Tecnologia de IA é oportunidade para o Brasil, defende CEO do GitHub

Em entrevista à Bloomberg Línea, Thomas Dohmke, CEO da empresa adquirida pela Microsoft por US$ 7,5 bi, fala sobre os planos para expandir no país, seu terceiro maior mercado

'A tecnologia de IA democratiza a aprendizagem', defende
13 de Junho, 2023 | 12:19 PM

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Bloomberg Línea — Adquirido pela Microsoft (MSFT) em 2018 por US$ 7,5 bilhões (aproximadamente R$ 36,6 bilhões em valores atuais), o GitHub se tornou uma referência mundial entre os profissionais que trabalham com desenvolvimento de software.

Em sua plataforma, desenvolvedores compartilham códigos-fonte colaboram com outros usuários e mantêm um repositório de arquivos e bases de dados de seus projetos. No Brasil, o serviço é usado por mais de 3 milhões de desenvolvedores, e o país é o terceiro maior - tirando os EUA - em número de usuários entre os 90 milhões que utilizam o GitHub. No ano passado, quase 1 milhão de novos usuários brasileiros entraram para a plataforma.

À frente da operação está o CEO Thomas Dohmke, executivo que fez carreira na Microsoft e assumiu o cargo após a aquisição. Nos últimos anos, ele elevou o faturamento da plataforma de US$ 300 milhões para US$ 1 bilhão, de acordo com a empresa.

Seu desafio agora é manter o GitHub relevante no momento em que a tecnologia de inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT, promete mudar a forma como os desenvolvedores trabalham, permitindo gerar códigos automaticamente com apenas algumas instruções.

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“No Brasil e em mercados emergentes, há uma grande oportunidade porque a tecnologia de IA democratiza a aprendizagem [sobre desenvolvimento de software]”, disse Dohmke, em entrevista à Bloomberg Línea, feita durante o WebSummit, evento de inovação realizado no Rio de Janeiro em maio.

O setor de tecnologia no Brasil enfrenta o desafio da escassez de talentos. Segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, o país precisaria formar 40 mil programadores por ano para dar conta da demanda, mas o número não chega a nem metade. Para Dohmke, ferramentas colaborativas e que utilizam IA como apoio ajudam a suprir esse déficit.

Uma dessas ferramentas é o sistema de IA chamado Copilot, desenvolvido pelo GitHub junto da OpenAI (a mesma do ChatGPT) e lançado em março, que auxilia desenvolvedores transformando linguagem natural em código.

O GitHub espera que os desenvolvedores consigam trabalhar e colaborar em projetos de forma mais eficiente. A empresa trabalhou no aplicativo Copilot por quase três anos e o recurso já é adotado por mais de um milhão de desenvolvedores em 10 mil empresas.

A parceria entre a Microsoft e a OpenAI permitirá que o GitHub execute o Copilot em diferentes data centers. Segundo Dohmke, a funcionalidade de inteligência artificial não tem a intenção de substituir os seres humanos, mas sim de aumentar a produtividade.

O Copilot sugere múltiplas linhas de código que podem ou não funcionar, mas ajudam o usuário a reduzir as soluções conforme escrevem linhas de programação.

O produto, já disponível no Brasil, entende o contexto da conversa e pode responder a várias perguntas. Ele capacita os desenvolvedores a aprender e construir ao mesmo tempo, e os programadores podem pedir ao Copilot para explicar ou corrigir seu código.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, Dohmke disse que os brasileiros são principalmente desenvolvedores full-stack (isto é, que atuam em várias atividades de programação diferentes), já que possuem recursos para trabalhar em várias posições. Isso é uma vantagem na hora de trabalhar com ferramentas como o Copilot.

Startup de programação

Dohmke programa desde 1989. Ele cresceu na Alemanha Oriental e fundou sua startup HockeyApp, que foi adquirida pela Microsoft. Assim, ele ingressou na empresa de Bill Gates até assumir o cargo de CEO do GitHub.

O executivo aconselhou os empreendedores que, se uma empresa estiver considerando ser vendida, fundadores devem se concentrar em como o comprador pode acelerar a startup.

“Como a empresa pode acelerar sua startup? Porque, em última análise, quando você se junta a uma grande empresa, sempre haverá um certo grau de desaceleração, ajustando-se aos processos”, disse.

Segundo Dohmke, empreendedores devem pensar em uma aquisição nos mesmos termos que tomar capital de risco, e não vender a empresa se essa aceleração não puder ocorrer.

Para ele, a aquisição do GitHub pela Microsoft é um exemplo de aceleração bem-sucedida, citando crescimento de usuários, receita e funcionários. Além disso, Dohmke aconselhou os empreendedores a se concentrarem em criar um negócio lucrativo para evitar ficar sem dinheiro em tempos de escassez de investimentos.

“O GitHub já era lucrativo. Até aquele ponto [do capital de risco], eles basicamente haviam ‘breakevado’ todo o negócio, ganhando dinheiro com a venda do produto”, disse. “Se você pode, como startup, criar algo pelo qual as pessoas estejam dispostas a pagar relativamente rápido após o lançamento, isso mostra que você está no mercado.”

Mas é complicado, de acordo com o executivo. “Com todo esse capital de risco, obviamente, ajuda a acelerar sua empresa. Mas se você ainda não tem um modelo de negócios que funcione, é realmente complicado obter rodada atrás de rodada de financiamento.”

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups