Bloomberg — O bilionário francês das telecomunicações Xavier Niel e dois sócios fizeram uma oferta de €1,1 bilhão (US$ 1,19 bilhão) ao endividado grupos de supermercados Casino Guichard-Perrachon, dono do Pão de Açúcar (PCAR3) no Brasil, buscando neutralizar uma oferta rival de outro grupo de investidores.
O Casino recebeu uma carta preliminar de intenções deste trio, que visa aumentar o patrimônio do grupo em até €1,1 bilhão, incluindo até €300 milhões investidos diretamente por eles, informou a empresa nesta quarta-feira (14). O restante do dinheiro viria de novos parceiros e credores existentes dispostos a reinvestir na varejista em dificuldades.
“Essa proposta seria acompanhada, na medida do necessário, por uma adaptação da dívida existente do Casino às suas capacidades e à preservação de seu potencial de crescimento”, disse a empresa em um comunicado. A oferta é preliminar, acrescentou a rede de supermercados.
A proposta de Niel, do empresário do setor varejista Moez-Alexandre Zouari e do banqueiro Matthieu Pigasse visa a evitar uma injeção de capital de €1,1 bilhão proposta pelo bilionário empresário tcheco Daniel Kretinsky, que já possui uma participação de cerca de 10% no Casino.
A proposta está condicionada à redução do endividamento sem garantia de € 3,6 bilhões do Casino, por meio da recompra de títulos e da conversão de dívidas em ações. Um representante de Kretinsky não quis comentar sobre a proposta do outro grupo interessado.
As ações do Casino subiram mais de 20% com a notícia nesta quarta. Contudo ainda acumulam queda de aproximadamente a mesmo magnitude neste ano, e as cartas de intenção recebidas pela empresa implicam em diluição para os acionistas existentes se alguma dessas ofertas for aprovada.
A diluição incluiria o CEO e controlador Jean-Charles Naouri, que se notabilizou uma década atrás pela batalha jurídica - que venceu - com o empresário brasileiro Abilio Diniz pelo controle do Pão de Açúcar.
Niel e seus sócios disseram na semana passada que estavam trabalhando em um plano de resgate após o fim das negociações exclusivas entre a empresa e a varejista Teract, cujos acionistas incluem os três investidores e a empresa agrícola francesa InVivo.
O que diz a Bloomberg Intelligence:
“A proposta preliminar feita ao grupo Casino por Xavier Niel, Matthieu Pigasse e Moez-Alexandre Zouari parece precisar de um apoio significativo dos credores, que teriam de aceitar uma adaptação bem abaixo do valor nominal da dívida líquida francesa de € 4,5 bilhões para elevá-la a um nível que o “anêmico” fluxo de caixa da empresa pudesse suportar”, disse Charles Allen, analista de varejo da Bloomberg Intelligence.
Os títulos não garantidos do Casino ganharam cerca de 1 ponto, mas ainda estavam sendo negociados abaixo de 20 centavos de euro, de acordo com dados da CBBT compilados pela Bloomberg.
Os analistas da Spread Research sugeriram que Niel e seus parceiros poderiam ter mais chances de sucesso do que Kretinsky, pois sua oferta manteria o Casino em mãos francesas. O governo já bloqueou anteriormente a aquisição do Carrefour pela Alimentation Couche-Tard, do Canadá.
O Casino e seu CEO vêm lutando há anos para sanear seu balanço patrimonial, até que recentemente concordaram em entrar em negociações com os credores sob supervisão judicial. Apesar de suas dificuldades, os investidores estão competindo pelo proprietário das redes Monoprix e Franprix, atraídos em parte por sua rede de lojas em Paris e no sudeste da França.
Enquanto os grandes investidores cercam o grupo de supermercado, os varejistas franceses rivais também estão de olho no Casino. A família Mulliez, proprietária da rede de supermercados Auchan, teria abordado Kretinsky sobre a fusão de suas operações francesas com o Casino caso sua oferta prevaleça, disseram pessoas familiarizadas com a situação na semana passada. O Carrefour também estaria analisando o valor das lojas Monoprix, de acordo com o Le Monde.
- Com a colaboração de Irene García Pérez e Giulia Morpurgo.
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