008, a BlackRock estava pronta para ajudar. A empresa foi contratada pelo Fed quando assumiu os ativos do Bear Stearns e, em seguida, pelo Tesouro no resgate do setor. Até o final de 2008, os serviços da Aladdin eram utilizados por 135 clientes, cobrindo US$ 7 trilhões em ativos.

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O sistema Aladdin atualmente tem mil clientes. Ele está presente na área de trabalho de 77 mil consultores financeiros e mais de 50 mil outros profissionais em 70 países. Se existe um sistema operacional comum que sustenta o setor de gestão de ativos do mundo, é esse (a Bloomberg LP, controladora da Bloomberg Opinion, compete no mercado de produtos para a gestão de portfólio).

Para a BlackRock, o Aladdin é um negócio lucrativo que gera um fluxo de receita recorrente. Sudhir Nair, que administra o sistema, avalia seu mercado-alvo em US$ 12,5 bilhões, representando o que a comunidade de investidores institucionais gasta em tecnologia para apoiar o processo de investimento.

Ele calcula que pode aumentar sua participação de 11% nesse mercado ao conquistar novos clientes e expandir para novas áreas, como mercados privados e contabilidade. Se conseguir captar todo o mercado, seu negócio se igualará ao tamanho do negócio tradicional de gestão de ativos da empresa.

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“A carteira do futuro é mais holística”, diz ele. “Ela combina renda fixa e ações, ativo e passivo, público e privado. É eficiente em termos de impostos e sensível às preferências individualizadas em relação à sustentabilidade. Esse é um ótimo resultado para os investidores, mas fundamentalmente quebra grande parte da infraestrutura de tecnologia e dados sobre a qual nosso setor foi construído”. Segundo ele, o Aladdin conserta isso.

Sudhir Nair não menciona esse fato, mas há outro acontecimento que pode consolidar a posição do Aladdin. No momento, as empresas que prestam serviços de tecnologia para o setor financeiro não estão sujeitas ao mesmo tipo de análise regulatória que seus clientes. Mas uma nova lei que entrará em vigor no início de 2025 mudará isso.

A Lei de Resiliência Operacional Digital da União Europeia oferece aos reguladores uma supervisão mais rigorosa de empresas como o Aladdin, que atendem a companhias de serviços financeiros. Embora possa não gostar do escrutínio adicional, o Aladdin tem a escala para absorver os custos de conformidade associados, o que lhe dá uma vantagem sobre concorrentes menores.

Após evitar ser designada como uma instituição financeira sistemicamente importante no passado, uma designação semelhante em sua unidade de tecnologia pode ser um catalisador para o crescimento. A BlackRock é grande, mas o Aladdin tem potencial para ser ainda maior.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Marc Rubinstein é ex-gestor de fundos hedge. Ele escreve a newsletter financeira semanal Net Interest.

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