Bloomberg — Marcelo Claure, ex-diretor executivo de Operações (COO) do SoftBank, o maior investidor em empresas de tecnologia do mundo, tem um novo trabalho: presidente executivo (CEO) e managing partner de sua própria empresa de capital de risco, a Bicycle Capital - como antecipado pela Bloomberg Línea em março. A empresa tem como meta arrecadar US$ 500 milhões para seu fundo inaugural e já acumulou compromissos de US$ 440 milhões até o momento, com planos de anúncio nesta quarta-feira (14).
Embora esteja longe dos US$ 100 bilhões levantados pelo Vision Fund, do SoftBank, a nova empresa de venture capital oferece a Claure a oportunidade de trabalhar com startups em sua região de origem, a América Latina, onde a Bicycle se concentrará. E, a depender do desempenho do fundo, isso poderá aumentar suas credenciais, que estão em parte ligadas ao turbulento investimento de US$ 17 bilhões da SoftBank na WeWork, em que ele atuou como CEO.
A Bicycle e o Vision Fund têm um investidor de destaque em comum, o Mubadala Investment, um fundo soberano de US$ 284 bilhões sediado em Abu Dhabi. O Mubadala está investindo US$ 200 milhões no novo fundo. O outro investidor âncora é o Claure Group, family office de Marcelo Claure, que também está investindo US$ 200 milhões.
O nome do novo fundo foi inspirado no axioma do co-fundador da Apple Steve Jobs, de que um computador é uma bicicleta para a mente. Uma bicicleta “faz o trabalho”, disse Claure.
A empresa levantou US$ 40 milhões de investidores individuais, incluindo o bilionário brasileiro André Esteves e o co-fundador do Nubank (NU), David Vélez, segundo Claure.
Esteves foi um dos fundadores do banco de investimentos BTG Pactual (BPAC11), a maior da América Latina, que ajudará a distribuir participações na Bicycle para investidores credenciados no Brasil.
Procurados pela Bloomberg Línea, o BTG Pactual e o Nubank disseram que não vão se pronunciar a respeito do assunto.
Fim do non compete
Um grande investidor está notavelmente ausente do fundo: Claure disse que não convidou seu ex-empregador, Masayoshi Son, fundador da SoftBank, para investir na empreitada.
Ainda assim, Son desempenhou um papel no momento do anúncio da Bicycle, devido à cláusula de non compete de Claure com a SoftBank. A disposição que o proíbe de iniciar um fundo na América Latina expira nesta quarta-feira, 14 de junho.
Em outras partes do mundo, ele acrescentou, o non compete expira “em breve”.
O outro managing partner da Bicycle é Mwashuma “Shu” Nyatta, que anteriormente ocupava o mesmo cargo no SoftBank Group International. Nyatta co-fundou os fundos da SoftBank na América Latina ao lado de Claure. Os dois costumam andar de bicicleta juntos em Miami.
Outro investidor que se juntaria à Bicycle, mas desistiu há cerca de dois meses é Paulo Passoni, ex-managing partner do SoftBank para a América Latina. Segundo fontes, uma das razões seria o tamanho do controle de Claure no novo fundo como um dos principais investidores com o Claure Group.
A América Latina abriga uma classe média em crescimento e várias startups de destaque, incluindo o Nubank, do Brasil, maior banco digital do Ocidente, e o serviço de entrega Rappi, da Colômbia. Ainda assim, embora o capital seja relativamente abundante para empresas muito jovens, é mais difícil encontrar investidores que possam disponibilizar cheques mais volumosos na região.
“Quero que a Bicycle seja aquela que ajude os empreendedores latino-americanos a expandirem seus negócios”, disse Claure. Além disso, a Bicycle investirá em grandes empresas globais que estão ativas na região.
Uma dessas empresas é a varejista de fast fashion Shein, da China, na qual Claure investiu recentemente e em que atua como presidente do conselho para a América Latina. Esse investimento permanecerá com o Claure Group, ele disse.
Quanto à sua antiga responsabilidade, a WeWork, Claure disse que a empresa estava sofrendo com forças além de seu controle, como altos índices de vacância em escritórios em cidades ao redor do mundo.
Claure foi presidente-executivo da empresa do fim de 2019 até o início do ano passado. Ao refletir sobre seu mandato, ele diz que conseguiu levar a empresa do beco da insolvência até uma listagem na Bolsa de Nova York dois anos depois. Até agora, em 2023, as ações da WeWork caíram mais de 80%.
No mês passado, o CEO da WeWork, Sandeep Mathrani, anunciou sua saída. “É triste”, disse ele sobre a renúncia de Mathrani. “É um momento difícil para estar no setor imobiliário comercial”.
No início de sua carreira na SoftBank, Claure foi responsável pela empresa de telecom Sprint, que o conglomerado japonês comprou por US$ 20 bilhões e em seguida nomeou Claure como CEO. Após deixar esse cargo em 2018, Claure permaneceu como presidente do conselho da empresa, conduzindo sua fusão contenciosa com a T-Mobile, concluída em 2020.
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-- Com informações da Bloomberg Línea. Atualizada para incluir a resposta do BTG Pactual e do Nubank.
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