Títulos de empresas de países emergentes em dólar estão mais baratos que ações

Para analistas, inversão nos preços indica que os títulos privados podem começar a ter um desempenho superior ao das ações com a proximidade do corte de juros

Vista dos prédios na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo
Por Srinivasan Sivabalan
20 de Junho, 2023 | 02:21 PM

Bloomberg — A dívida em dólar das empresas de mercados emergentes ficou mais barata do que as ações, e promete um rendimento melhor, em uma inversão rara vista pela última vez após a crise financeira global.

O índice de ações de mercados emergentes da MSCI caminha para um ganho de quase 6% este mês, uma alta seis vezes maior do que os ganhos do indicador da Bloomberg para dívida corporativa de emergentes em dólar.

Com isso, quem compra os papéis agora terá um rendimento médio de 7,3%, baseado na relação entre estimativas de lucro por ação e preço. Para os títulos, o rendimento é de 7,7%. A última vez que a dívida corporativa de emergentes ficou mais barata, com yields mais altos, foi durante a crise de 2008 até abril 2010.

A inversão é resultado tanto do rali das ações quanto de uma depreciação dos títulos corporativos em meio a preocupações com inflação e aperto monetário. Para alguns investidores, isso é um sinal de que os títulos podem começar a ter desempenho superior, especialmente porque os principais bancos centrais estão mais próximos do fim de seus ciclos de aumento de juros e, em alguns países como Brasil, já há expectativa de cortes em breve.

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“O crédito parece posicionado para oferecer fortes retornos ajustados ao risco”, disse Anders Faergemann, gestor sênior da Pinebridge Investments em Londres. “Preferimos títulos no ambiente atual, já que o Fed fez a maior parte do trabalho.”

A história apoia os investidores que apostam que os títulos vencerão ações daqui em diante.

Nos 10 anos até março de 2020, a década que seguiu a última inversão entre os rendimentos das ações e da dívida externa de empresas de mercados emergentes, os títulos corporativos tiveram uma valorização de 59%, enquanto a renda variável caiu 16%.

Os títulos ganharam graças aos seus rendimentos positivos em um regime de juros próximos de zero. As ações, por outro lado, foram atingidas pela crise da dívida da zona do euro, desaceleração do crescimento na China, choques no preço do petróleo, e uma guerra comercial iniciada pelos EUA e a pandemia de Covid.

O rendimento médio dos títulos corporativos em dólar aumentou 0,69 ponto percentual este ano, com uma recuperação mais lenta do que o esperado na China e problemas bancários nos EUA levando os investidores a se desfazerem de ativos mais arriscados.

“Os títulos corporativos ficaram atrás do rali dos soberanos de alto rendimento nas últimas semanas, sem motivo aparente”, disse Faergemann. “Os fundamentos continuam muito favoráveis, com balanços fortes e índices de alavancagem corporativa em mínimas de uma década.”

Enquanto isso, o rali das ações se concentrou em poucas ações. Apenas três nomes — Taiwan Semiconductor Manufacturing, Samsung e Tencent — responderam por 50% dos ganhos do índice MSCI de ações de emergentes este ano.

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Quando as ações de tecnologia e consumo perderem força, e os investidores precificarem um Fed menos hawkish, a estranha equação que vemos agora entre ações e títulos pode se inverter.

“Os spreads corporativos de emergentes oferecem compensação por qualquer inadimplência, que esperamos que seja mínima fora da China e da Rússia este ano”, disse Faergemann. “Em um mundo em que o Fed pode manter as taxas estáveis por um tempo, os investidores devem procurar garantir os rendimentos mais altos.”

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