Santander: fundos estão otimistas ‘sem convicção’ e há pouco prêmio após rali

Em entrevista à Bloomberg News, Luiz Masagão, diretor de Tesouraria do Santander, avaliou que grande parte do rali da bolsa brasileira já aconteceu

Painel de ações da B3, em São Paulo
Por Felipe Saturnino
21 de Junho, 2023 | 01:41 PM

Bloomberg — A maior parte dos ativos brasileiros já teve grande valorização e agora há um espaço menor para uma melhora adicional, disse Luiz Masagão, diretor de Tesouraria do Santander (SANB11). Para ele, a indústria de fundos ficou otimista “sem convicção” – o que traz uma ameaça de piora rápida dos mercados.

“Não tem mais quase prêmio nenhum, está difícil de operar”, afirma Masagão em entrevista à Bloomberg News. “O cenário está mais otimista, então o mercado se antecipou, comprou e colocou quase tudo no preço. Já tem muito corte na curva.”

O mercado de juros futuros, que já precifica a Selic abaixo de 10% em 2024, “não está tão óbvio” para manter posições que se beneficiam de uma queda das taxas, disse Masagão.

Segundo ele, o Copom poderia indicar corte em agosto no comunicado desta reunião [a entrevista foi antes do Copom de junho] diante da melhora da inflação e do início da reancoragem das expectativas. Entretanto o comitê não iniciará o processo de corte com “velocidade acelerada”.

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Ele afirmou que um “pedaço grande” da valorização do real já ocorreu, em meio à perspectiva macroeconômica favorável com crescimento forte e fluxo de investimentos. Uma queda adicional do dólar em direção ao patamar de R$ 4,50, porém, segue na mesa em razão do alto nível de estocagem pelos produtores agrícolas.

“Pelo baixo preço das commodities, os produtores preferem não vender tanto assim e a venda futura da super safra ainda está para acontecer”, disse Masagão. “Ainda tem muito dólar para entrar aqui.”

Fundos “sem convicção”

A despeito da tendência de melhora do câmbio, Masagão avaliou que é difícil manter posições grandes no momento porque há um risco de uma piora rápida dos preços — e a indústria de fundos brasileira é a razão dessa cautela.

“A indústria de fundos está otimista sem convicção, ela pulou no barco otimista porque foi forçada por um mercado que andou no sentido contrário e porque não está com uma performance boa no ano”, disse Masagão.

Ele afirmou que os fundos montaram posições a preços não tão bons, o que gera um risco de assimetria: se houver algum evento negativo, pode haver uma saída muito acelerada das posições. “O mercado pode piorar muito mais rápido do que melhorar.”

Segundo ele, os fundos iniciaram o ano pessimistas pela visão com o cenário político e econômico e viram a melhora nos preços se dar com a evolução positiva do ambiente externo e a queda da inflação local.

O mercado mais vulnerável nesse sentido seria o de juros futuros, dado seu tamanho e a sua liquidez, avaliou.

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América Latina

Masagão, que se tornou chefe de mercados de América Latina do Santander em abril, disse que o cenário de pausa do aperto do Federal Reserve traz um viés otimista aos ativos globais e aos mercados da região.

Os ativos latino-americanos se beneficiam em razão dos múltiplos baratos depois do desempenho abaixo da média nos últimos anos. Ele disse ver um período de médio e longo prazo de maior otimismo para a região em relação a fluxos de investimento.

“O México é um caso muito bom devido ao nearshoring: é potencial de PIB, é investimento e apreciação do câmbio”, afirma. “Mas lá o mercado tem menos prêmio que o Brasil, a curva tem muito corte e o peso mexicano está melhor do que no pré-pandemia.”

Segundo ele, a hora é de apostar no peso chileno em meio às intervenções do banco central do país para comprar dólar, enquanto a Colômbia tem os ativos com o maior risco da região em meio à incerteza doméstica.

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