Bloomberg — O interesse de investidores em torno da inteligência artificial atraiu muito capital para um pequeno segmento do mercado em um tempo muito curto, e isso tem implicações para os fundos com padrões ambientais, sociais e de governança, ou ESG, com forte peso em tecnologia.
De acordo com James Penny, diretor de investimentos da TAM Asset Management e investidor veterano de ESG, o clima atual lembra os primeiros dias da bolha de tecnologia que estourou em 2000 e eliminou mais de 70% em valor da Nasdaq.
“Empresas que apenas mencionam o termo IA em seus resultados registram aumentos no preço de suas ações, e isso lembra muito a era das empresas pontocom”, disse Penny, que investe em fundos em vez de diretamente em ações. “Colocaria uma probabilidade muito maior de uma queda de agora em diante”, afirmou em entrevista à Bloomberg News.
A corrida para conseguir uma fatia dos ganhos impulsionados pelo maior interesse na inteligência artificial se acelerou no mês passado, depois que a Nvidia (NVDA) impressionou o mercado com metas de vendas que surpreenderam até mesmo as previsões de analistas mais otimistas.
O valor de mercado da companhia avançou quase 30% desde o anúncio no final de maio, o que elevou os ganhos este ano para mais de 160% e ajudou a Nasdaq a subir 30%.
A tendência contribuiu para impulsionar os fundos ESG, já que esses portfólios dependem cada vez mais de empresas de tecnologia para reduzir sua pegada de carbono sem sacrificar o crescimento. Uma análise da Bloomberg Intelligence mostra que o setor de tecnologia representa 30% das ações preferenciais nos chamados fundos do Artigo 9, a classificação ESG mais alta da União Europeia. Essa é de longe a maior fatia de todos os setores.
Cerca de 1.300 fundos registrados como ESG detêm mais de US$ 20 bilhões apenas na Nvidia, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Ao mesmo tempo, há um subconjunto de gestores de fundos ESG que se promovem com o tema da IA: a Bloomberg identificou 20 no início de junho que, juntos, detêm cerca de US$ 8 bilhões em ativos sob gestão. A exposição da TAM à IA é principalmente indireta por meio de seus investimentos em fundos de growth (que apostam em empresa com grande potencial crescimento).
Martin Todd, gestor de fundos da Federated Hermes, diz que a IA “está evoluindo tão rapidamente” que “ninguém realmente sabe” onde as coisas vão parar. “Não há muitas áreas em que esteja muito claro se é um beneficiário ou um risco”, disse. Todd tem posições na Nvidia e na Microsoft por meio do fundo Federated Hermes Sustainable Global Equity que ele administra.
Penny, da TAM, que tem cerca de uma década de experiência na escolha de ativos com base em sua capacidade de entregar um melhor desempenho em um mundo cada vez mais moldado por riscos ambientais e sociais, diz que a ânsia de exposição à IA está, em parte, incentivando apostas prematuras de que o Federal Reserve começará a reverter seu ciclo de alta de juros.
Seletividade
Mas a onda de compras foi impulsionada por “apenas alguns setores”, na verdade, apenas por algumas ações, disse Penny. Ao mesmo tempo, ainda existe o risco muito real de uma recessão, afirmou.
Por isso, em vez de acumular os mesmos nomes de IA que outros estão comprando, Penny diz que segue o manual da corrida do ouro de 1800, quando o dinheiro inteligente não perdia tempo buscando ouro, mas investia nas ferramentas necessárias para extraí-lo.
“Acho que veremos uma onda em massa de produtos liderados por IA no mercado e vamos olhar isso, mas precisamos ser muito seletivos”, disse Penny. “Eu me concentraria menos nos fabricantes de IA e mais nos usuários de IA.” É “sempre onde você encontra empresas fenomenais que apoiam o tema e o movimento”, destaca.
-- Com a colaboração de Carlo Maccioni, Amine Haddaoui e Lynn Doan.
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