Bloomberg — O mais graduado funcionário de energia da Arábia Saudita emitiu outro aviso aos investidores que apostam na queda das cotações de petróleo - os short sellers -, pouco mais de uma semana antes da próxima reunião da aliança OPEP+.
O governo de Riad e seus parceiros surpreenderam os traders de petróleo no mês passado ao anunciar cortes na produção destinados a assustar os especuladores. Mas os gestores de recursos tornaram-se pessimistas novamente quanto às cotações da commodity nas últimas semanas em meio a temores de uma economia global mais fraca.
“Continuo avisando-os de que eles vão sofrer – assim como aconteceu em abril”, disse o ministro da Energia saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, no Fórum Econômico do Catar em Doha nesta terça-feira (23). “Eu apenas diria a eles: cuidado!”
Os preços do petróleo flutuaram em torno de US$ 75 o barril em Londres neste mês, com os traders avaliando uma perspectiva positiva para a demanda versus dados econômicos mais fracos da China, riscos de recessão nos EUA e uma batalha prolongada sobre o teto da dívida americana.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, um bloco de 23 nações conhecido como OPEP+, se reunirá na próxima semana, nos dias 3 e 4 de junho, em Viena (Áustria) para revisar a política de produção para o segundo semestre do ano.
Embora vários delegados da entidade tenham dito que não há necessidade de mais ações agora, pois as restrições já existentes ajudarão a restringir os mercados globais, o príncipe Abdulaziz é conhecido por orquestrar intervenções surpresa.
“Temos que estar vigilantes, temos que ser proativos – como nós da OPEP+ temos dito há algum tempo”, disse ele.
Em teoria, os estoques globais de petróleo estão a caminho de um aperto acentuado no restante do ano, à medida que a recuperação pós-pandêmica da China no consumo de combustível ganha ritmo, com os próprios dados da Opep apontando para um déficit substancial de oferta de cerca de 1,5 milhão de barris por dia.
As principais nações consumidoras, representadas pela Agência Internacional de Energia (AIE), criticaram a Opep por restringir excessivamente a oferta e agravar as pressões inflacionárias para a economia global.
No entanto os dados mais recentes do mercado mostram que os short sellers - vendedores a descoberto -, que inicialmente fugiram do mercado depois que os cortes surpreendentes da Opep + foram revelados no início de abril, estão voltando. Os fundos tornaram-se os mais pessimistas em termos de previsão de cotações em mais de uma década em uma série de contratos de petróleo.
“O posicionamento especulativo atual é tão extremo que torna provável uma resposta dos principais membros da Opep”, disseram os analistas Paul Horsnell e Emily Ashford, do Standard Chartered Bank, em um relatório na segunda-feira (22). “Achamos que os dados mais recentes aumentaram o impulso em direção a um corte defensivo.”
O príncipe disse que as ações da Opep mostram que a entidade é uma força estabilizadora do mercado, em vez de estar envolvida em manipulação de preços. Ele culpou a volatilidade do mercado por previsões e políticas errôneas entre as nações consumidoras - como a liberação de estoques de emergência pelos Estados Unidos.
O ministro do Petróleo iraquiano, Hayyan Abdul Ghani, na mesma sessão de painel no Catar, disse que Bagdá estava comprometida com o último acordo da Opep para reduzir a oferta. O país pretende aumentar os investimentos em gás natural e reduzir a queima do combustível, acrescentou.
O governo do Estado do Catar ajuda a bancar o Fórum Econômico do Catar, promovido pela Bloomberg.
- Com a colaboração de Paul Wallace e Nayla Razzouk.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Petrobras: mudança em política de preços expõe desafios do novo CEO
Petróleo sob pressão: Opep+ faz corte surpresa de 1 milhão de barris por dia