CEO da Nasdaq explica aquisição de US$ 10,5 bi, que derrubou ação em 12%

Bolsa de ações de tecnologia comprou empresa de software financeiro Adenza; ‘queremos ser o melhor parceiro possível para bancos e corretoras’, diz Adena Friedman

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Bloomberg — A maior aquisição de todos os tempos da Nasdaq (NDAQ) deve tornar a operadora da bolsa de empresas de tecnologia mais previsível e lucrativa. Os seus investidores, no entanto, podem precisar de mais argumentos para se convencerem do racional da transação.

A proposta de compra de US$ 10,5 bilhões da empresa de software financeiro Adenza, apresentada na segunda-feira (12), fez com que as ações da Nasdaq tivessem a sua maior queda intradiária em quase uma década, de 11,81% - e isso mesmo com o índice Nasdaq 100 em um rali que o impulsionou para ganhos de 35% neste ano.

O acordo com pagamento em dinheiro e ações também dará uma participação na bolsa à empresa de private equity proprietária da Adenza, a Thoma Bravo, juntamente com um assento no conselho.

Segundo algumas análises, a Nasdaq está pagando um preço alto e está assumindo tantas dívidas para financiar o negócio que a S&P Global Ratings cortou imediatamente a sua nota de crédito.

Mas a CEO Adena Friedman disse que está trabalhando para construir a vertical de negócios de software da Nasdaq, que agora responde por mais de um terço de suas receitas recorrentes anualizadas. As vendas de software para empresas do setor financeiro são mais estáveis, servindo como uma blindagem para a volatilidade natural do negócio de trading.

“Estamos tentando garantir que estamos comprando as melhores empresas para resolver e atender os clientes, para que possamos realmente ser o melhor parceiro possível para bancos e corretoras em todo o mundo”, disse Friedman em entrevista à Bloomberg News.

No fechamento na segunda, a ação da Nasdaq caiu quase 12%, para US$ 51, levando a queda neste ano para 17%. Alguns analistas expressaram preocupação com o preço de venda, com um múltiplo de aproximadamente 18 vezes as vendas da Adenza, o que “não é particularmente atraente”, escreveu Paul Gulberg, analista da Bloomberg Intelligence.

Na Keefe, Bruyette & Woods, o analista Kyle Voigt previu que o acordo começará a aumentar os ganhos da Nasdaq em seu terceiro ano, e “os investidores acabarão aceitando o acordo, embora isso possa levar tempo”.

Mais imediatamente, a S&P Global Ratings rebaixou a classificação de crédito da Nasdaq de BBB+ para BBB, citando o aumento da dívida que “enfraqueceria o perfil de risco financeiro da empresa”. Pelo lado positivo, a S&P citou oportunidades de cross sell - vendas cruzadas -, “porque parece que apenas um punhado de clientes atuais da Nasdaq se sobrepõem aos da Adenza”.

Embora a Nasdaq seja a segunda maior bolsa de valores dos Estados Unidos, ela se autodenomina uma empresa de tecnologia. Além de administrar a bolsa, a empresa com sede em Nova York oferece dados, análises, software e outros serviços de monitoramento para clientes, incluindo empresas e investidores de capital aberto e fechado.

A Adenza vende software para bancos, gestoras, bolsas e outras partes do setor de serviços financeiros que ajudam a gerenciar relatórios regulatórios, conformidade e gerenciamento de riscos. O negócio foi formado em 2021, quando a Thoma Bravo fundiu a Calypso Technology e a AxiomSL.

O acordo colocaria a Thoma Bravo entre os maiores acionistas da Nasdaq. A empresa de private equity é conhecida por seus investimentos em empresas de software e administra mais de US$ 120 bilhões em ativos. Friedman disse que a Nasdaq abordou a Thoma Bravo sobre o negócio, que também terá o managing partner que liderou o investimento, Holden Spaht, nomeado para o conselho.

Não é o primeiro ou o maior negócio que a Thoma Bravo fez com uma bolsa listada. A Intercontinental Exchange, proprietária da Bolsa de Valores de Nova York, a NYSE, comprou uma empresa de tecnologia para o setor de hipotecas, a Ellie Mae, da Thoma Bravo em 2020 por US$ 11 bilhões.

A Nasdaq, por sua vez, tenta se tornar menos dependente da receita com base em transações e dos dados vinculados às negociações, que estão sujeitas à volatilidade, disse Friedman. Com a aquisição da Adenza, a Nasdaq espera aumentar seus negócios de soluções para o equivalente a 77% da receita total, versus um patamar de 71% hoje, com um mercado ainda maior, disse a executiva.

A empresa tem se concentrado em diversificar suas fontes de receita além da exchange. Nos últimos anos, a Nasdaq fez investimentos em software, dados e outras áreas. Também expandiu a tecnologia ligada a software de proteção e anticrime por meio da aquisição da Verafin, com produtos que ajudam a investigar e relatar casos de lavagem de dinheiro, fraude e manipulação para bancos e empresas comerciais.

A Adenza tem mais de 60.000 usuários em bancos globais e regionais, corretoras, seguradoras, gestoras de ativos, fundos de pensão, fundos hedge, bancos centrais, bolsas de valores e câmaras de compensação, além de provedores de serviços de valores mobiliários e empresas. A empresa estima uma receita de US$ 590 milhões para este ano.

A Nasdaq planeja emitir US$ 5,9 bilhões em dívida para financiar a aquisição, o que elevará sua alavancagem para 4,7 vezes até a conclusão do negócio, algo que deve ocorrer em seis a nove meses. Ela planeja reduzir essa alavancagem para 4 vezes em 18 meses.

A Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News, compete com a Adenza no fornecimento de soluções de negociação e risco.

- Matéria corrigida às 7h12 com o valor correto da oferta da Nasdaq no título.

- Com a colaboração de Ben Scent.

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