Na onda Ozempic, esta startup elegeu como foco o sobrepeso e a obesidade

Liti, co-fundada pelo médico Eduardo Rauen, do Einstein, e por Fernando Vilela, ex-CMO da Rappi, é novo exemplo de interesse crescente de investidores e empreendedores pelo tema

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Bloomberg Línea — O boom de consumo de medicamentos que ajudam a perder peso, como o Ozempic, da Novo Nordisk (NVO), tem reforçado os holofotes sobre o tema. Segundo o Banco Mundial, doenças relacionadas à obesidade e ao sobrepeso são uma das três principais causas de mortes em muitos países. É nesse contexto que um número crescente de startups busca endereçar esse desafio de saúde pública.

No mercado americano, startups como Noom, Forward e Calibrate ganharam mercado nos últimos anos com foco em perda de peso ou atenção primária e atingiram o status de unicórnio (as duas primeiras no caso), avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. No Brasil, esse foco também ganha espaço.

Uma das mais recentes iniciativas é a Liti, co-fundada pelo economista e empreendedor Fernando Vilela, ex-CMO (executivo-chefe de Marketing) da Rappi a partir de sua experiência pessoal de busca pela perda de peso após problemas de saúde, e pelo médico do esporte e nutrólogo Eduardo Rauen, do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, que o atendeu. Nasceu como um negócio paralelo para ambos, como uma clínica online voltada para a ajudar pacientes a perder peso, até que deu origem à startup.

“Ao conversar com muitos pacientes, me dei conta o quanto existe de dor relacionada ao peso e como o sistema de saúde não consegue endereçá-la. Nossa abordagem é melhorar a qualidade de vida das pessoas para que não dependam só de medicação”, disse Vilela em entrevista à Bloomberg Línea.

A startup se encontra no estágio Seed (semente), segundo o empreendedor. Recebeu uma primeira rodada liderada pela monashees e, no fim de 2022, pela Canary, no valor de R$ 21 milhões. Outros investidores são fundos e empresas como Grão, Norte, Eclipseon, Newtopia, The Fund e Latitud, além de investidores-anjo como José Auriemo Neto, da JHSF, e Sebastian Mejia e Simón Borrero, da Rappi.

Segundo Vilela, a decisão de colocar foco no combate ao sobrepeso e à obesidade, em vez de adotar uma cobertura mais abrangente dos problemas de saúde das pessoas, teve relação com a identificação do que ele descreve como “real dor” dos pacientes e sua ligação com a alimentação.

“Em doenças como câncer, diabates, pressão alta etc., qual o único fator de risco não controlado? Má alimentação. Melhorá-la leva a um relação ganha-ganha para as pessoas. Com esse foco na dor dos pacientes, levamos a um engajamento na atenção primária”, afirmou, em referência aos cuidados iniciais que evitam que as pessoas só busquem atendimento em casos já agravados.

A Liti funciona com um modelo de assinatura mensal que dá direito ao atendimento online por um time multidisciplinar de saúde, com médico, nutricionista e cientista comportamental em geral com formação em psicologia, a depender do perfil do cliente. Segundo Vilela, um em cada três pacientes na base atual - não revelada - abre o aplicativo todo dia, o que é considerado um alto engajamento.

Dados colhidos a partir de respostas a um questionário e de dispositivos de acompanhamento de saúde do paciente, como uma balança de bioimpedância que é enviada para o mesmo, ajudam na elaboração de um plano customizado, a partir de um prontuário eletrônico integrado.

“Montamos as as estratégias de mudança na alimentação e da rotina de acordo com o objetivo. Se é perda de peso, é um plano. Se é ganho de massa magra, outro. E assim por diante” disse o co-fundador da Liti.

A empresa atende principalmente o consumidor final no modelo B2C e também empresas interessadas não apenas em reduzir a sinistralidade de seus colaboradores mas também a performance.

Conselho médico e publicação de estudos

Nos próximos meses, a Liti pretende publicar estudos médicos que atestem a esperada eficácia do método com base em dados, sob a supervisão de um corpo clínico. “Queremos demonstrar que o uso de tecnologia ajuda na obtenção de resultados. Mas os estudos ainda não estão prontos”, afirmou.

A Liti acaba de formar um conselho médico para acompanhar e aconselhar o seu plano estratégico e clínico, para contar com uma orientação de fato de especialistas na área. Fazem parte os médicos Ben Hur Ferraz Neto, Victor Gadelha, Louise Cominato, Giovanni Guido Cerri, Daniel Araújo Ferraz e Rauen.

O modelo também faz uso de comunidades dos clientes para promover o engajamento, com temas como desafios da semana, prática de atividades físicas ou troca de receitas.

Embora a mudança na alimentação com a consequente perda de peso sejam os objetivos principais, que demandam um acompanhamento mais próximo e regular nos primeiros seis meses, Vilela disse que o plano é que o paciente não deixe de ser atendido - nem saia da base de clientes - pela Liti.

A partir da conquista das metas, o modelo de negócios prevê um acompanhamento trimestral, que funciona também com uso de tecnologia de modo digital. “No fim, queremos nos tornar um ponto de referência para a saúde da pessoa”, afirmou. Dos clientes que entraram na plataforma há mais de um ano, metade continua.

O investimento recebido no fim do ano passado foi direcionado em parte para acelerar o desenvolvimento do produto, o que inclui ações como a chegada de uma médica do sono para o time multidisciplinar e parcerias que permitem a contratação de personal trainer de forma intregrada com a plataforma. Essa é uma frente de crescimento, com parcerias de empresas como de pratos congelados para entrega.

Outro objetivo é melhorar e acelerar o fluxo de informações para os pacientes, inclusive com uso de Inteligência Artificial, em casos de necessidades do cotidiano como a mudança de uma dieta específica antes de uma refeição.

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