Localiza: por que a líder em locação de veículos vai precisar de R$ 4,5 bi

Companhia anunciou um follow-on com planos de compra de veículos e expansão da rede em momento de incertezas no mercado; ações recuam perto de 3% hoje

A companhia mira caixa robusto para renovar a frota e ampliar a rede
16 de Junho, 2023 | 03:05 PM

Bloomberg Línea — A Localiza (RENT3) anunciou nesta sexta-feira (16) pela manhã uma oferta subsequente de ações (follow-on) de até R$ 4,5 bilhões para a compra de veículos, expansão da rede e investimentos em tecnologia. Mais do que apenas administrar sua frota de veículos, fruto da absorção do negócio de terceirização da Unidas, a companhia precisará de capital para operar em um mercado pressionado pelos preços elevados dos carros e pela retração no varejo de automóveis.

O reflexo para a operação deve acontecer a partir de 2024, afirmou uma fonte familiarizada com o assunto, com a frota renovada de forma acelerada e um custo financeiro mais baixo.

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Com uma frota total de 583 mil veículos – quase o triplo do tamanho da vice-líder do mercado, a Movida (MOVI3) –, a Localiza passou a ter uma operação considerada “colossal” para administrar após a conclusão da fusão com a Unidas em julho do ano passado.

O gigantismo vem acompanhado de desafios. Para renovar uma frota tão grande, a companhia precisa de caixa robusto para comprar carros. Apesar da ajuda esperada do governo para baixar os preços do zero quilômetro, os veículos continuam muito mais caros do que há dois anos - de 2021 para cá os preços médios do mercado subiram cerca de 50%, segundo a consultoria JATO Dynamics.

Também não basta querer renovar a frota: é preciso ter condições favoráveis de mercado para vender os carros antigos e abrir espaço para receber os novos. Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, as lojas de seminovos das locadoras enfrentam dificuldades para vender em meio ao aperto no crédito ao consumidor, diferentemente do boom registrado em 2021 e início de 2022.

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Nesse cenário, as empresas de locação estão perdendo margens no segmento de seminovos, pois estão recorrendo muito mais ao atacado (lojas de revendas), relatou um executivo do setor. Apesar do pagamento à vista ou no curtíssimo prazo, os descontos são muito maiores.

Além disso, quando a locadora fecha uma compra com uma montadora, precisa desativar volumes grandes de carros em um curto espaço de tempo, o que demanda planejamento e logística afinados: a escolha dos veículos mais adequados não quer dizer que necessariamente estarão próximos um dos outros. No caso da Localiza, a rede está espalhada pelo país todo.

Preparar esses carros, que podem ter avarias, problemas ou manutenções a receber, também é um desafio para a desmobilização. Neste contexto, é esperado que haja pressão nos preços dos seminovos da Localiza devido ao aumento da desativação da frota mais velha, afirmou uma fonte familiarizada com o assunto. Em sua visão, a companhia deve sacrificar margens para desovar os estoques e aumentar a velocidade da substituição da frota.

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Na relação com as montadoras, a expectativa é que a Localiza tenha elevado poder de barganha, em um momento de baixa da indústria automotiva. Com os recursos do follow-on, se bem-sucedido, a locadora deve garantir a “calendarização” das vendas, o que no jargão do setor significa a programação, junto a cada montadora, do que a empresa de locação vai receber mês a mês.

No entanto, apesar da vantagem, as montadoras ainda não voltaram a conceder os descontos do período pré-pandemia, relatou uma fonte do setor. Com preços mais altos e descontos menores, as locadoras estão mais pressionadas.

Demanda

No início deste ano, a associação que representa as locadoras, a Abla, projetava compras de 550 mil veículos pelas empresas de locação em 2023, ante projeção anterior de 700 mil unidades. Para a entidade, o desempenho do setor vai depender da renda do consumidor para locação de veículos.

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“Hoje, é difícil falar de previsão de compras enquanto o governo não confirmar a participação de pessoas jurídicas no pacote de incentivos para compra de carros”, afirmou o conselheiro gestor da Abla, Paulo Miguel Jr.

Segundo o dirigente, as locadoras estão pedindo, neste momento, para as montadoras não faturarem os carros até a definição das regras dos descontos do novo programa para o setor.

Paralelamente, as locadoras têm o desafio de estabelecer um tíquete médio que dê lucratividade à operação e garanta o financiamento de novos veículos: as empresas precisam evitar ao máximo o envelhecimento da frota, que gera mais custos de manutenção.

Para um executivo do setor de locação, as empresas estão conseguindo repassar custos mais altos com manutenção e carro zero mais caro nas tarifas ao consumidor, mas dificilmente vão comprar volumes muito maiores de veículos, porque as diárias não devem remunerar.

De acordo com o analista Stephen Trent, do Citi, grandes ofertas de ações normalmente não ocorrem quando as empresas acham que seus papéis estão subvalorizados; que o fluxo de caixa operacional é robusto; ou que o mercado está em baixa.

“O Citi vê melhores oportunidades de risco/recompensa no setor de transportes brasileiro fora do mercado de aluguel de carros”, disse em relatório nesta sexta-feira.

As ações recuavam cerca de 3%, para R$ 64,70, no meio da tarde desta sexta. No ano, a alta acumulada se aproximava dos 30% e, em 12 meses, de 25%.

A oferta da Localiza é destinada exclusivamente a investidores profissionais e tem o Itaú BBA como coordenador líder. Participam também Bradesco BBI, BTG Pactual, UBS BB, Santander, Bank of America, Safra e XP. Inicialmente, a oferta consistirá em 60 milhões de ações, que pode ser acrescida em até 12,5%, dependendo das condições da demanda.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.