Mudança climática vai elevar inflação e taxa de juros na próxima década, diz BCE

Estudo do Banco Central Europeu surge em um momento de maior interesse de governos e investidores no impacto abrangente da mudança climática

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Bloomberg — A mudança climática tende a elevar a inflação global em até um ponto percentual a cada ano, à medida que os custos dos alimentos sobem, de acordo com uma nova pesquisa do Banco Central Europeu (BCE).

Em relatório publicado na semana passada, analistas previram que, com o aumento das temperaturas, a inflação anual deve subir entre 0,32 e 1,18 ponto percentual até 2035. Esse aumento vai criar problemas para os consumidores e também para autoridades como o BCE, cuja meta é manter a inflação em 2%.

“A mudança climática traz riscos à estabilidade de preços por ter um impacto ascendente na inflação”, disseram os pesquisadores Maximilian Kotz, Friderike Kuik, Eliza Lis e Christiane Nickel. Isso “colocaria a renda global sob pressão devido aos preços crescentes e poderia impactar as expectativas de inflação, exigindo, assim, uma reação da política monetária”.

Temperaturas mais altas vão impulsionar a inflação anual de alimentos entre 0,92 e 3,23 pontos percentuais, segundo o estudo.

Embora o chamado “Sul global”, onde as temperaturas são mais altas, deva enfrentar mais problemas, isso também vai trazer desafios específicos para blocos econômicos como a União Europeia. Isso porque as variações climáticas devem ampliar as diferenças de preços na região.

A pesquisa, cuja premissa é de que não haverá novas tecnologias que ajudem na necessidade de adaptação climática “sem precedentes históricos”, surge em um momento de maior interesse de governos e investidores no impacto abrangente da mudança climática.

Analistas do Barclays disseram em relatório que a transformação do mundo em direção a uma economia de carbono zero vai levar a uma inflação geralmente mais alta e a um aumento da taxa de juros real neutra na próxima década.

“Pelo menos nos primeiros cinco a 10 anos, parece mais realista que o choque negativo de oferta que empurra a inflação para cima domine e que os bancos centrais não o neutralizem totalmente”, escreveram analistas do Barclays, entre eles Christian Keller.

“A precificação de taxas reais de longo prazo e da inflação não parece refletir isso.”

Um indicador do mercado que prevê a inflação europeia na segunda metade da próxima década está atualmente em torno de 2,5%, ainda acima da meta do BCE. A alta dos preços dos alimentos nos últimos 12 meses ajudou a impulsionar uma inflação sem precedentes e maiores taxas de juros na zona do euro.

Os pesquisadores do BCE também disseram que temperaturas mais altas vão mudar a sazonalidade da inflação.

“A natureza caótica das anomalias de temperatura implica aumentos de preços mais rápidos e de curto prazo devido a verões excepcionalmente quentes, como na Europa em 2022”, destaca o estudo.

“Esses choques adicionais nos preços – que ocorrem em intervalos imprevisíveis, mas com intensidade crescente – representariam desafios adicionais para a política monetária.”

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