Com novo CEO, Carlyle mira expansão e quer depender menos dos bancos

Sob o comando de Harvey Schwartz, empresa de private equity pretende enxugar custos com taxas aos bancos de investimento oferecendo parte do crédito por conta própria

“Por que ainda não somos maiores?”
Por Dawn Lim
16 de Junho, 2023 | 04:56 PM

Bloomberg — O Carlyle Group é um player pequeno no financiamento de empresas, mas seu novo CEO Harvey Schwartz aposta que a boutique de private equity pode fazer mais para competir com os bancos.

O executivo, um veterano de Wall Street, pediu à sua equipe que elaborasse um plano para desenvolver um negócio que garanta financiamentos às empresas. Ao expandir a unidade que atua como um banco de investimento interno, o Carlyle pode controlar seus custos e recuperar parte dos cerca de US$ 1 bilhão em taxas anuais que paga aos bancos.

“É uma espécie de espaço em branco óbvio”, disse Schwartz, ex-co-presidente do Goldman Sachs, em uma conferência com investidores neste mês. “Por que ainda não somos maiores?”

Há quatro meses no cargo, o CEO tem o mandato de aumentar o preço das ações da Carlyle e preparar a empresa para um crescimento estável após anos de rotatividade de liderança. Schwartz, 59 anos, está elaborando uma estratégia ampla e sugerindo negócios que podem se expandir.

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Um deles é seu braço de mercado de capitais, que gerou cerca de US$ 50 milhões no ano passado, administrando as dívidas das empresas de seu portfólio. Bancos e outras empresas de investimento têm presenças muito maiores nesse negócio. O maior rival não bancário do Carlyle, a KKR & Co., está nisso há mais tempo e faturou US$ 600 milhões no mercado de capitais em 2022.

A Carlyle pretende obter mais controle sobre os financiamentos, à medida que os bancos controlam os empréstimos e protegem seus balanços em uma economia em desaceleração. Alguns bancos regionais provavelmente recuarão ainda mais à medida que novos regulamentos se aproximam: uma leva de bancos teria que aumentar os pré-requisitos para oferecer capital, já que há mais exigência à vista.

O recuo dos bancos pode acelerar o avanço do private equity na oferta de empréstimos. Como são livres das regulamentações dos bancos, empresas como o Carlyle, com sede em Washington, aproveitam o momento para expandir suas atividades para além das áreas tradicionais de M&A (fusões e aquisições).

O Carlyle lançou sua unidade de mercado de capitais em 2018. Ela é liderada por Brian Lindley, que foi sócio do braço de aquisições da empresa e passou quase uma década no Royal Bank of Scotland, assinando empréstimos para negócios de private equity. O grupo ajuda a estabelecer e emitir mais de US$ 30 bilhões em financiamentos a cada ano para as empresas do portfólio do Carlyle.

Essa unidade pode ajudar a empresa a contornar os bancos, arranjando financiamento e gerindo a dívida com credores privados por conta própria. Recentemente, por exemplo, o Carlyle fez exatamente isso com um empréstimo para apoiar a compra de um rival pela empresa de software HireVuel.

O negócio no mercado de capitais também pode compensar uma parte das taxas de Wall Street trabalhando ao lado dos bancos na precificação de empréstimos e encontrando compradores. O Carlyle recupera cerca de 10% das taxas que paga em um ano aos bancos de investimento e pretende aumentar para capturar cerca de 20% ao longo do tempo. A empresa trabalhou com vários bancos, por exemplo, para estender um acordo de empréstimo de US$ 2,5 bilhões à gigante química Nouryon.

O Carlyle tem uma equipe e acesso a balanços internos e externos para conseguir fazer mais, disse Schwartz na conferência com investidores. Em um acordo estratégico importante, a empresa adquiriu uma participação no negócio de seguros Fortitude Re, das Bermudas, e assessora a empresa em suas reservas.

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Até agora, o Carlyle concentrou seu negócio em assinaturas com “empresas de portfólio”. As discussões sobre a construção de uma frente do mercado de capitais pela empresa estão em um estágio inicial, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.

Impacto dos juros

Essa expansão não é isenta de riscos. A unidade pode tomar empréstimos a partir de um balanço específico pouco antes de começar a distribuí-los a um amplo grupo de credores e aos próprios fundos da empresa. Se o Carlyle fechar negócios enquanto os mercados de repente azedam, a empresa pode ficar sobrecarregada com excesso de empréstimos que não pode vender.

Uma grande expansão poderia expor os resultados do Carlyle à mudança no ritmo das negociações, que caiu recentemente à medida que o aumento das taxas de juros torna as dívidas mais caras. Essa exposição pode pressionar a empresa a diversificar ainda mais seus negócios.

O Carlyle também corre o risco de competir de forma muito agressiva com os bancos de investimento e afastar grandes financiadores para seus negócios.

Apesar dos riscos, Schwartz expressou confiança de que o braço de mercado de capitais da Carlyle deve se expandir.

“Essa é uma área em que podemos crescer porque temos toda a matéria-prima”, disse ele na recente conferência.

É um negócio que Schwartz conhece. No Goldman Sachs, ele co-liderou uma empresa que financiava empresas, entre outras funções, antes de se tornar co-presidente. Ele saiu depois de ser preterido para assumir como CEO.

Agora que está no Carlyle, Schwartz terá que administrar a pressão de Wall Street.

“Ampliar as capacidades dos negócios de mercado de capitais é uma ‘fruta’ fácil de alcançar”, disseram os analistas da Evercore ISI em nota neste mês. “Os mercados de capitais da Carlyle devem ser muito maiores.”

- Com a colaboração de Lisa Lee.

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