Partidarismo na crise da dívida ameaça nota de risco dos EUA, diz Fitch

Devido ao impasse para aumentar o teto da dívida, a agência colocou em ‘observação negativa’ os ratings em moeda estrangeira da maior economia do mundo

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Bloomberg — A Fitch Ratings adicionou uma dose de tensão ao panorama dos Estados Unidos, cujos políticos tentam chegar a um acordo sobre o limite da dívida pública. A agência de classificação de risco alertou que o rating “AAA” de longo prazo em moeda estrangeira do país está ameaçado pelo partidarismo político, já que impede uma solução para a crise do teto do endividamento.

Diante deste contexto e da aproximação da “data X”, quando termina o dinheiro dos cofres do Tesouro para honrar seus compromissos, a Fitch Ratings colocou os ratings de crédito dos EUA em “perspectiva negativa”. Segundo comunicado da agência, “aumentaram os riscos de que o limite da dívida não seja elevado ou suspenso antes da data X e, consequentemente, de que o governo comece a ficar inadimplente em algumas de suas obrigações”.

Os economistas dizem que um calote dos EUA poderia desencadear uma recessão, com perda generalizada de empregos e aumento dos custos de empréstimos. Entretanto, não é incomum que o Congresso faça acordos orçamentários no último minuto, quando a pressão é tão grande que força os negociadores a tomar decisões dolorosas.

Os mercados têm demonstrado um nervosismo cada vez maior em relação ao impasse, com o aumento dos prêmios sobre os títulos do Tesouro com vencimento nas datas de maior risco de calote, enquanto o índice S&P 500 caiu por dois dias. O iene, moeda considerada um tradicional refúgio, subiu como reação dos investidores reagiram à notícia, antes de moderar seus ganhos. Os futuros do Tesouro caíram ligeiramente.

“O pior cenário seria se o confronto levasse o governo a perder o pagamento da dívida pela primeira vez, o que poderia resultar em um rebaixamento generalizado ou duradouro da classificação de crédito dos títulos do Tesouro dos EUA”, disse Nikolaj Schmidt, economista-chefe global da T. Rowe Price. “Tantos ativos são precificados em relação direta aos títulos do Tesouro dos EUA que a turbulência de um rebaixamento mais pronunciado seria sentida nos mercados de todo o mundo.”

A Fitch disse que continua esperando uma solução para o limite da dívida antes da chamada data X, quando o governo fica sem dinheiro para pagar suas contas. Na hipótese de um eventual calote da dívida, no entanto, a Fitch poderia cortar para um “D” o rating dos títulos de dívida afetados, com outros rebaixados para “CCC” e “C”.

O alerta da Fitch “ressalta a necessidade de uma ação bipartidária rápida do Congresso para aumentar ou suspender o limite da dívida e evitar uma crise fabricada para nossa economia”, disse Lily Adams, porta-voz do Tesouro.

O custo de segurar a dívida soberana dos EUA contra a inadimplência com derivativos aumentou, e a declaração da Fitch também lança os holofotes sobre outras agências de classificação para ver como elas podem reagir. Um porta-voz da Casa Branca disse que o informe da agência demonstra a urgência de se chegar a uma solução rápida.

Ontem “impasse”, hoje “otimismo”

O presidente da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, estava otimista na quarta-feira de que os negociadores da Casa Branca e do Partido Republicano poderiam chegar a um acordo a tempo de evitar um default potencialmente catastrófico para os Estados Unidos.

Os comentários do republicano da Califórnia foram feitos após uma reunião de quatro horas entre seus negociadores e os negociadores escolhidos a dedo pelo presidente Joe Biden, alimentando o otimismo de que o Congresso agirá antes de 1º de junho, quando a secretária do Tesouro, Janet Yellen, alertou que os EUA poderiam ficar sem dinheiro. “Ainda acho que temos tempo para chegar a um acordo”, disse McCarthy no final da reunião.

Em 2011, a S&P Global Ratings foi criticada por rebaixar a classificação “AAA” dos EUA após uma situação semelhante de risco de inadimplência. Isso provocou uma venda de ativos de risco, como ações, em todo o mundo, mas, ironicamente, impulsionou os títulos do Tesouro, pois os investidores buscaram refúgios. A empresa manteve uma “perspectiva estável” para a classificação para esta última crise, confiando que um acordo será alcançado.

William Foster, chefe de crédito da Moody’s Investors Service, disse em uma entrevista na quarta-feira que estava “ouvindo as coisas certas de Washington”, e sua empresa manteve intacta a classificação máxima dos EUA durante as negociações turbulentas desde então.

A advertência da Fitch é “certamente muito simbólica e, de certa forma, pode forçar a Moody’s a seguir o exemplo”, disse Vishnu Varathan, chefe de economia e estratégia do Mizuho Bank Ltd. em Cingapura. “Isso também colocará mais escrutínio sobre o dólar e os títulos do Tesouro como portos de abrigo e suas qualidades de taxa livre de risco.”

--Com a colaboração de Margaret Collins, Michael Mackenzie e Matthew Burgess

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