Bloomberg Línea — O resultado da inflação de maio medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mostrou nova desaceleração da variação de preços, reforçou as expectativas de economistas de mercado de que o Banco Central poderá iniciar um ciclo de corte de juros no Brasil no segundo semestre. No entanto alguns fatores ainda precisam ser observados e podem pesar na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) durante as próximas reuniões de política monetária.
O IPCA desacelerou para 0,23% em maio após alta de 0,61% em abril e ficou abaixo do esperado por economistas consultados pela Bloomberg (0,33%). No acumulado em 12 meses, o índice caiu para 3,94% em maio, ante 4,2% em abril. A meta de inflação do Banco Central para 2023 é de 3,25%, com intervalo de tolerância para cima até 4,75%.
Segundo economistas, um dos fatores que ainda impedem um corte da Selic é a falta de clareza sobre se a trajetória de desaceleração dos preços irá se manter no segundo semestre quando as deflações de julho, agosto e setembro do ano passado (provocadas pela desoneração de impostos sobre combustíveis e energia) saírem da base de cálculo do IPCA em 12 meses.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o IPCA em 12 meses deve alcançar 3,5% em junho, mas tende a voltar a subir no segundo semestre, justamente por causa do fim do efeito das desonerações na base de cálculo.
“Projetamos, por ora, alta de 6% para o IPCA de 2023, com leve viés de queda. Para 2024, esperamos que a inflação desacelere para 5,5%. Nossa previsão incorpora no cenário uma elevação da meta de inflação, o que abriria espaço para a redução taxa básica de juros a partir de setembro, chegando a 12,5% [ao ano] ao final de 2023. Para 2024, a previsão é que a Selic recue para 11%”, disse.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, avaliou que, por essas e outras razões, o Banco Central só dará início ao processo de cortes na taxa de juros quando tiver certeza de que a inflação está em trajetória estável e em direção à meta e que não acontecerão grandes choques que o façam mudar a rota no meio do caminho.
A avaliação dele é de que o Copom ainda deve manter os juros inalterados na próxima reunião, que acontece nos dias 20 e 21 de junho.
“Acreditamos que a inflação deu sinais de melhora. Esses dados podem ajudar positivamente o cenário do Banco Central e, caso a evolução dos dados continue nessa trajetória, a janela para cortes na taxa de juros começa a se abrir”, diz ele.
“Mas, apesar de ter vindo melhor do que o esperado, acreditamos que a autoridade monetária deve manter a taxa de juros inalterada na próxima reunião do Copom, em junho. A nossa expectativa continua sendo a de cortes em agosto”, afirmou.
A XP Investimentos também disse enxergar um corte na Selic somente em agosto. Segundo os economistas da corretora, o Banco Central deve iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária no terceiro trimestre de 2023, com um corte de 0,25 ponto percentual em agosto, seguido de cortes de 0,50 ponto percentual até a taxa básica atingir 12% ao ano no final de 2023 e 11% no início de 2024.
A XP ainda afirmou que “o Banco Central pode esperar um pouco mais antes de começar a cortar os juros [na reunião de setembro], para ter mais confiança de que as perspectivas de inflação de fato melhoraram”.
Segundo o economista André Perfeito, a queda na inflação representa a hora de “o governo dar os parabéns ao Banco Central mesmo que saibamos que não foi só a política monetária que está jogando os preços para patamares mais civilizados”.
“A hora é de refazer pontes especialmente porque as notícias são boas e um clima melhor entre as instituições pode ajudar no processo de acomodação das taxas de juros”, afirmou.
Para Perfeito, o Copom poderia cortar a Selic já na reunião de junho daqui a duas semanas, mas não é o que vai acontecer. “O que espero é ver sinalizações claras na próxima ata que há espaço para algum afrouxamento monetário no segundo semestre e isso já vai ajudar — e muito — o humor empresarial e a retomada da economia”, disse.
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