Sinalizações de pausa do Fed em junho tiram pressão sobre expectativa do payroll

Relatório de empregos que será divulgado amanhã (2) costuma ser visto por Wall Street como um dado que influencia a política monetária

Autoridades do Fed dão sinais de que planejam deixar os juros estáveis em junho
Por Steve Matthews
01 de Junho, 2023 | 03:57 PM

Bloomberg — Autoridades do Federal Reserve dão sinais de que planejam deixar os juros estáveis em junho com a opção de elevar a taxa nos próximos meses, orientando as expectativas do mercado antes de um relatório-chave de emprego.

O governador do Fed, Philip Jefferson, um centrista indicado para vice-presidente da instituição e que muitas vezes ecoa as opiniões do presidente Jerome Powell, disse na quarta-feira (31) que não subir a taxa de juros daria tempo às autoridades para avaliar os dados, mas não impediria um futuro aperto.

PUBLICIDADE

Essa visão diminui a importância do relatório mensal de empregos, previsto para sexta-feira (2), que costuma ser visto por Wall Street como um dado importante que influencia a política monetária.

Depois da fala de Jefferson, as apostas de investidores em um aumento pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) na reunião de 13 a 14 de junho caíram para cerca de 35% na quarta-feira (31), em relação a quase 60% no dia anterior.

“Definitivamente acho que isso foi um sinal” e “provavelmente em sincronia com as opiniões do presidente Powell”, disse Rubeela Farooqi, economista-chefe para EUA da High Frequency Economics. “Só a resposta da precificação do mercado deixa claro que a mensagem está sendo transmitida.”

PUBLICIDADE

O Fomc elevou os juros em 5 pontos percentuais nos últimos 14 meses para frear a inflação, equivalente a mais que o dobro da meta de 2%.

Com a taxa de referência agora no intervalo de 5% a 5,25%, após uma alta de 0,25 ponto percentual no início de maio, Powell disse que o Fed pode se dar ao luxo de observar os dados e o cenário em evolução.

O argumento para a suspensão dos aumentos se baseia na ideia de que a política monetária funciona com defasagem, por isso o impacto das altas anteriores dos juros ainda não pesou totalmente na economia e no mercado de trabalho.

PUBLICIDADE

Além disso, quebras recentes de bancos resultaram em condições financeiras mais apertadas, o que reduzirá a disponibilidade de crédito em um volume incerto, o que afeta ainda mais o cenário.

“Pular um aumento de taxa em uma próxima reunião poderia permitir ao comitê ver mais dados antes de tomar decisões sobre a extensão da firmeza adicional da política”, disse Jefferson.

No Fed, o vice-presidente costuma falar em nome do banco central. Embora Jefferson ainda não tenha sido confirmado pelo Senado, economistas interpretaram seus comentários como um reflexo da visão do presidente do Fed.

PUBLICIDADE

Os comentários de Jefferson “parecem uma campanha”, disse Stephen Stanley, economista-chefe do Santander US Capital Markets, em Nova York. “Ele está levando a sério seu novo papel como braço direito de Powell e vice-presidente.”

Relatório de empregos

A mensagem foi ecoada na quarta-feira pelo presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker, que também defendeu uma pausa em junho, enfatizando que as autoridades poderiam mudar de posição em todas as outras reuniões, caso precisem continuar a subir os juros.

Há uma boa razão para o Fed querer se adiantar a um relatório de empregos (o Payroll) potencialmente aquecido.

Os dados do governo na sexta-feira devem mostrar que a maior economia do mundo criou 195 mil vagas em maio, mas o dado inicial tem superado a projeção média no último ano.

A expectativa é de que os salários tenham subido 0,3% em relação ao mês anterior, quando registraram o maior avanço em um ano. A taxa de desemprego deve aumentar em 0,1 ponto percentual para 3,5%.

“A reação imediata do mercado a um relatório de empregos forte parece ser automaticamente ‘hawkish’, mas acho que isso é muito simplista”, disse Luke Tilley, economista-chefe da Wilmington Trust Corp.

“Já vimos a inflação se desacelerar significativamente, mesmo com os salários ainda um pouco mais aquecidos do que os níveis pré-pandemia. Isso pode e deve levar o Fomc a reavaliar sua visão sobre a conexão entre os dois.”

Qualquer pausa tende a enfrentar certa resistência, já que vários presidentes do Fed, incluindo Loretta Mester, de Cleveland, e James Bullard, de St. Louis, sugeriram que há mais trabalho a ser feito para esfriar uma economia forte e uma inflação elevada.

O rastreador do PIB do Fed de Atlanta sinaliza que, até o momento, a economia cresce a uma taxa de cerca de 1,9% no segundo trimestre.

-- Com a colaboração de Vince Golle e Matthew Boesler.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também:

Rali das ações tech tem fôlego para continuar? Citi e Barclays divergem

Brex, dos brasileiros Dubugras e Franceschi, cresce 50% após quebra do SVB