Shein e AliExpress: queda de 20% nas importações é sinal de alerta, diz Santander

Dados do BC revelam em abril maior recuo de compras de pequeno valor do exterior desde 2020, um indicador antecedente do negócio, apontam analistas do banco

Vendas da Shein no Brasil enfrentam possivelmente desaceleração das vendas, segundo análise do Santander (Foto: Noriko Hayashi/Bloomberg)
30 de Maio, 2023 | 08:11 PM

Bloomberg Línea — O cenário de crescimento de plataformas globais de e-commerce no Brasil recebeu um sinal de alerta, segundo análise recém-divulgada da equipe de research do Santander Brasil (SANB11).

O volume de importações de mercadorias de baixo valor, que serve como um indicador antecedente do desempenho de empresas de comércio internacional como as chinesas Shein e AliExpress, do Alibaba (BABA), teve queda de 20% em abril na comparação anual. Foi o primeiro declínio ano a ano desde maio de 2020, segundo dados recém-divulgados pelo Banco Central.

Os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, que assinam o relatório do Santander, apontam que a queda aconteceu justamente no momento das discussões do governo Lula para tributação de compras de até US$ 50 em plataformas estrangeiras.

Na comparação de março para abril, a queda nas compras de baixo valor em plataformas do exterior foi de 25%, de US$ 938 milhões para US$ 700,9 milhões. Em abril de 2022, o valor havia sido de R$ 877,7 milhões.

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Os analistas do Santander apontaram que vários fatores, incluindo o ambiente macroeconômico desafiador, contribuíram para a queda. Mas o principal motivo, em sua visão, parece ser o aumento das preocupações dos consumidores sobre a possibilidade de tributação em compras de outros países.

O governo brasileiro decidiu por ora suspender a tributação de compras de até US$ 50, que atualmente estão isentas, mas ainda tem se manifestado sobre possíveis mudanças no sistema de compras de outros países. Há a discussão de propostas para realizar o pagamento de impostos de importação no momento da compra em marketplaces online, como acontece na Europa.

Segundo os analistas, à medida que as discussões sobre tributação do comércio eletrônico internacional se intensificam, os preços desses produtos importados podem aumentar, criando desafios para empresas como Shein, Shopee e AliExpress. Essas três grandes plataformas estão em um esforço comercial para ampliar a fatia de “envios nacionais”, ou seja, vendas dentro do território brasileiro.

A Shopee, que pertence ao grupo Sea, de Singapura, tem buscado se distanciar da imagem de site de compras estrangeiro e tenta se estabelecer como uma plataforma que conecta vendedores e usuários brasileiros, assim como concorrentes com ampla presença no país como o Mercado Livre (MELI), segundo uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg Línea.

A empresa diz que 85% dos produtos vendidos no Brasil são de vendedores locais que anunciam na plataforma.

A Shein, por sua vez, fabrica suas próprias roupas, a maior parte na China, e disse que passará a produzi-las de forma crescente e gradual no Brasil para atender o mercado latino-americano, na esteira das discussões sobre taxação de importados com o governo. O plano é chegar a 85% em 2026. O AliExpress também tem vendedores no Brasil, ainda que a maior parte das vendas ainda seja internacional.

Segundo analistas, isso pode ter implicações positivas para empresas locais, especialmente varejistas de vestuário, como Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3), dado que terão que operar com custos semelhantes, incluindo os trabalhistas e os tributários. Essas empresas enxergam a Shein como uma ameaça à sua participação de mercado no Brasil, segundo os analistas do Santander.

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Produção no Brasil

No contexto das discussões sobre a tributação de baixo valor, a Shein fechou um acordo com a Coteminas, empresa do ramo têxtil controlada pela família do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, para produzir localmente e de forma gradual nos próximos anos a maior parte das roupas vendidas em sua plataforma no Brasil.

O memorando de entendimento com a Shein prevê esforço conjunto para que 2.000 empresas parceiras da Coteminas se tornem fornecedoras da gigante asiática no Brasil. O acordo contempla financiamento de capital de giro e um contrato de exportação de produtos. Os valores não foram informados.

A Shein disse que pretende investir inicialmente R$ 750 milhões para fornecer tecnologia e treinamento aos fabricantes para que possam “atualizar seus modelos de produção tradicionais para o modelo sob demanda da Shein”, conhecido como fast fashion.

Procuradas pela Bloomberg Línea, a Shein e a Shopee não quiseram comentar. A AliExpress não respondeu ao pedido de comentário até o momento de publicação.

- Com a colaboração de Juliana Estigarríbia.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups