Adeus, guerra das maquininhas? PagSeguro vira PagBank e mira banco completo, diz CEO

Empresa que nasceu com adquirência recebe licença para atuar como corretora e prevê plataforma integrada; lucro sobe no 1º tri com corte de custos e melhora do funding

Alexandre Magnani, CEO do PagBank: empresa avança com sua estratégia de se tornar banco digital completo
25 de Maio, 2023 | 07:49 PM

Bloomberg Línea — Em um mercado que segue competitivo para as empresas de adquirência, o PagSeguro (PAGS) decidiu unificar seus serviços financeiros cada vez mais diversos sob a marca PagBank, como parte da estratégia de se tornar um banco digital completo - acaba de receber aval para operar uma corretora. A alteração ocorre no momento em que a empresa registra melhora dos resultados e da margem e continua a reduzir custos e provisões para tornar a operação mais eficiente.

No primeiro trimestre, o PagBank atingiu um lucro líquido de R$ 392 milhões, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira (25) depois do fechamento do mercado. O resultado ficou 6% acima do mesmo período do ano passado e ligeiramente acima do consenso dos analistas consultados pela Bloomberg, que esperavam um ganho líquido de R$ 367,2 milhões.

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As ações da empresa caíam perto de 2% no after market em Nova York por volta das 19h30. E registram ganho de 39,1% em 12 meses.

A empresa fechou o trimestre com uma margem líquida de 9,9%, acima dos 9,81% esperados por analistas. A empresa tinha ao final do período 6,9 milhões de comerciantes ativos em sua base de clientes, abaixo da projeção de 7,05 milhões do consenso dos analistas ouvidos pela Bloomberg. Ao todo, a empresa fechou o trimestre com quase 29 milhões de clientes do PagBank.

Parte da melhora dos resultados ocorreu em razão de uma redução de 50% das perdas financeiras com provisões e reembolsos de compras, diante de uma menor necessidade de provisionamento para potenciais perdas de crédito, aliado ao trabalho de combate à fraude.

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No primeiro trimestre, as perdas com essas operações totalizaram R$ 126 milhões, metade do montante de R$ 250 milhões do ano passado.

Menores perdas, segundo a empresa, serão alavancas para o crescimento no ano. “Dada aquela nossa migração para concessão somente de produtos com garantia desde o início de 2022, na frente de custos continuamos sendo bastante disciplinados”, disse o CEO Alexandre Magnani em entrevista à Bloomberg Línea.

“Nosso foco está na concessão de crédito com garantias e esperamos continuar ganhando participação na adquirência e participação de mercado, mas em segmentos que são mais rentáveis, como, por exemplo, microempreendedores e pequenos e médios empreendedores”, disse Magnani.

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O PagBank também reduziu custos reestruturando times e com menos gastos com marketing e infraestrutura. Os depósitos, que hoje estão em R$ 18,6 bilhões, tornaram-se a principal fonte de financiamento da empresa, em uma indústria de adquirência (maquininhas de pagamento) em que os custos de capital são intensivos dadas às necessidades de pagamento antecipado aos comerciantes.

Usar depósitos como funding é uma alternativa mais barata do que outras emissões do mercado de crédito em um momento de taxas de juros mais elevadas.

“Outra linha de funding, que é super relevante para a empresa, são os resultados acumulados obtidos nos últimos anos. E hoje temos, dentro do nosso patrimônio líquido, 54% ou R$ 6,6 bilhões de resultados acumulados que utilizamos para fazer o funding das operações de antecipação”, disse o CFO Artur Schunck.

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“Temos um bom relacionamento no mercado financeiro com algumas instituições, mas o momento agora não é o ideal para empréstimo. É mais eficiente emitir CDB e captar dinheiro via CDB ou até mesmo vinculado aos depósitos, que nós chamamos aqui de conta rendeira, em que temos uma remuneração mais favorável para a companhia e que nos ajuda a fazer um plano mais barato para as operações”, afirmou Schunck.

Os executivos afirmaram que o PagBank não tem necessidade adicional de fazer empréstimos, já que os resultados acumulados, os depósitos e algumas antecipações de recebíveis com bancos emissores são suficientes para rodar o negócio.

PagSeguro muda para PagBank

A fintech também anunciou a unificação das marcas PagSeguro PagBank somente sob o guarda-chuva PagBank. “Entendemos que representa melhor nossa oferta completa, que vai além de pagamentos”, disse Magnani. “Uma marca única facilita o entendimento do nosso cliente. É só um nome e temos ganhos de eficiência nos nossos investimentos em marketing.”

A empresa também recebeu uma licença para atuar como corretora pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). “Esse é outro passo que vai na direção da oferta de uma área de um banco digital completo, integrado, tudo em um único aplicativo, uma única plataforma de internet banking, em uma única central de atendimento”, disse o CEO.

A empresa fez uma readequação de seus estoques e disse que tem sido “diligente” nos investimentos para aquisição de clientes com as maquininhas e nos desenvolvimentos de software, o que levou a uma melhora da geração de caixa operacional. No primeiro trimestre de 2022, o caixa havia diminuído em R$ 17 milhões. Neste ano, o resultado foi um aumento de quase R$ 380 bilhões.

“Nossa posição de caixa foi encerrada em R$ 10 bilhões em março. Provavelmente somos a empresa de pagamento com o balanço mais robusto do mercado hoje na vertical de conta digital, em que alcançamos um resultado positivo pela primeira vez”, disse Magnani.

Entre 19 de maio e 23 de junho acontece o rebalanceamento dos índices da FTSE Russell, que estão entre os principais índices de ações do mundo, e pela primeira vez o PagSeguro PagBank foi listado, o que o CEO espera que trará impacto na demanda pelos ativos da empresa. “Isso pode potencialmente impactar na volumetria da negociação das ações e também maior alcance reputacional”, disse o executivo.

-- Corrige número de clientes ativos e data do rebalanceamento do FTSE Russell

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups