Esta ilha chinesa pode conter o segredo de um futuro com carros elétricos

Em Hainan, governo quer acabar com venda de carros movidos a combustíveis fósseis até 2030 e fazer com que elétricos representem 45% da frota

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Bloomberg — Com mais de 75 mil pontos de recarga, os proprietários de veículos elétricos nas áreas urbanas de Hainan, uma ilha no sul da China, geralmente não ficam a mais de um ou dois quilômetros de distância de algum lugar onde possam carregar seus carros.

A extensa rede faz parte de um plano do governo da província para acabar com a venda de carros movidos a combustíveis fósseis até 2030 e fazer com que os veículos elétricos e híbridos representem 45% da frota da ilha – sendo este o primeiro e único lugar na China a estabelecer essa meta.

Seu sucesso pode ajudar a fornecer um modelo para que o resto do país se torne totalmente elétrico no futuro.

A ilha tem algumas vantagens quando se trata de apoiar os veículos elétricos. Ela tem aproximadamente o tamanho da Bélgica, o que significa que a maioria de seus 10 milhões de habitantes faz apenas viagens curtas.

O clima temperado ajuda a prolongar a vida útil da bateria, diferentemente, por exemplo, de Pequim, onde a temperatura pode cair abaixo de zero no inverno.

O governo regional também investiu dezenas de milhões de yuans para subsidiar a compra de veículos elétricos. Tudo isso levou a província a ter a segunda maior taxa de adoção de carros limpos do país no ano passado, com 42% das vendas de novos carros.

O percentual fica atrás apenas do afluente centro financeiro de Xangai (48%), que também concedeu grandes incentivos aos compradores. Todos os táxis e ônibus de Hainan são elétricos.

“A meta certamente será atingida”, disse Zhang Haotian, vendedor da Zeekr, marca de veículos elétricos premium da Zhejiang Geely Holding Group. “O forte apoio do governo de Hainan, bem como o tamanho e o clima da ilha, são perfeitos para ajudá-la a se tornar líder de mercado na adoção de veículos elétricos.”

Quando a Bloomberg News visitou Haikou, capital de Hainan, em meados de maio, havia um carregador para veículos elétricos em quase todos os quarteirões.

Novas tecnologias de bateria também estavam sendo implantadas – a Nio inaugurou sua estação de troca de bateria de terceira geração em Haikou, que pode substituir uma bateria descarregada por uma nova em menos de 5 minutos. A montadora planeja construir mais 1.000 estações de troca de bateria e 10 mil carregadores.

Chen Yeren, morador de Hainan, só ouviu falar da BYD – atualmente a montadora com mais vendas da China – quando lhe ofereceram um emprego em uma concessionária em 2018.

Nos primeiros dois anos, ele dirigiu um carro a gasolina, dizendo que estava hesitante sobre escolher um veículo elétrico. Ele finalmente decidiu fazer a mudança em 2020, comprando um BYD Han, já que a tecnologia da bateria havia melhorado para permitir maior autonomia de direção e mais amigos seus também começaram a comprar carros elétricos.

No trabalho, ele diz que os clientes não precisam ser tão persuadidos a considerar um carro elétrico (a BYD parou de fabricar carros com motor de combustão convencional no ano passado) e mais possíveis compradores chegam à concessionária dizendo que sentem a pressão quando seus amigos abandonam seus carros a gasolina.

“Não acho que a meta de 2030 acrescente qualquer pressão sobre os residentes”, disse Chen. “Os consumidores daqui já consideram os veículos elétricos uma opção melhor quando precisam de um carro novo.”

Pequim acredita que Hainan é um modelo a ser seguido para desenvolver o setor de veículos elétricos em nível nacional, e as autoridades de Hainan foram convidadas por outras províncias para compartilhar a experiência da ilha nos últimos meses.

O próximo desafio será a transição dos veículos comerciais para a eletricidade, pois a economia de custos não é tão alta quanto a dos carros de passageiros. Isso porque é mais caro carregar caminhões e outros veículos pesados.

A China ainda está um pouco longe de banir os carros movidos a combustíveis fósseis. Hainan tem uma alta aceitação de veículos elétricos por ser uma pequena ilha dependente do turismo, mas essas condições não são uniformes em todo o país, de acordo com Yale Zhang, diretor administrativo da consultoria Automotive Foresight.

Outras regiões e países também estão progredindo rapidamente no sentido de eliminar os carros a gasolina. A Noruega, com seus 5,5 milhões de habitantes, deve proibir a venda de carros movidos a combustíveis fósseis até 2025, com os carros elétricos representando mais de 83% das vendas de carros novos do país em abril.

O Reino Unido afirmou que interromperá as vendas de novos carros e vans a gasolina e diesel até 2030, enquanto o Canadá e sete estados dos Estados Unidos, incluindo Califórnia e Maryland, estabeleceram o prazo de 2035.

A tarefa de Hainan provavelmente não é tão difícil quanto em outros países, disse James Chao, diretor de estratégia da consultoria IScann Group.

“Um dos principais fatores do possível sucesso desse programa é o fato de que o preço médio de um veículo elétrico é muito mais baixo na China do que no resto do mundo”, disse Chao, que também dirige a divisão automotiva da consultoria

“O preço acessível dos veículos elétricos tem sido um problema na Europa e nos EUA, mas na China é uma questão muito menor. Isso faz com que a chance de sucesso em Hainan seja muito maior que em outras regiões”, disse ele.

-- Com a colaboração de Chunying Zhang.

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