Volks muda estratégia para conciliar retorno maior com avanço em elétricos

Maior montadora da Europa vai delegar maior poder decisão para suas principais marcas, como a própria VW e a Audi, mirando metas de economia de custos e eficiência

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Bloomberg — O CEO da Volkswagen deu à empresa a tarefa de aumentar os retornos, ao mesmo tempo em que acelera a transição para carros elétricos que ainda são menos lucrativos do que seus irmãos com motor a combustão.

Até 2030, a VW buscará aumentar a margem do grupo para a faixa entre 9% e 11%, em comparação com os 8,1% do ano passado. Grande parte do sucesso desse impulso dependerá de consertar a marca VW, que fez apenas um progresso limitado na melhoria dos retornos, com margens ainda atrás de concorrentes como a Stellantis (STLA).

Para chegar lá, a maior montadora da Europa entregará mais poder de decisão aos seus quatro grupos de marcas, permitindo que criem seu próprio roteiro personalizado para atingir metas de economia de custos e eficiência.

A aposta é que, por conta própria, empresas como Audi, VW e Skoda serão mais ágeis em lidar com estruturas inchadas que há muito retardam a tentativa da gigante automotiva de alcançar os líderes no mercado de veículos elétricos, a Tesla (TSLA) de Elon Musk e a chinesa BYD.

“Estamos enfrentando novos entrantes que estão avançando agressivamente nos mercados internacionais”, disse o CEO Oliver Blume nesta quarta-feira (21) durante reunião com investidores no autódromo de Hockenheimring, conhecido pelos brasileiros como Hockenheim, na Alemanha. “É por isso que também precisamos mudar em alta velocidade.”

A aposta é elevada.

A VW, embora ainda apresente fortes lucros impulsionados por suas marcas Porsche e Audi, perdeu sua liderança de vendas na China depois de mais de duas décadas. Problemas de software irritaram os clientes e atrasaram a entrega de modelos lucrativos, como o elétrico Porsche Macan e a Cayenne.

Os grupos de veículos de luxo e de mercado de massa da VW implementarão seus próprios programas para aumentar as margens com uma linha mais ampla de veículos elétricos e uma série de cortes de custos liderados por eficiências de fábrica e mão-de-obra.

O grupo ainda tem como meta o crescimento anual das vendas de 5% a 7% em média até 2027, e um fluxo de caixa automotivo entre € 6 bilhões (US$ 6,6 bilhões) e € 8 bilhões neste ano.

“É como em uma academia”, disse Blume, em que “todos da equipe estão treinando e, à medida que todos ficam mais em forma, o Grupo Volkswagen também fica”.

Alcançando esses objetivos, particularmente em economia de custos para aumentar os retornos da marca VW para um recorde de 6,5% até 2026, Blume precisará alinhar as muitas “facções” da VW - da família bilionária Porsche-Piech aos poderosos sindicatos trabalhistas da Alemanha, que podem diluir significativamente o impacto de quaisquer medidas.

A VW também iniciou uma revisão de € 15 bilhões em investimentos estratégicos e financeiros com opções, incluindo vendas de ativos, disse o diretor financeiro (CFO) Arno Antlitz.

Enquanto a VW se realinha, a concorrência não para.

A Stellantis planeja iniciar as vendas do Citroen ë-C3 com preço inferior a € 25.000 a partir do início do próximo ano. O ID.2 da VW, visando o mesmo nível de preço, não chegará aos showrooms em menos de mais alguns anos, com as montadoras europeias lutando para criar EVs (veículos elétricos) acessíveis que gerem retornos suficientes devido aos altos custos da bateria.

A próxima plataforma de veículos elétricos da VW a partir de 2026 deve entregar veículos com margens em paridade com a maioria dos modelos de motores de combustão equivalentes em todos os segmentos, disse Blume a analistas na quarta.

Para impulsionar a mudança, a montadora tenta garantir o fornecimento de baterias estabelecendo fábricas na Alemanha, na Espanha e no Canadá e está gastando € 20 bilhões nesta década para transformar sua unidade de bateria PowerCo, que tem um ano de vida, em um gigante com capacidade de produção de células para 3 milhões de carros elétricos por ano.

Na China, onde a VW enfrenta uma concorrência mais acirrada de rivais locais apoiadas pelo estado, como a BYD e a Nio, a montadora alemã almeja manter a participação de mercado praticamente estável em 15% - uma tarefa difícil, já que seus EVs tiveram um desempenho ruim lá.

Apesar dos desafios, a empresa mantém poder de fogo de investimento significativo. A VW destinou € 180 bilhões como parte de um plano contínuo de cinco anos que será gasto em software, veículos elétricos e na recuperação de seus negócios na China.

No médio prazo, o ritmo de gastos deve desacelerar, disse a empresa na quarta. A taxa de investimento do grupo cairá para menos de 11% até 2027 e para cerca de 9% até 2030, afirmou.

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