Leonel Andrade renuncia como CEO da CVC com empresa em reestruturação

Saída do executivo ocorre em momento de rearranjo da estrutura de capital, de resultados abaixo do esperado pelo mercado e de queda de 37,4% das ações neste ano

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Bloomberg Línea — O CEO da CVC (CVCB3), Leonel Andrade, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (24), segundo comunicado após o fechamento do mercado. O executivo estava no cargo desde abril de 2020, tendo assumido logo após o começo da pandemia de covid.

Há um mês, a CVC havia perdido o seu CFO, Marcelo Kopel, que também pediu renúncia depois de dois anos no cargo. A informação da saída de Andrade, que estava acumulando a diretoria financeira, foi publicada inicialmente pelo Brazil Journal.

A saída de Andrade foi recebida no mercado com surpresa, dado que ele conduziu o processo de renegociação da dívida com os detentores de debêntures com sucesso - na avaliação do mercado - no começo de abril (veja mais abaixo).

“Mesmo com a inflação e o dissídio coletivo, entre outros custos, as despesas fixas recuaram 1% no primeiro trimestre. Conseguimos fazer esse crescimento de vendas reduzindo despesas. Meu foco neste ano, um compromisso público, é a prioridade em vendas e eficiência operacional”, disse Andrade em entrevista à Bloomberg Línea no começo do mês, após a divulgação do balanço.

O conselho de administração já está à procura de novos CEO e CFO, segundo o comunicado. Até que isso ocorra, será montado um comitê de transição liderado pelo conselheiro independente Sandoval Martins, que já foi CEO da CBS Holding, uma empresa de segurança da informação do Pátria Investimentos, e CEO do Buscapé.

A renúncia de Leonel Andrade, um executivo que comandou a Smiles entre 2003 e 2019, acontece em um momento delicado pelo qual passa a maior empresa do setor de viagens do país em razão principalmente de sua estrutura de capital.

As ações estão em queda de 37,4% no acumulado deste ano, como reflexo da perda de confiança de investidores com o endividamento e os resultados entregues aquém do que o mercado projetava. O principal acionista da empresa é a gestora Opportunity, com 18,5% das ações ordinárias.

A empresa tinha R$ 926 milhões em dívidas por meio de debêntures ao fim do primeiro trimestre, tendo acertado uma amortização de R$ 124 milhões com os detentores dos títulos.

Assumiu um compromisso de capitalizar a empresa em pelo menos R$ 200 milhões até o fim de novembro, por meio de um follow on de no mínimo R$ 125 milhões mais uma oferta de R$ 75 milhões para as debêntures reperfiladas - ou um aumento de capital nesse montante caso as duas condições anteriores não se efetivem.

No balanço do primeiro trimestre, a CVC apresentou prejuízo de R$ 123 milhões, um resultado negativo inferior ao de um ano antes, mas ainda no vermelho. O Ebitda caiu 53% na base anual, para R$ 15,8 milhões, ainda que o Ebitda ajustado tenha dobrado para R$ 25,5 milhões.

A empresa está em crescimento na saída da pandemia, com crescimento de 44% e 33%, respectivamente, em reservas confirmadas e consumidas na base anual. Mas há pontos de preocupação. Um indicador que foi observado por analistas e investidores foi o take rate (comissão) de produtos exclusivos da companhia, que caiu para 7,4% (versus 9,7% um ano antes).

Bastidores da saída

Segundo uma fonte ouvida pela Bloomberg Línea, acionistas de referência da companhia teriam reagido negativamente a uma estratégia de Andrade de liderar uma ofensiva política em Brasília em prol de uma regulamentação do setor turismo, mirando principalmente empresas de compra de milhagem, que vendem pacotes mais baratos para viagens a longo prazo.

Andrade tinha, segundo essa fonte, até mobilizado um executivo para atuar nessa frente institucional, com o discurso de que a CVC tem sido prejudicada pela concorrência considerada desleal com plataformas de compra de milhas.

O executivo também demonstrava nos bastidores, segundo a fonte, sinais de cansaço com as dificuldades de aumentar a geração de caixa diante da pressão de credores e dos franqueados.

A saída de Kopel, segundo a mesmo fonte, estava acertada desde o ano passado, quando sinalizou o fechamento do acordo da reestruturação da dívida como sua última missão na companhia. O Citi, a XP e a gestora JGP são os principais credores da CVC.

Até o final do ano passado, Andrade negava boatos de que deixaria a empresa. No começo do segundo semestre, ele teria sido sondado para assumir o comando da Vibra Energia após a saída de Wilson Ferreira Júnior, que acabou voltando para o cargo de CEO da Eletrobras.

Andrade criticava que empresas de capital fechado do setor de turismo não divulgavam balanços auditados, algo que ele considerava que deveria ser alvo das autoridades de Brasília, defendendo uma regulamentação desses players.

Uma das maiores concorrentes da CVC é a Flytour, uma das principais agências de viagens do país, vendida em outubro de 2021 para o grupo mineiro Belvitur. O seu plano de negócios foi elaborado pelo Banco Master, que atuou como advisor. A Flytour tinha dívidas de R$ 142 milhões e chegou a entrar em recuperação extrajudicial, tendo como credores bancos como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú.

Já as principais empresas de compra de milhagem do mercado nacional, as mineiras 123Milha e MaxMilhas, fecharam um acordo de fusão no início do ano, reunindo forças para atuar pela obter a regulamentação de suas atividades no Congresso Nacional.

Andrade criticava a oferta de pacotes por preços abaixo dos praticados pela CVC, argumentando que nenhuma companhia aérea vende passagens com mais de 11 meses de antecedência, enquanto essas plataformas de milhas oferecem produtos com apelo comercial difícil de competir.

Além disso, não têm obrigações como as agências, já que a venda de milhas por pessoas físicas não é regulamentada no país e contraria os termos dos contratos assinados com os programas de fidelidade das companhias aéreas.

Andrade evitava criticar em público as companhias aéreas por permitirem que esse mercado paralelo de venda de passagens e pacotes turísticos continuasse funcionando na internet, algo que, em sua avaliação, prejudica a rede de franqueados da CVC e outras operadoras do setor.

O então CEO da CVC chegou a designar a diretora de alianças estratégicas, Jeanine Pires, para ser uma das representantes do setor no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável do governo, com a missão de defender a necessidade de regulação no setor de turismo.

- Matéria atualizada às 20h45 com informações de bastidores e contexto da saída do CEO e outros detalhes da situação financeira da CVC.

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