Bloomberg — Mesmo dividendos recordes não estão atraindo investidores o suficiente para apostarem em ações que consideram mais vulneráveis em uma recessão.
As grandes pagadoras de proventos nos setores financeiro, de energia e mineração estão ficando para trás dos índices este ano, com os investidores trocando nomes cíclicos pelas indústrias defensivas e de crescimento.
Isso colocou o rendimento de dividendos entre os fatores de investimento de pior desempenho na Europa e nos Estados Unidos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Os riscos de uma recessão estão aumentando na Europa e nos EUA, com o momento de um pico nas campanhas de aumento de juros dos bancos centrais ainda em debate.
Empresas com balanços patrimoniais robustos, crescimento de lucro e potencial de expansão têm sido bem recebidas por investidores, enquanto há incerteza sobre se aquelas conhecidas pelo forte pagamento de dividendos conseguirão manter sua consistência em tempos mais difíceis.
A recente turbulência bancária também deixou os traders cautelosos com o setor financeiro.
A preocupação é “quão sustentável é o crescimento para as empresas que estão distribuindo altos dividendos”, disse Luke Barrs, chefe global de gestão de portfólio da Goldman Sachs Asset Management, em entrevista à Bloomberg News.
Embora o dividendo em si seja algo muito valioso, “a única maneira de sustentá-lo ao longo do tempo é continuar a aumentar os ganhos subjacentes dentro do negócio”, acrescentou.
Os dividendos globais saltaram 12% para um recorde de US$ 327 bilhões no primeiro trimestre, impulsionados por pagamentos especiais únicos, de acordo com a gestora Janus Henderson.
E as empresas europeias estão a caminho dos maiores pagamentos anuais de todos os tempos, com o valor do índice Stoxx Europe 600 estimado em 400 bilhões de euros (US$ 432 bilhões) em 2023, mostram as previsões de dividendos da Bloomberg.
Ainda assim, alguns sinais de alerta estão surgindo. Na mineração, um setor conhecido por grandes pagamentos, preços de metal em queda e uma recuperação desigual na China têm sido um empecilho – as gigantes BHP Group e Rio Tinto cortaram seus dividendos no início deste ano.
Entre outras, a empresa de roupas esportivas Adidas reduziu os pagamentos, enquanto a empresa imobiliária sueca conhecida como SBB interrompeu os dividendos, sinalizando turbulência no setor.
Os proventos da mineração global caíram um quinto no primeiro trimestre, de acordo com a Janus Henderson. Bancos e produtores de petróleo, por outro lado, foram os que mais contribuíram para o crescimento dos pagamentos.
Regionalmente, a Europa parece forte por enquanto. Em um grupo de empresas monitorado pela Janus Henderson, 96% aumentaram os pagamentos ou os mantiveram estáveis nos primeiros três meses do ano. E a empresa espera que os dividendos cresçam ainda mais no segundo trimestre.
Stephen Payne, gerente de portfólio da equipe global de renda variável da Janus Henderson, disse que o baixo desempenho deste ano em pagadoras de dividendos se deve principalmente à rotação em ações de crescimento e tecnologia, à medida que os traders apostam em um pico de taxas.
Ele disse ver a estratégia voltando a valer se os EUA e a Europa conseguirem evitar uma recessão neste ano.
As estratégias de dividendos tendem a ter um desempenho superior no longo prazo, provando ser particularmente fortes durante ciclos de alta do mercado. Elas venceram os índices por amplas margens durante 2009-2011 e novamente entre 2018 e 2020.
“Alguns desses setores de alto rendimento de dividendos são relativamente cíclicos. Assim, como o mercado se tornou um pouco mais cauteloso em relação à exposição cíclica, isso contribui para o diferencial desse fator”, disse Payne em entrevista por telefone. “A atração das estratégias de dividendos permanece e veremos mais interesse nesses setores.”
-- Com a colaboração de Dorin Ursu.
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