Bloomberg — A Stellantis, gigante global do setor automotivo, tem cortado empregos na Itália e é acusada de economizar até no trabalho de zeladoria. Nos Estados Unidos, está oferecendo programas de demissão voluntária a dezenas (PDVs) de funcionários e desativou uma fábrica de Jeep.
No Canadá, a montadora interrompeu a construção de uma nova fábrica de baterias, aguardando mais ajuda do governo. E, no Reino Unido, alertou o Parlamento de que as regras comerciais pós-Brexit e outras questões podem condenar as perspectivas de fabricação de veículos elétricos do país.
Tudo isso se soma a uma tendência nada sutil. Agora que a Stellantis está menos sobrecarregada lutando contra as crises da cadeia de suprimentos dos anos pandêmicos, o CEO Carlos Tavares está voltando ao seu modus operandi de cortar custos implacavelmente e buscar economias.
Tavares demonstrou talento para a francesa PSA, fabricante da Peugeot e da Citroën, que se uniu à Fiat Chrysler no início de 2021. Com centenas de milhares de funcionários e 14 marcas com muita sobreposição, principalmente na Europa, o império Stellantis parecia maduro para a racionalização da operação.
Em vez disso, manter as fábricas alimentadas com semicondutores e outros componentes teve precedência na estratégia e preocupou os executivos do setor automotivo em todo o mundo nos últimos dois anos e meio.
Com a redução dessa escassez de componentes, a Stellantis e seus pares agora podem reativar suas fábricas, talvez até mesmo para níveis de produção que excedam a demanda em um momento em que os consumidores lutam contra a inflação e os custos crescentes dos empréstimos.
Isso significa que o poder de precificação de que as montadoras desfrutam ultimamente diminuirá e gerentes inflexíveis como Tavares terão seu momento.
O CEO alertou sobre uma “enxurrada” de veículos elétricos (EVs, na sigla em inglês) chineses baratos na Europa e disse que a Stellantis está considerando fabricar EVs de preços mais baixos na Índia em resposta.
Sindicatos na França e na Itália reclamaram que a Stellantis não está investindo o suficiente na manutenção das fábricas, citando banheiros entupidos e grama não aparada.
Embora a empresa tenha rejeitado as acusações, segue em frente com planos de eliminar até 2.000 postos de trabalho na Itália neste ano - cerca de 4,3% de sua força de trabalho lá - enquanto reequipa as fábricas para fabricar modelos elétricos e híbridos plug-in.
“O custo da eletrificação terá um impacto na pegada de negócios que teremos em todo o mundo”, disse Tavares pouco antes do anúncio dos cortes de empregos em fevereiro.
A Stellantis está considerando medidas ainda mais drásticas na China, onde a empresa não tem se saído bem e as montadoras ocidentais estão lutando para manter sua participação no mercado.
Depois de desistir de seu empreendimento de fabricação de jipes no país, Tavares sugeriu que a Stellantis pode parar de fabricar carros em conjunto com empresas locais no maior mercado automotivo do mundo como parte do que ele chamou de estratégia asset light.
Na América do Norte, Tavares está fazendo o governo canadense suar por causa de um investimento de US$ 4 bilhões em baterias com a sul-coreana LG Energy Solution. A Stellantis disse na semana passada que interrompeu a construção da fábrica de baterias para veículos elétricos em Windsor, no estado de Ontário, enquanto pressiona as autoridades por mais subsídios.
Dias depois, o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, prometeu que Stellantis receberá mais dinheiro, embora tenha se recusado a dizer quanto. Tavares deve buscar uma barganha difícil depois que a Volkswagen garantiu uma promessa de ajuda de cerca de US$ 10 bilhões para sua fábrica de baterias planejada no país.
Nos EUA, a Stellantis está oferecendo um programa de demissão voluntária para 31.000 funcionários horistas e 2.500 assalariados como parte de um esforço para reduzir as despesas gerais. Em fevereiro, a montadora desativou sua fábrica Jeep em Belvidere, no estado do Illinois, suspendendo o contrato de cerca de 1.350 trabalhadores por tempo indeterminado. Os cortes ocorrem quando a empresa se prepara para negociar um novo contrato de quatro anos com o sindicato United Auto Workers.
O esforço de eficiência da Stellantis pode lembrar alguns observadores da indústria de como Carlos Ghosn - apelidado de Le Cost Killer - transformou a Renault e a Nissan Motor realizando reestruturações dolorosas.
As semelhanças não são coincidência. Uma década atrás, na Renault, Ghosn tinha um ambicioso braço direito cujo objetivo era liderar sua própria montadora algum dia.
Seu nome: Carlos Tavares.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Porsche espera outro ano recorde e confirma plano para novo SUV elétrico
Microsoft planeja cortar 10 mil empregos em mudança que custará US$ 1,2 bilhão