Bloomberg — Espera-se que mais de 42 milhões de americanos tenham viajado neste fim de semana para o feriado prolongado do Memorial Day, dando início ao que deve ser um verão com recordes de viagens. Mas, neste ano, o preço das passagens aéreas não é o único obstáculo para aqueles que buscam uma mudança de cenário: as regras mais rígidas de trabalho presencial restringiram a liberdade que muitos trabalhadores de escritórios obtiveram nos meses e anos após o início da pandemia.
Uma solução que surge é o trabalho híbrido que oferece um determinado período de tempo – geralmente de duas a quatro semanas – para que os funcionários trabalhem remotamente.
As chamadas semanas de “trabalho de qualquer lugar” ainda são relativamente incomuns, de acordo com Rob Sadow, CEO da Scoop Technologies – uma empresa que monitora as políticas de trabalho remoto em mais de 4 mil empresas.
No entanto, recentemente, algumas empresas de grande porte adotaram a política, do setor financeiro, como American Express (AXP), Visa (V) e Mastercard (MA), entre as big techs, como Google, da Alphabet (GOOGL), até pequenas startups, empregadores com regras mais liberais, como a Patagonia, e outras que contam com dinheiro público como a Freddie Mac.
Normalmente, os funcionários têm a opção de usar suas semanas de trabalho remoto quando for mais conveniente ao longo do ano. Algumas empresas adotam uma abordagem mais estruturada: embora o banco não tenha adotado essa política oficialmente, no ano passado o Citigroup (C) permitiu que seus funcionários trabalhassem remotamente nas duas últimas semanas de agosto e dezembro.
Algumas organizações, como a Freddie Mac, especificam que as semanas devem ser usadas de forma não consecutiva.
“Curiosamente, as empresas que implementam semanas de ‘trabalho de qualquer lugar’ geralmente o fazem ao mesmo tempo em que exigem mais rigorosamente a presença no escritório” para reduzir a resistência dos funcionários, disse Sadow.
Esses acordos visam proporcionar liberdade de movimento – principalmente nos feriados prolongados e durante as férias de verão – e, ao mesmo tempo, manter exigências mais amplas de retorno ao escritório.
E, em um mercado de trabalho surpreendentemente apertado em termos de oferta vs. demanda, mesmo com os cortes nos orçamentos das empresas, os empregadores consideram as semanas de trabalho remoto como uma forma econômica de atrair e reter seus melhores funcionários.
“Para os funcionários com pais, familiares e amigos em regiões ou países distantes, isso pode significar um mês inteiro juntos”, disse Prithwiraj Choudhury, professor da Harvard Business School que estuda o trabalho remoto. “Acho que é uma ótima ideia.”
Para a Mastercard, a oferta de quatro semanas de trabalho remoto surgiu como uma forma de baixo custo – juntamente com outras ofertas como dias sem reuniões e sextas-feiras com horário flexível – para a empresa se diferenciar como empregadora.
“Se funcionou naquela época, funciona agora”, disse o diretor de pessoal da Mastercard, Michael Fraccaro, sobre o trabalho remoto, às vezes de locais distantes, durante a pandemia.
O próprio Fraccaro usa o benefício, que foi implementado no ano passado, combinando duas semanas de férias remuneradas com duas semanas de trabalho remoto para passar mais tempo com seus pais idosos na Austrália. “Faz parte de uma gama de benefícios”, disse Fraccaro. Além dos benefícios financeiros, como planos de aposentadoria, “uma das coisas que as pessoas estão procurando é tempo”.
Funcionários precisam manter desempenho
É claro que o benefício vem acompanhado de considerações práticas: os funcionários precisam ajustar seus horários a diferentes fusos horários, e a empresa explicita que os indivíduos são responsáveis por entender as implicações fiscais que podem advir do trabalho fora de seu país de origem.
E há um elemento de confiança implícito no acordo: “Você poderia trabalhar em Bali por quatro semanas”, disse Fraccaro. “Mas ainda esperamos que você tenha um bom desempenho.”
Para as empresas que tiveram dificuldades com a transição do trabalho totalmente remoto para o híbrido, a política pode estabelecer normas claras e estruturas de permissão para os funcionários, disse Caitlin Duffy, diretora de pesquisa na prática de recursos humanos da empresa de consultoria Gartner.
Muitos funcionários de escritórios ainda não têm certeza sobre as permissões das políticas híbridas, e a conformidade é imprecisa: mais de 40% dos líderes de RH entrevistados pela Gartner disseram que seus funcionários não atendem aos requisitos de frequência. Enquanto isso, a aplicação da política acaba sendo branda, com poucas empresas (ou gerentes) dispostos a tomar medidas muito severas.
Oferecer um número definido de semanas de trabalho remoto pode permitir que as empresas acomodem o desejo de flexibilidade ao longo do ano sem se comprometerem com um futuro totalmente remoto, como fizeram empresas como a Airbnb (ABNB).
A demanda por trabalho totalmente remoto tem diminuído, de acordo com dados recentes do site de busca de empregos Flexa. As buscas por cargos totalmente remotos diminuíram no segundo semestre do ano passado, chegando ao nível mais baixo de todos os tempos, cerca de 25% de todas as buscas em dezembro, mas desde então se recuperou para quase 60% em março.
Para Suzanne Rosnowski, fundadora e CEO da empresa de relações públicas Relevance International, duas semanas de trabalho remoto juntamente com uma jornada híbrida de três dias por semana surgiram como um compromisso lógico com sua equipe sobre como fazer a transição de volta ao escritório após a pandemia. “Nós meio que improvisamos”, disse ela, destacando que o plano demonstra apreço pelos trabalhadores e pelo seu tempo.
“Demonstramos que o trabalho em casa pode ser produtivo, mas também demonstramos que o excesso de trabalho em casa pode ser contraproducente, pelo menos para a nossa agência”, disse ela. “É uma acomodação da vida moderna.”
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