Bloomberg Línea — O investimento internacional da América Latina atingiu níveis recordes em 2022, de US$73,4 bilhões, 75% a mais do que no ano anterior. Brasil, México e Chile foram responsáveis por quase 80% do investimento estrangeiro direto (IED) da região desde o início da pandemia, um percentual que foi mantido no ano passado.
As conclusões são do relatório Global LATAM 2022, elaborado pela organização ICEX-Invest in Spain em colaboração com a Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB).
Esse desempenho do investimento no exterior, que contrastou com o período turbulento e incerto em todo o mundo, é explicado sobretudo pelo reinvestimento de dividendos, segundo a diretora executiva da ICEX-Invest in Spain, Elisa García Grande, que também destacou “a saúde do tecido empresarial” na América Latina.
“O reinvestimento de dividendos reforça o compromisso com os países e os setores em que já está presente, mas não aumenta a exposição a novas tecnologias e capacidades nem abre novos mercados”, disse.
Para Adrián Blanco Estévez, cuja tarefa na ICEX-Invest in Spain é atrair investimentos da América Latina, as empresas da região agora têm mais atributos para a internacionalização.
“Elas são mais competitivas, sólidas e inovadoras. Em 2022, mesmo com o panorama complicado nos mercados, muitas empresas da região conseguiram se capitalizar e empresas de setores como agricultura e combustíveis se beneficiaram da guerra na Ucrânia”, disse o executivo à Bloomberg Línea.
Com base em sua percepção do mercado, Blanco Estévez disse que o investimento das empresas latino-americanas no exterior em 2023 “certamente tem um ambiente desafiador, embora a perspectiva seja positiva”.
Espanha: porta de entrada para a Europa
A América Latina tem sido o principal receptor de capital espanhol: desde 1993, o volume investido pela Espanha na região foi de US$ 148,2 bilhões, ou 29,5% do total. E o país também é um dos principais destinatários dos investimentos latino-americanos.
O relatório estima que o investimento latino-americano acumulado na Espanha desde aquele ano, quando teve início a série histórica, chega a €68,4 bilhões, representando 11% de todo o investimento estrangeiro recebido pelo país no período.
A aposta dos investimentos de capital latino-americano na Espanha, considerada uma porta de entrada para o mercado europeu, continua e se reflete nos números. Em 2022, 39 projetos de investimento de empresas latino-americanas foram anunciados no país europeu, ante 24 em 2021.
A título de comparação, durante o mesmo período, os planos de investimento anunciados por empresas da região foram nove na Alemanha, três na França e um na Itália.
No entanto, apesar de um aumento no número de projetos, houve uma diminuição no valor total. No geral, os países latino-americanos investiram €1,1 bilhão na Espanha em 2022, quase 33% a menos do que no ano anterior. Isso é parcialmente explicado pelas operações de reestruturação corporativa registradas em 2021.
Houve um aumento substancial no número de projetos de investimento greenfield (para projetos novos), principalmente devido à chegada das PMEs e startups na Espanha, disse o secretário-geral da SEGIB, Andrés Allamand.
Maiores investidores
Desde o início da pandemia, 80% de todo o investimento estrangeiro direto da América Latina no mundo veio de três países: Brasil, México e Chile.
O Brasil, no topo da lista, investiu 90% a mais em 2022 do que no ano anterior: US$ 30,6 bilhões (40% do total). O México, por sua vez, recuperou seu ritmo tradicional de investimentos estrangeiros, multiplicando o fluxo por 50 e chegando a US$ 16,9 bilhões (25% do total). Já o Chile é o único país entre os maiores da região que reduziu seu ritmo de investimento em 2022.
Com relação ao investimento latino-americano na Espanha, o México ocupa o primeiro lugar (46,8% do total), seguido por Argentina (13,7%), Brasil (9,3%) e Colômbia (8,9%).
Projetos greenfield
O número de projetos chegou a 400 no ano passado, superando 2021 (339) e o ano pré-pandemia de 2019 (394). O setor com o maior número de projetos em 2022 foi o de software e serviços de TI (108), quase o dobro do número de projetos em serviços financeiros (57), em segundo lugar.
Fusões e aquisições
O ano de 2022 provou ser um ano especialmente desafiador em aquisições de empresas estrangeiras. De acordo com o relatório, o aumento dos custos de financiamento e as restrições de liquidez, juntamente com a volatilidade e a incerteza da taxa de câmbio, afetaram a capacidade das empresas de buscar projetos de internacionalização.
O valor das fusões e aquisições concluídas no ano foi de US$ 3,3 bilhões, 68% menor do que em 2021 (US$ 10,3 bilhões). Como nas demais áreas, Brasil, México e Chile apresentaram as maiores cifras, respondendo por 85% do valor das fusões e aquisições.
Em 2022, apenas o Panamá e o Peru se juntaram aos três como investidores fora da América Latina nessa área, embora marginalmente.
Os destinos prioritários são os Estados Unidos e a Europa (27% e 23%, respectivamente). “Ao contrário do que se poderia esperar, o investimento nos Estados Unidos veio principalmente do Brasil e do Chile, enquanto o investimento mexicano foi para a Europa”, diz o relatório Global LATAM 2022.
As empresas mais ativas em aquisições internacionais foram as brasileiras, com 19 transações em 2022. O maior negócio do ano totalizou US$ 1,2 bilhão e envolveu a J&F Mineração, que adquiriu as brasileiras Mineração Corumbaense Reunida e Mineração Mato Grosso da Vale, bem como a International Iron Company do Panamá e a empresa de logística Transbarge Navegación no Paraguai.
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