Fed mantém juros em 1ª pausa no ciclo de aperto e sinaliza novas altas à frente

Pausa é a primeira desde que o BC americano começou sua campanha de alta dos juros no país, em março de 2022; ações caem em NY

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Bloomberg Línea — O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, decidiu nesta quarta-feira (14) por uma pausa no ciclo de aperto monetário, mantendo os juros no intervalo de 5% a 5,25%.

O movimento, que era esperado por grande parte do mercado financeiro, é o primeiro do tipo desde que começou a alta dos juros no país, em março de 2022. A campanha, que teve início quando os juros estavam no patamar de 0% e 0,25%, viu 10 aumentos consecutivos desde então, no mais forte ciclo de aperto monetário desde o fim dos anos 1970 e início dos anos 1980.

Após a decisão, os índices de ações em Wall Street viraram para queda. Às 15h10 (horário de Brasília), o S&P 500 caía 0,52%, enquanto o Nasdaq 100, com grande exposição ao setor de tecnologia, tinha baixa de 0,67%. No Brasil, o Ibovespa (IBOV) tinha alta de 0,89%.

Segundo o Comitê, manter a taxa estável nesta reunião permite ao Fomc avaliar informações adicionais e suas implicações para a política monetária. O BC americano, contudo, mantém seu objetivo de retornar a inflação à meta de 2% ao longo do tempo.

“O Comitê continuará a monitorar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O Comitê está preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o alcance das metas”, escreveu o Fomc, no comunicado.

Os formuladores de políticas também ajustaram o texto em sua declaração pós-reunião, referindo-se a como eles determinariam “a extensão do aperto adicional da política que pode ser apropriada”, em vez de “à medida em que o aperto adicional da política for apropriado”.

“Ao determinar a extensão do aperto adicional da política que pode ser apropriado para retornar a inflação a 2% ao longo do tempo, o Comitê levará em conta o aperto cumulativo da política monetária, os atrasos com os quais ela afeta a atividade econômica e a inflação e os desenvolvimentos econômicos e financeiros.”

As apostas de uma pausa ganharam força na terça-feira (13), depois que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA desacelerou ante abril e teve alta de 0,1% em maio, em linha com o esperado por economistas consultados pela Bloomberg. Na comparação anual, o CPI desacelerou para 4% em maio.

Ainda assim, a inflação tem se mostrado persistente. O núcleo do CPI, medida que exclui itens mais voláteis como alimentos e energia, subiu 0,4% no último mês, o mesmo resultado de abril.

O forte aumento dos juros, que tem sido visto ao redor do mundo, é uma resposta dos bancos centrais ao rápido aumento da inflação, que se sucedeu após o arrefecimento da pandemia e a retomada da atividade econômica no mundo.

A inflação dos EUA em 12 meses chegou a 9,06% em julho do ano passado e vem desacelerando desde então, com o aperto do Fed e alívio nos preços das commodities. No entanto, a inflação segue mais do que o dobro da meta do banco central americano – o que abriria espaço para novas altas na taxa mais para frente.

Os dados de emprego também seguem fortes. O relatório de emprego (payroll) de maio surpreendeu após registrar a criação de 339 mil vagas, acima das 190 mil esperadas por economistas consultados pela Bloomberg. Os números foram vistos como mistos, dado que houve alívio na pressão sobre os salários.

Coletiva de imprensa

Os investidores aguardam agora pela coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell, que falará às 15h30 (horário de Brasília).

É provável que Powell seja pressionado a explicar por que as autoridades do Fed estão sugerindo que o aperto futuro pode ser necessário, mas que não estão se movendo nesta reunião.

“A tensão central, se eles fizerem uma pausa, mas mantiverem um viés de aperto, é: se eles têm tanta certeza sobre a necessidade de aperto no futuro, por que não decidiram aumentar agora?” disse Derek Tang da LH Meyer/Monetary Policy Analytics.

O presidente será questionado sobre as perspectivas para as reuniões de julho e setembro, bem como se ele continua a ver um “pouso suave” como provável para a economia dos EUA. Ele também será solicitado a avaliar o impacto das quebras de bancos na oferta de crédito.

-- Com informações da Bloomberg News

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