Mulheres impulsionam a recuperação do mercado de trabalho dos EUA

Taxa de participação feminina na força de trabalho atingiu o maior nível desde 1940; mudança reflete desde a expansão do trabalho remoto até tendências de longo prazo

Empresas contam com mais mulheres em suas folhas de pagamento do que nunca
Por Reade Pickert, Augusta Saraiva e Jonnelle Marte
23 de Maio, 2023 | 05:11 PM

Bloomberg — Há três anos, a pandemia provocou a chamada “recessão feminina”, quando milhões de mulheres perderam seus empregos ou deixaram a força de trabalho para cuidar de entes queridos. Agora, elas lideram a recuperação nos Estados Unidos.

Empresas contam com mais mulheres em suas folhas de pagamento do que nunca, em parte por causa do aumento constante de profissionais entre 25 e 54 anos que estão empregadas ou procurando trabalho.

A taxa de participação desse grupo atingiu o recorde de 77,5% em abril e superou o pico alcançado em 2000, segundo dados do governo desde a década de 1940.

“Retornamos ao melhor que as mulheres já haviam conseguido historicamente”, disse Kathryn Anne Edwards, economista especializada em mercado de trabalho.

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O número marca uma reversão surpreendentemente rápida da queda da crise da covid-19, que reverteu anos de avanço da participação das mulheres na força de trabalho.

A recuperação reflete desde a expansão do trabalho remoto até tendências de longo prazo, como mais mulheres com diplomas universitários. No entanto, mais do que tudo, é impulsionada pelas condições econômicas: o mercado de trabalho dos EUA está aquecido, com maior participação de vários grupos, e a inflação persistente levou famílias a buscar maneiras de compensar os custos crescentes.

“Inquestionavelmente, tivemos uma recuperação muito forte”, disse Beth Almeida, economista trabalhista e bolsista sênior do Center for American Progress. “E, quando há muitos empregos disponíveis, as pessoas se posicionam para agarrá-los.”

As vagas de emprego, embora em declínio, continuam a superar o número de desempregados em 1,6 para 1, e a taxa de desemprego — agora de apenas 3,4% — corresponde ao nível mais baixo desde o início dos anos 50.

Essa desconexão entre a demanda e a oferta de trabalho obrigou empresas a aumentar rapidamente os salários para atrair e reter trabalhadores. Segundo um indicador, os salários do setor privado subiram mais de 10% nos últimos dois anos.

Tamara Atkinson, que chefia o conselho de desenvolvimento da força de trabalho na área de Austin, disse que a abundância de empregos e melhores salários ajudaram a trazer mais mulheres para o mercado.

“Uma segunda razão pela qual vemos mais mulheres participando é, francamente, a necessidade”, disse Atkinson.

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No ano passado, a inflação nos EUA subiu para 9,1%, uma máxima em 40 anos. E, embora tenha se desacelerado desde o pico em meados de 2022, os preços ainda avançam em ritmo acelerado. Para consumidores, isso significou custos mais altos de aluguel, mantimentos, gás e uma série de outros bens e serviços.

Diante desse cenário, Atkinson, diretora-presidente da Workforce Solutions Capital Area, disse que seu grupo observou um “aumento acentuado” no número de mulheres que solicitam ajuda para acessar serviços que atendem às necessidades básicas, como alimentação e transporte.

Ao mesmo tempo, muitas famílias se ajustam ao término do auxílio do governo distribuído durante a pandemia, como o crédito fiscal expandido para quem tem filhos, o que levou muitas famílias a receberem pagamentos mensais.

“Muitas dessas ajudas já acabaram”, disse Pamela Nabors, presidente e CEO da CareerSource Central Florida. “Por necessidade, muito mais mulheres tiveram que voltar a buscar emprego.”

Fatores demográficos

A pandemia reformulou as políticas do ambiente de trabalho e opções de cuidado infantil de maneiras que têm influenciado as decisões de mulheres de entrar ou permanecer no mercado de trabalho.

Enquanto isso, a participação de mulheres com 55 anos ou mais ficou próxima dos níveis mais baixos da era da pandemia — um padrão indicando que mulheres com mais idade continuam fazendo sacrifícios para ajudar a manter seus familiares mais jovens no mercado de trabalho.

“Se a creche fechava, a avó virava babá”, disse Almeida. “Isso, na verdade, ajudou a promover o vínculo com a força de trabalho para muitas mulheres nessa idade ativa, ao mesmo tempo em que reduziu o vínculo com a força de trabalho entre mulheres com mais idade.”

Fragilidade do futuro

Embora o mercado de trabalho forte tenha permitido que muitas mulheres busquem melhores oportunidades de emprego com salários mais altos e benefícios mais atraentes, grande parte da necessidade de contratação agora é em setores de baixa remuneração, como lazer e hospitalidade, e serviços de assistência médica domiciliar.

“Nós nos recuperamos de um declínio, mas isso não é o mesmo que prosperar”, disse Edwards, que também é colunista da Bloomberg Opinion. Muitas das vagas abertas “não são empregos que consideraríamos para sustentar a família”.

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