Bloomberg — Investidores têm abocanhado ações brasileiras à medida que o Banco Central do Brasil parece se aproximar do início de um ciclo de flexibilização monetária. A Fidelity Investments e um punhado de fundos multimercados estão aumentando a exposição às ações brasileiras, convencidos de que uma redução da taxa básica de juros deve levar a um alívio para as empresas e acelerar o crescimento corporativo — num momento em que a nova regra fiscal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se aproxima de ser aprovada.
“Estou mais otimista com Brasil do que estive nos últimos anos”, disse Will Pruett, gestor da Fidelity, em Boston. “A queda das taxas no Brasil pode ser extremamente importante para o desempenho desse mercado de ações”, disse Pruett, que administrava US$ 7,5 bilhões em ativos de mercados emergentes no final de abril.
Embora o desempenho das ações brasileiras tenha superado o de outros emergentes nas últimas semanas, elas ainda amargam cerca de 10% de queda nos últimos dois anos, diante de um dos primeiros e mais agressivos ciclos de aperto monetário do mundo. Mas com valuations bem abaixo das médias históricas e cortes de juros no horizonte, os gestores de recursos esperam que o mercado comece a se recuperar.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — em meio às críticas de Lula — sinalizou esta semana que a queda nas expectativas de inflação pode abrir espaço para juros mais baixos, estimulando o otimismo dos investidores com ativos brasileiros. O mercado de juros futuros já precifica uma flexibilização monetária de mais de 1,70 ponto percentual até o final do ano.
As expectativas também aumentaram de que o Federal Reserve e outros grandes bancos centrais atinjam em breve picos em seus ciclos de aperto, estimulando visões otimistas sobre os mercados emergentes mais amplos.
As apostas contra ações de economias em desenvolvimento em geral foram quase zeradas, com a expectativa de que os formuladores de política monetária dos EUA deixarão a taxa básica inalterada nesta quarta-feira e atingirão o pico de juros em algum momento em 2023.
Dez meses depois que as autoridades brasileiras encerraram uma dúzia de aumentos rápidos de juros, fixando a Selic em 13,75%, Pruett, da Fidelity, vê um lado positivo na redução do endividamento corporativo. Ele está “overweight” Brasil em seu portfólio de América Latina, de olho em empresas com balanços mais saudáveis e múltiplos de preços atraentes.
Outros investidores em Wall Street pensam parecido. Investidores colocaram US$ 175,7 milhões em fundos de índice focados em ações brasileiras na semana encerrada em 9 de junho, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Quase 70% dos gestores de recursos latino-americanos pesquisados pelo Bank of America esperam que o Ibovespa termine o ano acima de 120.000 pontos — o que implica um ganho de cerca de 3% em relação aos níveis atuais. A maioria dos investidores sondados espera o início dos cortes de juros no Brasil em agosto.
Os hedge funds brasileiros também começam a ficar animados. A Legacy Capital desfez suas posições vendidas em ações brasileiras em antecipação de um corte de juros, enquanto a Verde Asset Management está preparada para novos ganhos nas ações brasileiras, com seu principal fundo mantendo cerca de um quinto de sua carteira investida em ações locais.
A Bahia Asset Management, por sua vez, vem construindo posições compradas no índice Ibovespa através de opções. Os fundos de ações da gestora estão aumentando a exposição a nomes mais sensíveis à queda de juros, de acordo com Diego Carvalho, sócio e diretor dos fundos de renda variável do Bahia.
O Bahia espera que o Ibovespa termine o ano a 139.000 pontos e tem favorecido nomes como Localiza, Arezzo e Smartfit.
Embora já haja algum alívio em torno do arcabouço fiscal do governo, que deu um passo importante na Câmara no mês passado, pode levar mais tempo para as ações verem uma recuperação sustentada, segundo Carvalho. “Com certeza houve uma inflexão”, disse ele. “Mas se é perene, só o tempo dirá.”
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