Bloomberg — O mercado financeiro começa a vislumbrar a possibilidade de a meta de inflação ser mantida em 3% a partir do próximo ano, diante da redução dos ruídos entre o governo e o Banco Central.
Nas últimas semanas, analistas notam um tom mais moderado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema e apontam uma abordagem técnica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ainda prevalece entre os investidores, no entanto, o receio de que a meta será elevada na reunião do Conselho Monetário Nacional no final de junho.
A gestora Genoa Capital, por exemplo, prevê que a meta subirá de 3% para 3,5% a partir de 2024 e que as bandas avançarão de 1,5% para 2%, segundo carta aos investidores.
O próprio presidente Lula já defendeu que o objetivo deveria subir para 4,5% para permitir o corte dos juros.
“Nossa avaliação é que a equipe econômica quer manter. A pergunta é se Lula vai topar”, afirma o diretor-executivo da Eurasia, Christopher Garman. A consultoria elevou de 40% para 50% a chance de manutenção da meta no início do mês.
Para o Santander, a probabilidade de que o objetivo permaneça o mesmo está em 60%. “Talvez tenha ficado claro para o governo e parte da classe política que não há benefício em aumentar a meta. Isso só geraria mais inflação”, diz Mauricio Oreng, economista do banco.
Meta contínua
Haddad vem defendendo uma mudança para o que chama de meta contínua, sem a especificidade de um ano calendário como atualmente. Na sexta-feira, o ministro disse que a decisão sobre a meta será tomada juntamente com Lula, além da ministra Simone Tebet, no âmbito do CMN.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o Banco Central debateu o tema internamente e entende que elevar a meta agora não geraria flexibilidade.
“Acho que, hoje, mudar a meta tem uma grande probabilidade de não ganhar flexibilidade, ao contrário, de perder”, disse nesta segunda-feira (22) em um evento em São Paulo.
A economista-chefe da Principal Claritas, Marcela Rocha, avalia que o cenário de meta mantida em 3%, com o qual trabalha, voltou à mesa recentemente.
“Houve uma mudança marginal no tom de críticas. Não vimos em membros da equipe econômica uma urgência para o tema”, afirmou ela.
A incerteza sobre a meta, junto com os riscos fiscais, é apontada pelo mercado como um dos motivos para a elevada expectativa de inflação, na casa de 4%, o que endossa a postura mais conservadora do BC, sem sinalização de cortes de juros.
Para Luis Cezario, economista-chefe da Asset1, o debate no governo não está maduro, por isso ainda não existe clareza sobre qual será a decisão do CMN.
“Parte da alta das expectativas de inflação de médio prazo seria revertida caso o CMN decida manter as metas de inflação.”
-- Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro e Felipe Saturnino.
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