Bloomberg — Em menos de um ano, a indústria global de aviação passou da quase aniquilação para um entusiasmo exuberante. Frotas encalhadas e enormes prejuízos das empresas deram lugar a lucros altos, e as companhias aéreas estão superando umas às outras com pedidos recordes de encomendas de novas aeronaves.
Nesta segunda-feira (19), a IndiGo, da Índia, concordou em comprar 500 aviões da Airbus, superando um recorde estabelecido apenas alguns meses atrás pela concorrente Air India. Isso se soma às grandes compras da Ryanair e da companhia novata saudita Riyadh Air no início deste ano, com acordos anunciados que se aproximam de 1.500 aeronaves no total.
Mas, enquanto um grupo de executivos mostra sua força corporativa, outros veteranos do setor alertam que o mercado está mostrando sinais de superaquecimento e que isso pode não ser sustentável.
“Temos empresas inundando o mercado com um grande número de aviões. Só espero que eles estejam fazendo isso direito”, disse Akbar Al Baker, diretor executivo da Qatar Airways.
Al Baker é um cliente proeminente tanto da Boeing quanto da Airbus, com um longo histórico de fechar seus próprios negócios espetaculares. Assim como Steve Udvar-Hazy, pioneiro no leasing de aeronaves e cofundador da Air Lease Corp.
“É um pouco uma mentalidade de rebanho que não é justificada pela economia ou pela realidade”, disse Udvar-Hazy em entrevista na Paris Air Show, a principal feira da indústria. “Mas isso é normal no setor aéreo.”
Ambos dizem que estão interessados em completar a já volumosa lista de encomendas: cerca de 400 aviões no caso da Air Lease, com sede em Los Angeles. Al Baker, da Qatar Airways, por sua vez, disse que não tem pressa.
Os dois executivos foram ofuscados pelas companhias aéreas que planejam um crescimento explosivo nas viagens da Ásia e da Europa.
A enxurrada de pedidos, que começou quando a indústria de viagens se recuperou da covid-19 nos EUA, deixou o 737 Max da Boeing praticamente esgotado até 2028, e a Airbus terá poucos pontos de entrega abertos antes de 2030.
Conseguir a aeronave encomendada também não será fácil. Tanto a Airbus quanto a Boeing estão com dificuldades para aumentar a produção, pois continuam enfrentando problemas na cadeia de suprimentos e com a falta de mão-de-obra qualificada.
Mas as companhias aéreas temem que, se não fizerem pedidos em breve, terão que se juntar ao final de uma fila que está crescendo, potencialmente perdendo um aumento de viagens que não mostra sinais de diminuir.
“Eles são como crianças em uma loja de doces”, disse Udvar Hazy sobre o frenesi de compras. “Essa é a indústria aérea.”
A compra da Airbus de 500 jatos revelada pela IndiGo amplia a carteira de pedidos da maior transportadora da Índia para cerca de 1.000 aeronaves não entregues.
Ainda mais transações estão atrasadas nas sessões de negociação no principal evento do setor, que alterna sua realização entre Paris e Londres. A Turkish Air avalia um acordo de 600 jatos, enquanto a Riyadh Air, da Arábia Saudita, considera adicionar até 400.
“Estamos sempre no mercado, mas não faremos grandes pedidos irracionais apenas para obter publicidade”, disse Udvar-Hazy.
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