Relógios pequenos ganham espaço no mercado de luxo em 2023

Novos modelos apresentados por fabricantes têm menos de 40 milímetros – inclusive aqueles de marcas que tradicionalmente traziam modelos grandes

Tudor Black Bay 54 com 37 milímetros apresentado na feira Watches and Wonders
Por Carol Besler
18 de Junho, 2023 | 12:41 PM

Bloomberg — Desde a invenção do relógio de pulso, os fabricantes se perguntam sobre qual tamanho é o melhor. Grande e chamativo ou menor e mais discreto? No momento, os fabricantes estão optando pelo último – uma tendência que veio com tudo na “Watches and Wonders”, a feira anual de relógios de luxo em Genebra. Mais de uma dúzia de marcas receberam novas linhas de produtos em tamanhos pequenos – ou receberam versões menores de modelos populares.

Assim como na moda, os relógios passam por ciclos. Para os homens, os relógios começaram sendo grandes, já que os primeiros eram relógios de bolso com correntes. Louis Cartier fez uma versão inicial em 1911 para seu amigo, o aviador Alberto Santos Dumont, que estava cansado de ter que arrancar seu relógio de bolso enquanto pilotava.

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Não demorou muito para que os relojoeiros percebessem que um enorme relógio de pulso era pesado e desnecessário, então eles começaram a reinventar as peças em uma escala menor.

Começando no final dos anos 40 e continuando até os anos 50 e 60, os relógios ficaram em torno de 35 a 38 milímetros de diâmetro, constituindo a maior parte dos modelos mais procurados atualmente.

Por volta do final dos anos 90, quando os relógios mecânicos estavam emergindo da crise do quartzo e passando pelos estágios iniciais de uma recuperação multibilionária, eles voltaram a ficar grandes.

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Foi uma transformação causada inicialmente pela popularidade do cronógrafo, que exigia uma grande tela para seus contadores e uma moldura grossa para garantir a resistência à água esperada de um relógio esportivo. Essa se tornou uma tendência da moda, e até mesmo os relógios de quartzo estavam ficando enormes – os modelos da Panerai Luminor podiam chegar a 47 milímetros.

Os relógios e cronógrafos com bússolas também estabeleceram um padrão para relógios grandes: o Ingenieur, da IWC, atingiu os 45 milímetros, assim como o modelo Pilot, da Zenith, mesmo a variedade não-cronógrafo. A Diesel fabricou um cronógrafo em 2013 cuja moldura chegou aos 76 milímetros.

Era impossível haver modelos maiores. Quando a casa de leilões Phillips in Association With Bacs & Russo vendeu o Rolex Daytona 6239 de Paul Newman, feito em 1964, por um recorde de US$ 17,7 milhões em 2017, ela desencadeou uma obsessão por modelos vintage que ainda está em alta. O modelo, com 37 milímetros, trouxe os relógios menores de volta à moda.

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Desde então, os relógios menores se tornaram mainstream. Diversas releituras de modelos vintage foram apresentadas na Watches and Wonders, com diâmetros entre 32 milímetros e 40 milímetros.

O Glass Box Carrera da TAG Heuer, por exemplo, tem agora 39 milímetros. O modelo foi inspirado estilisticamente pelos Carreras originais dos anos 60, que variavam de 36 a 40 milímetros.

De maneira semelhante, a Tudor revelou o modelo Black Bay 54 com elementos do original de 1954, incluindo o tamanho de 37 milímetros.

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Por um tempo nas últimas décadas, um relógio desse tamanho estaria na seção feminina da loja – mas o Black Bay original, desse tamanho, foi usado pelas marinhas francesa e americana nos anos 60 e 70.

O L.U.C 1860 da Chopard de 36,5 milímetros é inspirado no modelo original de 1997. E o Pasha, da Cartier – cultuado modelo dos anos 80 – foi apresentado em uma versão de 35 milímetros este ano.

A IWC honrou sua linha Ingenieur este ano, fazendo uma releitura do modelo criado pelo mestre Gerald Genta em 1976, em seu tamanho original de 40 milímetros – um relógio que era considerado tão grande na época, que foi apelidado de Jumbo.

Loja da IWC em Paris

A Piaget, por sua vez, apresentou uma versão unissex de 36 milímetros de seu modelo Data Polo, menor que o padrão de 42 milímetros. Um comunicado à imprensa dizia que o modelo se destinava a “encapsular o estado de espírito atual”.

Até mesmo os relógios com bússolas, que são grandes porque precisam ser legíveis, estão diminuindo. A Zenith apresentou um modelo com 40 milímetros este ano.

Os novos modelos também estão ficando menores, e isso tem a ver com a moda. O modelo Big Bang da Hublot – que lançou a moda dos relógios maiores nos anos 90 – não será maior que 45 milímetros. Uma nova versão, Spirit of Big Bang, foi lançada com 32 milímetros este ano e não consta na lista de modelos femininos.

A Panerai, outra marca conhecida por suas amplas proporções, lançou o Radiomir Quaranta (”40″ em italiano) com 40 milímetros este ano. Para algumas marcas, reduzir um relógio para 40 milímetros não é nenhuma surpresa ou desafio. Mas o tamanho médio de um relógio Panerai é 45 milímetros, e a marca fabrica rotineiramente relógios de 47 milímetros.

“Somos líderes mundiais em relógios grandes, mas o Radiomir Quaranta é um novo clássico para a Panerai – e tanto mulheres quanto homens podem usar”, diz o CEO Jean-Marc Pontroué. “No ano passado lançamos o Luminor Quaranta [de 40 milímetros] e foi um grande sucesso. Constatamos que 60% dos consumidores eram homens e 40%, mulheres, o que não esperávamos”.

Danny Govberg, presidente da WatchBox, diz que uma nova onda de colecionadores é parte do motivo da mudança. “Não é apenas um amor por modelos vintage”, diz ele. “Trata-se da próxima geração de compradores. Pessoas como meu filho querem um relógio mais confortável”.

É uma preferência que funde o design atual com um novo senso de neutralidade de gênero, ao ponto de algumas marcas terem abandonado a tradição de classificar os relógios em seus sites e catálogos como sendo femininos ou masculinos. As buscas podem ser feitas de acordo com o tamanho, material e estilo.

“Estamos vendo mais relógios unissex e em tamanhos menores”, diz o CEO da WatchBox, Justin Reis. “Vemos isso na Cartier, nos modelos menores de Tank e Pasha, a popularidade do Crash. Nós já vimos isso na Audemars Piguet e em seu lançamento este ano dos modelos Royal Oak de 37 milímetros e 39 milímetros, que anteriormente tinham 44 milímetros ou mais”.

Os homens estão usando o que costumava ser definido como relógios femininos, diz ele, uma distinção que muitas vezes levava em consideração apenas o tamanho. “Eles querem algo mais elegante, mais refinado”, diz Reis. “O que não significa que eles queiram algo leve em termos de substância. Eles ainda querem as funcionalidades, mas querem que elas sejam menores”.

“Quando lançamos o Tonda PF automático de 36 milímetros no ano passado, ele era destinado originalmente para mulheres, mas muitos homens estavam buscando esse tamanho, principalmente colecionadores”, diz Guido Terreni, CEO da Parmigiani Fleurier. “Pelo mesmo motivo, muitas mulheres passaram a se interessar por nossos relógios de 40 milímetros.”

Entre os colecionadores de relógios Parmigiani, Terreni notou uma preferência por modelos menores. “Acho que peças grandes não são mais consideradas muito refinadas”, diz ele.

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