Perspectiva de corte da Selic alimenta mercado de crédito após caso Americanas

Com apostas de corte da taxa básica em agosto, vendedores de dívida privada começam a testar sentimento do investidor com novas emissões

Perspectiva de corte da Selic alimenta mercado de crédito após caso Americanas
Por Giovanna Bellotti Azevedo
02 de Junho, 2023 | 04:09 PM
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Bloomberg — Investidores começam a enxergar sinais mais positivos para o mercado de crédito local, que tem sido impactado pela taxa Selic de dois dígitos e por dificuldades do cenário corporativo.

O desespero por condições de crédito mais acessíveis é perceptível nove meses depois que o Banco Central fixou a taxa de juro de referência em 13,75%. As emissões de títulos ainda sofrem para ganhar força, as falências crescem e os investidores sacam recursos dos fundos de crédito.

Mas em um ambiente de juros elevados e de consequências negativas oriundas da implosão da Americanas (AMER3), a inflação começa a ceder. Isso aumenta as expectativas de uma mudança na política monetária que revigoraria o mercado de títulos local.

“Acho que o mercado melhorou, mas é importante ressaltar que as coisas no Brasil mudam o tempo todo”, disse Bruno Stuani, diretor da Plural Gestão, uma unidade de gestão de ativos da Genial Investimentos. “Temos a tendência de extrapolar as coisas e pensar que elas vão durar para sempre.”

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Expectativa de corte da Selic alimenta mercado de crédito após crise da Americanas. Fonte: Dados do banco ABC Brasil e da B3 compilados pela Bloomberg

Embora ainda limitada, a sensação de alívio já começa a se espalhar. A curva de juros futuros elevou as apostas de que o BC iniciará seu ciclo de corte de juros em agosto, depois que a inflação caiu para 4,07% em meados de maio na base anual, de um pico de 12,2% visto no ano passado.

Até mesmo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, conhecido por sua abordagem cautelosa, disse que enxerga “sinais positivos à frente” para o cenário de inflação do país — uma surpresa bem-vinda para aqueles que, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, querem ver uma queda da Selic.

“O clima está sendo impulsionado pelo fator da inflação e também por um forte consenso de que os EUA estão chegando ao fim de seu ciclo de aperto”, disse Daniel Pegorini, CEO da gestora Valora. “Estamos começando a ver uma reação sustentada.”

Sinais sutis

Por enquanto, porém, qualquer mudança real nos mercados está restrita à percepção.

O prêmio exigido pelos investidores para carregar debêntures indexadas ao IPCA em relação aos rendimentos dos títulos do Tesouro americano continua muito mais alto do que na virada do ano, embora tenha diminuído ligeiramente em maio, de acordo com dados compilados pelo Banco ABC.

O mesmo vale para sinais de descongelamento nos principais mercados de dívida do país. As empresas e autoridades brasileiras venderam apenas US$ 12 bilhões em títulos nos mercados globais e locais este ano até o final de maio - uma queda de 51% em relação ao mesmo período de 2022, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O lado positivo é que os vendedores de dívida privada novamente começaram a testar o sentimento do investidor com novas emissões em andamento. A 3R Petroleum (RRRP3) disse neste mês que aprovou um plano para vender R$ 3,5 bilhões em debêntures, enquanto a Aegea Saneamento e Participações SA trabalha com bancos para emitir pelo menos R$ 3 bilhões em títulos locais.

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Qualquer uma das emissões - se realmente precificada - deve se tornar a maior venda de títulos em reais desde que a Americanas descobriu um buraco contábil de R$ 20 bilhões que a levou a pedir recuperação judicial e fez com que os bancos recuassem na concessão de crédito.

Esse escândalo, disse Stuani, da Plural Gestão, é responsável por parte do escrutínio extra sobre as empresas que buscam financiamento.

“Mas conforme nos afastamos desse evento, não houve outros casos semelhantes”, disse ele. “O mercado tende a ficar mais confiante.”

-- Com a colaboração de Felipe Saturnino e Cristiane Lucchesi.

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