Positivo vê oportunidade para crescer na área de segurança eletrônica, diz CEO

Helio Rotenberg diz que segmento cresce em níveis elevados, da ordem de 15% ao ano, com mercado estimado em R$ 11 bi; Intelbras e Multilaser serão alguns dos concorrentes

Positivo busca diversificar suas linhas de negócio para navegar por um cenário considerado mais desafiador para o consumo
13 de Junho, 2023 | 01:06 PM

Bloomberg — O início do ciclo de cortes da taxa Selic (hoje em 13,75% ao ano), esperado por boa parte do mercado para o segundo semestre, deve estimular a retomada do mercado brasileiro de PCs, castigado pela retração no consumo desde o ano passado.

É um cenário desafiador que tem se refletido no comportamento do investidor. A ação da Positivo Tecnologia (POSI3), maior fabricante brasileira de PCs, acumula queda de 16% neste ano até a última segunda-feira (12), enquanto o Ibovespa teve ganho de 7% no período. Fechou a R$ 7,87.

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Mas há segmentos que crescem mesmo os juros altos. Para diversificar ainda mais o seu portfólio de produtos e aumentar as fontes de receita, a fabricante paranaense decidiu criar a PositivoSEG, unidade de negócios de automação e segurança eletrônica com soluções para empresas, escolas, condomínios e residências.

Vai competir com empresas igualmente listadas na B3, como Intelbras (INTB3) e Multilaser (MLAS3), entre outras.

A nova frente de negócios voltada para o mercado B2B terá um portfólio que inclui dispositivos de CFTV (Circuito Fechado de Televisão), câmeras, gravadores e sistema de videomonitoramento, central de alarme e sensores para detecção de intrusão, opções de rede e conectividade como roteadores e switches, além de acessórios que complementam as categorias.

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Segundo a empresa, a nova vertical mira um mercado com taxa de expansão de dois dígitos. A Positivo cita dados da Abese (Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança) de que esse ramo cresce em média 15% ao ano e movimenta cerca de R$ 11 bilhões no Brasil.

Por outro lado, em 2022, houve redução de 2% no volume de vendas de PCs no Brasil, totalizando 8,6 milhões de computadores (6,5 milhões de notebooks e 2,04 milhões de desktops), enquanto a receita desse mercado encolheu 10%, para R$ 33 bilhões, segundo números da consultoria IDC Brazil.

O CEO disse que a companhia passou dois anos estudando o segmento de segurança eletrônica.

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“Entendemos como é organizado, as personas, o processo de tomada de decisão, assim como as potencialidades e as necessidades. Reunimos esses elementos às demais capacidades da companhia e elaboramos um grande negócio para revolucionar o mercado”, afirmou Rotenberg.

Os objetivos da nova unidade da Positivo incluem, segundo a companhia, a aproximação com revendas, instaladores e integradores do segmento para a potencialização mútua dos negócios.

“Estamos entrando no segmento de automação e segurança eletrônica muito bem estruturados e com as condições de se tornar realmente um grande player. O mercado é extremamente oportuno e avança em níveis elevados”, avaliou o CEO.

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Guidance perto do piso

No começo do ano, a Positivo forneceu ao mercado guidance (projeção) para a receita bruta em 2023 na faixa de R$ 5,5 bilhões a R$ 6,5 bilhões. No ano passado, a receita bruta alcançou um número recorde (R$ 5,9 bilhões), o que significa que o piso do guidance embute uma expectativa de redução anual de receita. Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da companhia, Hélio Rotenberg, disse que o piso do guidance considerou uma previsão pessimista para as vendas neste ano.

“Dissemos ao mercado para não esperar um crescimento enorme neste ano. Fizemos no guidance uma previsão otimista e pessimista. Crescemos em ritmo forte de startup nos últimos anos, 160% em três anos e 47% no ano passado”, comparou o executivo.

Hélio Rotenberg, CEO da Positivo Tecnologia, disse que os juros elevados são entraves para setores que precisam de muito capital para financiar suas operações (Foto: Divulgação)

Apesar do tom de cautela quanto às projeções e à análise do contexto macroeconômico em 2023, Rotenberg disse que a Positivo não identifica nenhuma unidade de negócios com desempenho preocupante e que o pipeline de compras governamentais continua “robusto”, segundo sua classificação, com a possibilidade de a empresa vencer novas licitações públicas. No segundo semestre, a companhia começa a produzir, por exemplo, as urnas para as eleições municipais de 2024.

“A sede de compras de equipamentos pelas secretarias de educação continua muito forte, porque devido à pandemia muitas compras ficaram represadas”, disse o executivo, acrescentando que as aquisições de aparelhos pelo mercado corporativo também estão aquecidas.

No estudo do IDC Brasil sobre 2022, notebooks e desktops tiveram reduções no volume de vendas de 7% e 20%, respectivamente, mas houve uma alta anual de 59% no número de workstations (estações de trabalho) vendidas (38 mil) no ano passado.

“Esse movimento de queda foi resultado dos efeitos de uma retração no consumo, tendo em vista o baixo índice de confiança do consumidor frente a um cenário de incertezas tanto no aspecto macroeconômico como no político”, disse Renato Murari de Meireles, analista de mercado do IDC Brasil, na pesquisa.

Urnas para eleição de 2024

Por ter vencido o edital das urnas eletrônicas para a eleição de 2024, a Positivo vai faturar R$ 1,2 bilhão, que será parcialmente faturado no segundo semestre. Já o backlog de vendas contratadas, somado às previsões de pedidos por instituições públicas, alcançava mais de R$ 1,2 bilhão para 2023, com alguns projetos importantes para Ministério da Economia, Prodesp e Sesi, entre outros.

O guidance para 2023, mantido neste primeiro semestre, também considerava a contínua expansão da receita da companhia no mercado corporativo, impulsionada pelo crescimento da oferta de serviços, com a estruturação de um novo modelo de negócios denominado Positivo Tech Services.

Além disso, a companhia aposta nas oportunidades de vendas cross sell e upsell no mercado corporativo. São máquinas com contratos de serviço de manutenção, venda de computadores e tablets com contratos de gestão de parque e outros serviços com valor agregado, além das vendas de equipamentos para instituições de ensino em conjunto com soluções educacionais.

A Positivo também espera expandir receitas no segmento de soluções de pagamentos, conquistando novos clientes como as maiores adquirentes do país.

Guidance desafiador, diz XP

A equipe de analistas da XP classificou como “desafiador” o guidance para a receita bruta de 2023, mas manteve a recomendação de compra para o papel da empresa, com preço-alvo de R$ 16 no final do ano. Isso representa um upside (potencial de valorização) de cerca de 100% em relação ao preço atual.

No primeiro trimestre, a Positivo registrou margem Ebitda de 12,1%, o representou uma queda de sete pontos percentuais em três meses e 0,4 ponto abaixo da estimativa da XP.

Os analistas da XP justificaram a recomendação de compra citando que a companhia aumentou a geração de caixa em R$ 241 milhões no primeiro trimestre (versus R$ 108,7 milhões há 12 meses) e que a relação dívida líquida/Ebitda ficou em 1,5 vez, ante 1,6 vez no quarto trimestre.

Rotenberg disse que o mercado teria subestimado o efeito negativo do juro elevado sobre a economia, o que motivou uma troca mais lenta de aparelhos de telefonia pelo consumidor. Mas, segundo ele, a marca chinesa Infinix, aposta da Positivo para o segmento 5G, está ganhando participação de mercado a cada mês e que será um dos motores do crescimento da receita da empresa neste ano.

“Só falta o juro cair, pois as taxas elevadas penalizam empresas e consumidores”, disse. Ele disse que a Positivo deve também conseguir reduzir seu endividamento neste ano.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.