Como cuidar das relações de trabalho e evitar conflitos em um mundo online

O escritor espanhol Ferran Ramon-Cortés, autor de “A 1.778 km de distância”, dá as dicas de como melhorar a comunicação em um ambiente online e na era da hiperconexão

Embora seja possível manter altos níveis de eficiência e produtividade, o sistema de trabalho remoto gera desgaste com a hiperconexão
12 de Junho, 2023 | 04:47 AM

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Barcelona, Espanha — Três anos depois que a pandemia mudou a forma como as pessoas trabalham, ficou evidente que o mundo online afeta os relacionamentos, nos deixa exaustos e pode até provocar uma perda de empatia.

Paradoxalmente, os profissionais estão mais conectados ao seu entorno, mas com mais dificuldade de se conectar com o mundo. No entanto, existem alguns truques para cuidar dos relacionamentos, sejam eles profissionais ou pessoais, nesse mundo hiperconectado, como explica à Bloomberg Línea o especialista em comunicação e escritor espanhol Ferran Ramon-Cortés, autor de “A 1.778 km de distancia”.

Os problemas

Após a revolução digital provocada pelos confinamentos pela covid-19, o escritor, que se considerava um defensor da “presencialidade”, teve de reconhecer que “a comunicação online funciona”. Embora não sem alguns percalços.

“Você já percebeu que, depois de uma reunião online, ficamos mais cansados, às vezes até menos motivados? Isso acontece porque, no modo remoto, não captamos metade dos sinais emocionais, os tons e a linguagem não verbal que nos permitem identificar as reações do interlocutor”, explica o acadêmico. “O subconsciente, que não recebe esses sinais emocionais, deixa de se estimular e se ‘desconecta’, trazendo à tona sensações de cansaço e tédio.”

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Tudo isso conduz a erros de interpretação e ao perigo de o feedback chegar mais agressivo. “Tudo se move mais rápido, a percepção é de dureza e há pouco espaço para reação”, diz ele. “Perdemos muitos gestos que são fundamentais para nossa interpretação mútua.”

Outro ponto comum aos relacionamentos virtuais é a perda de lembranças. “Se não houver emoção, o hipocampo entende que algo não deve ser armazenado na memória e, portanto, não há recordação”, observa.

O espanhol Ferran Ramon-Cortés, autor de “A 1.778 km de distancia”, dá as dicas para mitigar os efeitos nocivos da comunicação online, uma realidade que se intensificou após a pandemia.

Adaptação diante da falta de opção

Trabalhar remotamente não é apenas uma escolha para os funcionários conciliarem a vida profissional e familiar, terem mais flexibilidade no horário de trabalho e evitarem deslocamentos. Para algumas empresas, é a única opção.

Embora já esteja comprovado que é possível manter altos níveis de eficiência e produtividade, o sistema de trabalho virtual gera desgastes devido aos seguintes fatores:

  • Hiperconexão: “É como se o suposto privilégio de trabalhar em casa exigisse o preço de estarmos sempre de prontidão e dispostos a não parar nunca”, diz Ramon-Cortés.
  • Criação de silos: O fato de não nos encontrarmos pessoalmente também leva à perda da ideia de colaboração e do trabalho em equipe, fechando-nos em “silos”.
  • Assimetria de informações: Por não estarmos todos juntos regularmente no mesmo espaço de trabalho, “é difícil lembrar para quem dissemos algo e para quem não dissemos determinada coisa”, um desequilíbrio que pode levar a problemas de relacionamento.
  • Dor do isolamento: A redução do ambiente pessoal e a solidão do teletrabalho criaram essa nova patologia.

Então como melhorar as relações online?

O autor menciona que, em uma tentativa de fortalecer os laços humanos das equipes, muitas empresas estão redesenhando espaços comuns para levar as pessoas “a um tipo diferente de conversa”. Ele também observa que é preciso incentivar “uma proporção saudável de encontros presenciais”.

E se a empresa opera 100% online? “É preciso criar espaços comuns para o descanso, mesmo que sejam remotos”. De acordo com ele, algumas empresas compensam a falta de presença e estimulam a espontaneidade promovendo cafés da manhã “onde não é permitido usar o celular ou falar sobre trabalho”, conta Ferran Ramon-Cortés.

Abrir as reuniões com um “check-in emocional”, um espaço de comunicação para as pessoas se expressarem, é outra tática que está se multiplicando entre as empresas online. Em videoconferências mais longas, permitir que grupos menores gerem ideias antes de retornarem às sessões plenárias também ajuda a estimular o senso de colaboração da equipe.

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Para melhorar a comunicação entre os profissionais no ambiente virtual, Ramon-Cortés diz que é essencial definir acordos explícitos para a comunicação (“o que vai por chat, o que vai por e-mail, para que as mensagens não se multipliquem”), limitar os e-mails e chats para não saturar, priorizar reuniões mais curtas e interativas e ser emocionalmente explícito (“os sinais transmitidos têm de ser evidentes”).

Outra regra essencial, na ótica do escritor, é nunca resolver questões emocionais por meio de mensagens. “Para evitar a escalada de conflitos, nessas situações devemos resgatar as chamadas telefônicas.”

Cuidar das relações profissionais em um ambiente de trabalho virtual

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Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.