Healthtech Sami recebe US$ 18 milhões da Redpoint e de fundo espanhol

Nova rodada de investimento, segundo os fundadores a um valuation maior que o anterior, embora não divulgado, vai fornecer capital de giro para sustentar o crescimento

A Sami é uma startup de planos de saúde para micro e pequenas empresas que pretende atrair clientes insatisfeitos com as operadoras atuais
01 de Junho, 2023 | 12:04 PM

Bloomberg Línea — A Sami, startup de planos de saúde para micro e pequenas empresas, anunciou nesta quinta-feira (1) que recebeu uma rodada de investimentos de US$ 18 milhões (cerca de R$ 90 milhões), liderada pela Redpoint eventures e Mundi Ventures.

“Acabamos levantando mais capital do que imaginávamos no começo”, disse o médico Vitor Asseituno, co-fundador da startup, em entrevista à Bloomberg Línea. A rodada pretende criar condições para que a Sami se aproxime do breakeven (ponto de equilíbrio financeiro) “provavelmente no ano que vem”.

O Redpoint eventures já tinha participado do Seed da Sami, enquanto a Mundi Ventures é um novo investidor para a startup, trata-se de um fundo espanhol com foco em startups do setor de seguros. A rodada fornecerá capital de giro para sustentar o crescimento da Sami, além de investimentos em tecnologia e melhorias na experiência do cliente.

O aporte também contou com a participação de Alumni Ventures, Endeavor Catalyst, Digital Horizon, Tau Ventures e foi acompanhada pelos atuais investidores Monashees, Valor Capital, Kevin Efrusy (Accel), Ricardo Marino (Itaú), Mancora Ventures, Mauro Figueiredo (ex-diretor da Bradesco Saúde) e Brad Otto (ex-executivo de Corporate Venture Capital - CVC - da UnitedHealth Group, dona da Amil).

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O aporte acontece três semanas depois de outro movimento no segmento, da Alice, que comprou a carteira de clientes da concorrente Qsaúde e mais do que dobrou de tamanho (leia mais abaixo), sinalizando o interesse de investidores e a resiliência de alguns modelos de negócios na saúde.

“É um momento em que não só o mercado de venture capital mudou mas a saúde também. Vemos prejuízo recorde dos planos de saúde, além de reajustes recordes. Tenho visto startups fazendo desligamentos por causa dos reajustes dos planos de saúde”, afirmou Asseituno. Nesse cenário, a Sami busca oferecer uma alternativa mais barata de planos privados.

Fundada em 2018, a startup prevê atingir 27 mil clientes neste ano. Segundo Asseituno, a empresa tem apresentado um crescimento consistente e dobrou sua receita no último ano para R$ 60 milhões. O plano é crescer novamente 100% neste ano, para R$ 120 milhões.

O modelo de negócio pressupõe uma receita recorrente, já que os clientes pagam mensalidades pelos planos de saúde. Isso proporciona um fluxo de caixa estável quando a desistência é controlada.

“Sempre tivemos margem, desde o começo do nosso primeiro produto. Agora parece que todo mundo quer ter margem desesperadamente”, disse Guilherme Berardo, CEO da startup, sem abrir o dado.

“Temos uma máquina muito eficiente. Com muito menos capital conseguimos um tamanho de membros bastante significativo”, disse Asseituno.

“Sabemos que o mercado não está com muitas rodadas e, quando acontece, são a valuations estáveis ou abaixo [down round]. Nós não vamos anunciar o valuation, mas é maior que o anterior”, disse. “Mostra a confiança dos investidores no que estamos fazendo”, disse.

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A Sami havia recebido anteriormente quase US$ 20 milhões em financiamento liderado pela DN Capital em dezembro de 2021.

A Lakewood Investment Management, a Tau Ventures, a ScaleUP Ventures, a StartUp Health e o investidor Paulo Veras, co-fundador da 99, também participaram da rodada, segundo o PitchBook.

Anteriormente, a empresa também havia levantado US$ 19,7 milhões em financiamento de série A1 do The Fund em setembro de 2021. Não foi só equity (participação no capital), segundo o PitchBook: uma parte desse financiamento teria sido na forma de notas conversíveis.

Mercado competitivo

O mercado de operadoras de saúde no Brasil é considerado por analistas altamente competitivo, com a presença de grandes operadoras, como Bradesco Saúde, Amil e SulAmérica, entre outras. O setor é regulamentado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que estabelece regras e diretrizes para as operadoras de planos de saúde.

“O mercado é gigantesco. Um plano de saúde é a maior coisa que você pode construir no setor”, disse Asseituno. “Dá para construir uma empresa com 20 milhões de clientes no Brasil e ainda existirem três ou quatro do mesmo tamanho.”

Há ainda a presença do Sistema Único de Saúde, o SUS, que oferece serviços gratuitos para a população e atende a mais de 75% da população brasileira.

As operadoras de saúde privadas, por outro lado, enfrentam desafios como aumento dos custos médicos, pressão regulatória, necessidade de inovação em serviços e de modelos de negócios, além da necessidade de garantir uma oferta de qualidade aos beneficiários.

A Alice, uma das maiores healthtechs do Brasil e da América Latina, recentemente concluiu a aquisição da carteira de clientes da concorrente Qsaúde, do empresário José Seripieri Júnior, fundador da Qualicorp. A empresa passará da carteira atual de 11 mil clientes para perto de 30 mil, com concentração na região metropolitana de São Paulo, enquanto a receita saltará de R$ 100 milhões para mais de R$ 250 milhões ao ano.

“A Alice trabalha mais para um público premium e individual, enquanto nós trabalhamos mais o segmento mid-level. E a carteira da Sami é 100% empresarial. Quando olhamos que os clientes da Sami chegam sem plano de saúde, vemos que estamos ‘desafogando’ o SUS”, disse o co-fundador da startup.

“Fomos os primeiros no Brasil a vender plano de saúde sem corretor. Os primeiros a vender um plano empresarial 100% digital. E agora estamos aumentando os canais”, disse Asseituno. A Sami está adicionando um canal de vendas por corretores, atingindo quem já tem plano, mas está infeliz com ele.

Na rede da healthtech há 49 hospitais contratados. De 2022 para 2023, a startup aumentou em 204% a rede de especialistas, hospitais, clínicas, laboratórios. “O breakeven é uma consequência”, disse.

Segundo Asseituno, a Sami passou por mudanças desde a última captação. Com o aumento do interesse dos investidores por rentabilidade e crescimento, a empresa teve que se adaptar e ajustar seus planos para atender às demandas do mercado - houve corte de funcionários.

Para o co-fundador, diferentemente de algumas startups, a Sami não criou um produto completamente novo e desconhecido, mas buscou identificar uma necessidade no mercado de planos de saúde e desenvolveu uma oferta para atendê-la. Asseituno disse que a empresa já conquistou uma base que considera sólida de clientes, uma vez que o setor de saúde é essencial e possui uma demanda constante.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups