Bloomberg Línea — A disputa dos maiores bancos do país pelos clientes de alta renda e do segmento private atravessou as fronteiras e está mais acirrada no estado da Flórida, nos Estados Unidos. Nos últimos meses, a ofensiva nesse mercado abrangeu da contratação de novas lideranças e da abertura de novas operações a investimentos agressivos em marketing.
O pano de fundo é a presença crescente de brasileiros de alta renda para visitar, investir ou morar nos Estados Unidos, principalmente no chamado Sunshine State. Os serviços oferecidos pelos bancos incluem financiamento imobiliário, investimentos, transferências internacionais e até auxílio no planejamento imigratório. Miami, Orlando e Fort Lauderdale são as cidades mais procuradas.
O mais recente movimento foi dado pelo Bradesco (BBDC4), que tem reforçado a sua operação offshore, dentro da estratégia de ganhar participação no segmento de alta renda, mais resiliente a ciclos econômicos adversos. Em abril, o banco inaugurou a nova sede do Bradesco Bank, antigo BAC Florida Bank (adquirido no final de 2019), no Plaza Coral Gables, área nobre de Miami.
Com 4.000 metros quadrados distribuídos em dois andares, o Bradesco Bank fica em um dos complexos comerciais considerados mais modernos da cidade, com escritórios, lojas, restaurantes e hotel. O projeto de sua nova unidade em Miami teve inspiração na unidade que fica na avenida Faria Lima em São Paulo. O Bradesco Bank conta com cerca de 10 mil clientes.
“Quando compramos o BAC em 2019, o atendimento era mais voltado para o público da América Latina, principalmente Central. Hoje o número de brasileiros representa mais de 50% da base. Nossa estratégia é crescer no segmento de clientes de alta renda, de private e do segmento prime, que deseja ter uma parcela do seu investimento nos EUA. É um banco com natureza forte em financiamento de casas”, disse Guilherme Leal, diretor responsável pelo Bradesco Private Banking, à Bloomberg Línea.
O executivo afirmou que é crescente o número de brasileiros que abrem conta nos EUA, com direito a cartão de crédito, por meio da plataforma digital chamada Bradesco Invest US, sem precisar ser residente.
Segundo ele, com recursos a partir de US$ 10 mil é possível investir em ativos no mercado americano; e, para clientes do segmento private a partir de US$ 1 milhão, contar com gestão ativa. O Bradesco tem uma parceria com a BlackRock para a área de investimentos mirando esses clientes.
Itaú e Avenue
Miami também abriga o hub do Itaú para a América Latina nos EUA - o maior banco do país está presente na Argentina, no Chile, na Colômbia, no Paraguai e no Uruguai. Mas há mais tempo. Um dos principais - e mais evidentes - investimentos do maior banco brasileiro na Flórida se dá no patrocínio master ao Miami Open, um dos torneios mais tradicionais e importantes do circuito profissional de tênis, da ATP, desde 2015.
O banco tem presença na cidade desde 2007. Segundo o Itaú, há um interesse crescente de brasileiros pela diversificação do patrimônio no exterior, algo que alavanca o crescimento do Itaú Private Internacional.
Entre os serviços mais procurados por seus clientes fora do Brasil estão wealth planning (planejamento patrimonial, tributário, sucessório, pré-imigratório e de governança familiar), além de banking (cartões, seguros, câmbio) e crédito (liquidez, crédito imobiliário, agronegócio, garantias).
“Nossa arquitetura aberta contempla oportunidades de investimentos e diversificação de muitas formas e produtos para atender a demanda de qualquer cliente do private, desde ETFs, bonds e ações até private equity, real estate, venture capital, hedge funds e outros”, disse o Itaú por meio de nota.
Em julho do ano passado, em movimento na mesma direção, o Itaú adquiriu a corretora Avenue, que atua no varejo com clientes brasileiros interessados em investir em ativos do mercado americano.
“Como uma plataforma que oferece a brasileiros acesso ao mercado internacional, seja investimento ou a parte de serviços financeiros, [...] temos um escritório em Miami com profissionais que fazem o relacionamento com investidores e clientes. A decisão de ir para a cidade foi baseada na capacidade de atrair talentos e profissionais locais e a proximidade com o público que buscamos”, afirmou Carlos Ambrósio, diretor geral da Avenue no Brasil, à Bloomberg Línea.
Neobancos na disputa
Mas nem todos os bancos miram diretamente o segmento private ou de alta renda. O Inter (INTR), por exemplo, adquiriu em fevereiro deste ano a YellowFI, empresa de originação de crédito imobiliário e gestora de fundos nos EUA; dois anos antes, em 2021, já havia adquirido a fintech americana Usend, que tem como foco remessas internacionais feitas por imigrantes residentes.
O CEO do Inter, João Vitor Menin, disse à Bloomberg Línea na ocasião que o banco tinha cerca de 1 milhão de contas globais abertas em dólar, com mais de US$ 100 milhões em depósitos e investimentos.
A XP (XP) também tem um escritório em Miami. Nos EUA, o trabalho começou a partir da demanda de um núcleo dedicado para atender single e multi family offices. Mais recentemente, a empresa de Guilherme Benchimol decidiu fazer um investimento agressivo ao patrocinar a equipe Aston Martin, o que incluiu levar clientes do segmento private e wealth para o Grande Prêmio de Miami em maio.
Um banco que dedica atenção há mais tempo ao cliente private e de wealth management na Flórida é o BTG Pactual (BPAC11). Procurados pela Bloomberg Línea, BTG e XP não quiseram comentar.
Investimento em imóveis
O foco dos bancos brasileiros em financiamento imobiliário nos EUA, destacado pelo Bradesco e pelo Itaú, pode ser entendido por um ranking. Os brasileiros estão no topo 10 entre os estrangeiros que mais investem em imóveis no sul da Flórida, segundo apontou um relatório divulgado pela Real Estate Investments by Borrero Corp., corretora local especializada em investidores latino-americanos.
As opções de propriedades em lançamento para uso e investimento partem de US$ 500 mil no centro de Miami, por exemplo. Já em regiões como Sunny Isle Beach, o investidor encontra projetos de padrão mais elevado a partir de US$ 5,5 milhões. Em Orlando, as propriedades partem de, aproximadamente, US$ 500 mil, com as mesmas condições de compra vistas em Miami para compradores estrangeiros (30% de entrada e financiamento do restante).
“A possibilidade de adquirir casas ou apartamentos na Flórida para renda com locação é um dos aspectos mais atrativos para os investidores brasileiros. Trata-se de um negócio de baixo risco e gerador de fluxo de caixa com aluguéis, pois os imóveis podem ser adquiridos totalmente mobiliados e prontos para morar ou alugar”, disse Rodolfo Milanez, broker que representa a corretora no Brasil.
Segundo ele, a maioria dos clientes de alta renda no Brasil em geral conhece o mercado. “Eles podem também estar em busca de proteção do patrimônio e de contar com uma opção de casa de férias para a família nas viagens à Flórida. Às vezes, a aquisição pode ter relação somente com investimento, ou ainda estar somente relacionado ao lifestyle cobiçado do sul da Flórida”, afirmou.
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