BC Europeu se aproxima da difícil tarefa de avisar que o aperto chegará ao fim

Pesquisa da Bloomberg aponta consenso entre economistas de que ciclo de aumento das taxas de juros terá uma pausa após mais duas reuniões, neste mês e em julho

Instituição deve fazer mais duas altas 0,25 ponto percentual na taxa de juros, para levá-la a 3,75%
Por Jana Randow
09 de Junho, 2023 | 01:58 PM

Bloomberg — O Banco Central Europeu (BCE), liderado por Christine Lagarde, não deve aumentar muito mais os juros. Mas também não deve começar a reduzi-los tão cedo, de acordo com economistas consultados pela Bloomberg News, que veem o pico dos taxas na reunião de julho.

Depois de dois esperados movimentos de 0,25 ponto percentual neste mês e no próximo, a taxa de juros para depósitos na região deve permanecer em 3,75% por quase um ano para garantir que a inflação - ainda mais de três vezes acima da meta - recue de uma maneira sustentável. Apenas sete dos 42 entrevistados disseram esperar um terceiro aumento na taxa, para 4% em setembro.

A pesquisa sinaliza a confiança de economistas no BCE, que há muito tempo o consideram “atrás da curva” para enfrentar o maior choque de preços da era do euro.

O otimismo sugere que a inflação pode ser restaurada para 2% ao ano sem que a economia dos 20 países da zona do euro caia em uma grande recessão - um cenário perfeito chamado de “cachinhos dourados”, que os bancos centrais de todo o mundo estão desesperados para alcançar.

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Uma vez concluídos os aumentos das taxas de juros, as autoridades querem manter esse patamar por um período prolongado para garantir que não haja uma retomada forte dos preços. Fazer isso sem ter problemas na economia ainda pode significar outro teste para o banco central.

Forma como BCE atua contra a inflação é vista correta pelo mercado

“O maior desafio para o BCE é como comunicar qualquer mudança de ‘quão alto’ para ‘quanto tempo’”, disse Carsten Brzeski, responsável de macroeconomia do ING. “À medida que nos aproximamos do final do ciclo de aperto, essa comunicação e também a função de reação que pode explicar exatamente essa transição serão cruciais.”

Para orientar o mercado, os bancos centrais têm observado as perspectivas de preços, as tendências de inflação subjacentes e o impacto dos aumentos anteriores dos juros na economia. Eles também terão novas previsões econômicas para digerir neste mês, depois que os dados de quinta-feira (8) mostraram que a região do euro sofreu uma recessão amena no inverno na região.

Os economistas não antecipam grandes mudanças nas perspectivas. Embora sejam esperadas algumas revisões para este ano e para o próximo, as previsões para 2025 provavelmente serão confirmadas.

“O mercado se concentrará na estimativa que o BCE fornecerá”, disse Piet Christiansen, estrategista-chefe do Danske Bank. “As novas projeções da equipe terão destaque na formação do cenário-base.”

Com inflação em retração e a economia enfrentando ventos contrários, investidores reduziram levemente as apostas para um aumento de 0,25 ponto em julho, atribuindo uma probabilidade de 80% a esse cenário.

Além dos preços, os empréstimos bancários, as condições de crédito e a demanda também sinalizam que o processo de aperto do BCE está surtindo algum efeito, embora o desemprego continue caindo em meio à escassez de trabalhadores.

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O BCE terá que “equilibrar a queda da inflação atual e o enfraquecimento do crescimento do crédito com o aumento persistente dos salários e a inflação dos serviços”, disse Veronika Roharova, responsável por economia da zona do euro no Credit Suisse.

“A surpreendente resiliência do mercado de trabalho e o crescimento dos salários podem aumentar a rigidez da inflação subjacente e levar a um aperto ainda maior.”

Embora os aumentos de juros continuem sendo a principal ferramenta nesse sentido, um balanço patrimonial em retração também pode ajudar.

Cerca de € 477 bilhões (US$ 509 bilhões) em empréstimos baratos e de longo prazo para bancos vencem neste mês e os economistas esperam alguma antecipação. Além disso, o BCE planeja interromper os reinvestimentos de ativos em vencimento adquiridos em seu antigo programa de “quantitative easing” a partir de julho.

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Os entrevistados da pesquisa não veem o BCE acelerando a redução de suas participações em títulos, embora quase dois terços digam que os formuladores de políticas substituirão dívidas de emissores com alto teor de carbono em seu portfólio de títulos corporativos por opções mais verdes.

O balanço patrimonial do BCE deve encolher para € 6,8 trilhões no final do ano e para € 4,4 trilhões no longo prazo, de um patamar de € 7,7 trilhões atualmente.

Com o terreno preparado para mais duas altas de juros, vários economistas consideram as reuniões de junho e julho um trampolim para uma possível mudança de rumo na decisão em setembro.

“Não vejo grandes desafios na próxima reunião”, disse Rainer Singer, economista do Erste Bank. “A atual postura de política monetária deve ser continuada.”

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