A startup brasileira que atraiu o Goldman em investimento de US$ 60 milhões

Rodada da Digibee, que atua com plataforma de integração para conectar empresas ao mundo digital, teve ainda participação do fundo de espanhol K Fund, em seu primeiro aporte no Brasil

Rodada da Digibee foi liderada pelo banco americano Goldman Sachs e totalizou US$ 60 milhões (Foto: Scott Eells/Bloomberg)
02 de Junho, 2023 | 07:31 PM

Bloomberg Línea — A startup brasileira de software Digibee anunciou nesta semana um aporte de pouco mais de US$ 60 milhões liderado pelo Goldman Sachs (GS) em uma rodada Série B.

O investimento foi oversubscribed, o que significou que houve demanda acima da oferta. A maior parte do dinheiro vai para o caixa da empresa, mas também houve liquidez para investidores de estágios iniciais por meio de uma oferta secundária.

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O aporte teve participação do K Fund, gestora da Europa que investiu pela primeira vez na América Latina, da Vivo Ventures, braço de investimentos da Vivo, e das gestoras brasileiras Kinea, do Itaú, e G2D, que já eram investidoras e acompanharam a rodada para não serem diluídas.

No início do mês, um investidor não revelado vendeu uma participação de 3,7% na Digibee para a Staged Ventures por US$ 8 milhões, segundo dados do PitchBook, o que avaliaria a empresa em US$ 216 milhões. Transações no mercado secundário de forma geral representam um valuation menor. Em julho do ano passado, a empresa foi avaliada em US$ 272 milhões, segundo o PitchBook.

Desta vez, o aporte representou um “up round [aumento do valuation] significativo”, disse o CEO Rodrigo Bernardelli à Bloomberg Línea, em um cenário em que as avaliações estão pressionadas pelo custo do capital com as taxas de juros mais elevadas. A Digibee não divulgou o valuation.

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A Digibee tem sede na Flórida, dado que o mercado americano é o foco da empresa desenvolvedora de uma plataforma de integração híbrida para conectar companhias ao mundo digital. A plataforma promete integrações mais rápidas com a automação de operações.

“Por que vamos nos limitar ao mercado nacional? Vamos ao mercado mais competitivo do planeta, que responde por 55% do market share global”, disse o CEO. “Vamos investir não somente em geração de demanda como em uma força de vendas mais presente. E também investir em funcionalidades e capacidades da nossa plataforma para melhor atender os mercados”.

É a maior rodada de equity em uma startup na América Latina nos últimos meses, com uma sinalização de que os investidores estrangeiros estão interessados em internacionalizar a empresa.

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O Sling Hub divulgou que as startups da região receberam US$ 436 milhões em abril, um crescimento de 78% em relação a março, embora ainda uma queda de 48% ano contra ano.

“Foi uma rodada 100% de equity, a primeira grande rodada na América Latina nos últimos 12 meses”, disse um investidor familiarizado com o assunto. Esse investidor citou que, desde julho de 2022, houve uma extensão de US$ 18 milhões da Pomelo, uma Série B de US$ 27 milhões da Agrolend e US$ 60 milhões para a Clara, que teria sido um down round com componentes de dívida, segundo essa pessoa.

Para Bernardinelli, talvez os empreendedores da América Latina tenham uma vantagem porque no histórico não havia tanto capital de risco para investimentos como nos EUA.

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“Os empreendedores da América Latina normalmente começam ali, bootstrapping mesmo. Eles começam trabalhando ou pagando do seu próprio bolso. Nós sempre tivemos austeridade na gestão do caixa.” Ele disse que conversou com mais de 100 fundos nos últimos meses, mas escolheu o Goldman por oferecer os caminhos para expansão nos EUA.

Em fevereiro do ano passado, a Digibee tinha recebido US$ 25 milhões em seu aporte Série A liderado pelo então fundo para early stage do Softbank Latin America Fund, cuja carteira agora pertence à Upload Ventures, com a missão de internacionalizar para os EUA. Antes, a startup já havia recebido US$ 6 milhões em um investimento Seed em fevereiro de 2019.

IPO no horizonte

Fundada em 2017 no Brasil, a Digibee vai usar o dinheiro captado para expansão e aumentar a participação de mercado nos Estados Unidos. A startup tem quase 300 funcionários, depois de ter começado com três executivos da indústria de software. “Começamos a startup já mais alinhada, conhecendo muito bem a indústria e as demandas de grandes clientes”, disse Bernardinelli.

A empresa mira um IPO em três a cinco anos e já tem cerca de 20 clientes nos Estados Unidos, a maior parte de varejo.

“Estamos contratando profissionais americanos com essa capacidade de levar a empresa para fora, para expandir globalmente”, disse o CEO.

O Goldman Sachs vai acelerar a expansão da startup nos EUA. A razão do aporte, segundo Natan Reinig, vice-presidente de Growth e Private Equity do banco americano, é que a solução desenvolvida pela Digibee tem apoiado grandes clientes em setores relevantes, como o bancário e o varejo.

“Com o investimento, a empresa irá expandir a participação de mercado na América Latina e nos Estados Unidos”, disse em comunicado à imprensa. Entre os concorrentes estão grandes empresas como IBM e Oracle e menores como a plataforma de integrações Workato.

No Brasil, a Digibee tem clientes como Itaú, B3, Assaí, Carrefour, Dasa, Fleury, GoPro, Vivara, CIMED, Bauducco e IBM.

Para Hillel Moerman, managing director do Goldman Sachs, o mercado de plataformas de integração empresarial é um dos mais promissores globalmente. “Este anúncio de parceria com a Digibee reforça a contribuição do nosso negócio de Growth Equity na América Latina e nos Estados Unidos”, disse em comunicado.

A Goldman Sachs Asset Management supervisiona mais de US$ 2,5 trilhões em ativos globais, segundo dados de 31 de dezembro de 2022, em todo o espectro de investimentos alternativos, incluindo private equity, growth equity, crédito privado, real estate e infraestrutura.

Desde 2003, o negócio de Growth Equity do banco investiu mais de US$ 16 bilhões em companhias em estágio de crescimento em tecnologia empresarial e financeira, consumo e saúde.

Já o K Fund já captou mais de € 500 milhões (R$ 2,71 bilhões) e investe cheques desde R$ 542 mil a R$ 54,2 milhões. “A Digibee desenvolveu uma tecnologia que pode ser exportada, com claro diferencial competitivo”, disse Gustavo Ribas, sócio do K Fund e líder da gestora para América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea. O K Fund pretende, além do aporte financeiro, também ajudar a startup com contatos e conhecimento para sua expansão na Europa em um segundo momento.

O fundo espanhol tem parte do dinheiro reservado para investimentos na América Latina, contando com grande número de startups em fase de análise em seis países: Brasil, México, Colômbia, Argentina, Uruguai e Chile. “Há muita startup na América Latina que desenvolve tecnologia diferenciada, com potencial de competir a nível global. Queremos investir nesses futuros players globais”, disse Ribas.

“Nosso fundo de early growth tem € 250 milhões, dos quais de um mínimo de 25% a um máximo de 50% serão investidos na América Latina”, contou. “A rodada mostra que o mercado brasileiro de VC segue forte, que existe capital para as boas empresas. A Digibee captou uma das rodadas mais significativas dos últimos 12 meses porque seu produto tem claros diferenciais”, disse o investidor.

Já a Vivo Ventures, lançada em abril de 2022, tem R$ 320 milhões para investir em startups em fase de crescimento nas áreas de entretenimento, smart home, marketplace, saúde, finanças, energia e educação. O braço de corporate venture capital aporta cheques médios de cerca de R$ 25 milhões.

- Matéria corrigida às 13h30 de segunda-feira (5 de junho) com a informação do ano de fundação da Digibee, em 2017.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups