Bloomberg Línea — O Grupo Petrópolis, que deve cerca de R$ 2,6 bilhões para cinco instituições financeiras, seus maiores credores, planeja vender parte de seus ativos de energia para o pagamento de parte dos passivos, disse o CFO da companhia, Marcelo de Sá, em entrevista à Bloomberg Línea.
O executivo concedeu a entrevista depois de o Plano de Recuperação Judicial (PRJ) ter sido protocolado na 5ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio, na noite de sexta-feira (26). O deságio pode chegar a 70% nas condições de pagamento para pequenos fornecedores.
O grupo que possui 15 marcas de bebidas, como as cervejas Itaipava, Crystal e Petra, está em recuperação judicial (RJ) desde 13 de abril com dívidas da ordem de R$ 4,4 bilhões.
O pedido de recuperação judicial em 28 de março havia apontado como credores as instituições financeiras Santander Brasil (SANB11), BMG (BMGB4), Daycoval, Fundo Siena e Sofisa.
“Após a publicação do primeiro PRJ, as recuperandas prosseguirão com a negociação junto aos seus credores. O objetivo é alcançar um acordo final em relação às condições de pagamento das dívidas e obter a aprovação do PRJ durante a Assembleia Geral de Credores”, disse o CFO.
O executivo disse que as empresas do grupo “seguem operando normalmente, sem qualquer interrupção de sua produção”. Segundo ele, estão também em “estágio de negociação ativa” com seus principais credores financeiros e com fornecedores.
O Grupo Petrópolis não quis apontar quais os ativos de energia que pretende vender. Em 2012, o grupo adquiriu 50% do grupo paranaense Electra, dono das empresas de energia Electra Energy (comercialização) e Electra Power (pequenas usinas hidrelétricas).
Deságio de 70%
Para cada grupo de credores foram estipulados planos e condições de pagamentos. Segundo a primeira versão do plano, não haverá carência ou deságio para o pagamento de créditos trabalhistas até o equivalente a 150 salários mínimos. O prazo de pagamento vai variar de acordo com a opção de recebimento dos créditos escolhida por cada credor.
No caso dos credores quirografários, a proposta é a de pagamento imediato de valores de até R$ 20 mil e, no caso do total da dívida, a aplicação de um deságio de 70% e o parcelamento com correção pelo IPCA no limite de até 1,5% ao ano, segundo a primeira versão do plano.
Para os credores que são micro e pequenas empresas, a proposta é a de pagamento imediato de valores de até R$ 3.500 e, no caso do total da dívida, a aplicação de um deságio de 70% e o parcelamento com correção pelo IPCA no limite de até 1,5% ao ano.
Confira a entrevista com o CFO do Grupo Petrópolis, conduzida por e-mail.
Que ativos o plano prevê a venda e quais os valores indicados para cada um deles?
Nesse momento, o PRJ (Plano de Recuperação Judicial) prevê a eventual venda de parte dos ativos de energia por meio de uma Unidade Produtiva Isolada (UPI). A UPI será alienada por meio de procedimento competitivo e, portanto, não possui um valor pré-indicado no plano.
A qualquer momento, após a homologação judicial do plano, as empresas do grupo poderão alienar, onerar, ceder, transferir e/ou licenciar quaisquer outros ativos, organizados ou não sob a forma de novas unidades produtivas isoladas, por meio de venda direta ou processo competitivo, desde que observados os termos do plano e do edital a ser publicado oportunamente.
Qual o valor que o plano pretende levantar com venda de ativos?
Não há um valor pré determinado, visto que a avaliação dos ativos será feita por meio de um procedimento competitivo.
O plano prevê algum aporte? De quanto seria e como seria?
Não. Para que as empresas em recuperação judicial (recuperandas) sejam capazes de adimplir [cumprir] os pagamentos propostos no PRJ será feita a venda de ativos sob a forma de UPIs e concessão de prazos e condições especiais de pagamento para suas obrigações, vencidas e vincendas, e equalização dos encargos financeiros.
O que o plano propõe para o pagamento dos credores? Como seria? Por exemplo, leilão reverso, emissão de títulos, conversão em ações etc.
O Plano de Recuperação Judicial prevê condições de pagamento das dívidas para cada classe que sejam viáveis e adequadas à capacidade financeira do grupo. Essas condições foram planejadas, levando em consideração a projeção de geração de caixa, a qual foi validada por meio do Laudo de Viabilidade, conforme exigido pela Lei nº 11.101/05. Além disso, o plano contempla condições específicas para credores parceiros que atendam a determinados requisitos estabelecidos.
Quais os próximos passos após a apresentação do plano?
Após a publicação do primeiro PRJ, as recuperandas prosseguirão com o processo de negociação junto aos credores. O objetivo é alcançar um acordo final em relação às condições de pagamento das dívidas e obter a aprovação do PRJ durante a Assembleia Geral de Credores (AGC).
Em que estágio estão as conversas com os bancos credores?
As recuperandas estão em um estágio de negociação ativa com seus principais credores financeiros e fornecedores, visando o atingimento de condições equilibradas e viáveis para o pagamento.
Quais os valores devidos aos cinco maiores credores?
Os cinco maiores credores listados no QGC (Quadro Geral de Credores) protocolado nos autos dos processos da recuperação judicial do Grupo Petrópolis são intituições financeiras que somam R$ 2,6 bilhões. No entanto o processo de reconciliação das dívidas junto aos credores ainda se encontra em sua fase inicial. O administrador judicial publicou o edital de credores há pouco mais de dez dias, portanto é natural que tenhamos ajustes até a lista final.
Como estão as operações atualmente?
As recuperandas seguem operando regularmente, sem qualquer interrupção em sua produção.
Quais os principais obstáculos para a aprovação do plano pelos credores?
Um dos principais obstáculos para a aprovação é a quantidade de credores das recuperandas, visto que é necessário alcançar uma proposta que atenda as necessidades de todas as partes.
Qual a avaliação das principais marcas da companhia no plano?
O grupo possui um portfólio composto por 15 marcas de bebida conhecidas nacionalmente. Entre elas, destacam-se Itaipava, Crystal e Petra. Essas marcas são consideradas ativos de grande importância e são essenciais para o sucesso e a continuidade do grupo.
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