Caso Vini Jr: La Liga e futebol espanhol falham em coibir o racismo nos jogos

Liga espanhola minimiza ataques racistas de torcedores do Valencia na partida contra o Real Madrid na transmissão oficial, um caso que gerou repúdio nas redes e do governo brasileiro

Jogador foi vítima de racismo de torcedores neste domingo (21 de maio) em partida em Valência contra o time local
Por Rodrigo Orihuela
22 de Maio, 2023 | 03:25 PM

Bloomberg — A liga de futebol da Espanha, conhecida como La Liga, há muito tempo tenta promover sua imagem ao controlar de forma rigorosa o que pode ser transmitido. Uma estrela já teve o suficiente dessa versão “controlada” da competição.

O craque brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, disse nas redes sociais que o racismo é “normal na La Liga” depois que uma ala de torcedores do Valencia o chamou de “macaco” neste domingo (21) durante o jogo entre os dois clubes. No entanto pouco foi ouvido sobre racismo na transmissão ao vivo da La Liga, que tem o Santander como patrocinador master e empresas globais como Microsoft, Disney e Puma, entre outras, como parceiras oficiais.

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Não é a primeira vez que torcedores submetem Vinícius Júnior, conhecido como Vini Jr., a racismo. Em 18 de setembro do ano passado, quando o Atlético de Madrid recebeu o arquirrival Real Madrid, um grande grupo gritou insultos racistas contra o atacante. A partida foi interrompida no primeiro tempo quando torcedores jogaram isqueiros e garrafas vazias nele.

Em ambos os casos, a La Liga, uma das mais populares da Europa, inicialmente tentou minimizar os acontecimentos e encobrir o abuso.

Diferentemente de outras ligas importantes, como a Premier League da Inglaterra, a La Liga escolhe comentaristas e jornalistas para cobrir os jogos e também supervisiona todas as câmeras, tanto dentro quanto em alguns casos ao redor dos estádios, de acordo com uma pessoa familiarizada com o contrato de direitos de transmissão que falou à Bloomberg News.

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O racismo sofrido por Vinícius nas duas ocorrências foi flagrado nas redes sociais. Depois do jogo com o Atlético de Madrid, o incidente não foi discutido pelos comentaristas das principais emissoras do jogo nem no intervalo.

Após o jogo com o Valencia, os dirigentes do time local negaram que tenha ocorrido racismo generalizado, apesar dos vídeos que viralizaram pelas redes sociais mostrando grandes áreas da multidão gritando “macaco” em espanhol.

O presidente da La Liga, Javier Tebas, tentou rebater Vinícius nas redes sociais, argumentando que a liga espanhola lutou contra o racismo.

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O chefe da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, admitiu que a Espanha tem um problema com o racismo. “Temos um problema de comportamento, de educação, de racismo”, disse ele a jornalistas em um evento em Madri. “Enquanto houver um único verme ou um grupo de vermes que insulte [alguém] por sua condição sexual, cor de pele ou fé, temos um problema sério.”

O incidente abalou o Brasil, país natal de Vinícius, cobrindo as primeiras páginas dos principais jornais e atraindo repreensões contundentes de prefeitos até o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de voltar para casa após a cúpula do G7 no Japão, ele se solidarizou com Vinicius Jr.

“Como é possível que em pleno século 21 tenhamos o preconceito racial ganhando força em vários estádios da Europa?” disse ele em entrevista coletiva.

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O governo brasileiro classificou as agressões ao craque como “inaceitáveis” em nota e anunciou que tomará providências junto às autoridades esportivas e aos patrocinadores. A CNN Brasil informou que o Itamaraty convocaria o embaixador da Espanha em Brasília, enquanto o embaixador do Brasil na Espanha havia solicitado reuniões com Tebas, da La Liga, e Rubiales, da Real Federación de Futbol.

Embora a cobertura do futebol não tenha abordado o racismo dentro do esporte, o tópico agora é frequentemente discutido por comentaristas e especialistas entre outras ligas.

Em 2021, uma apresentadora da Sky Sports, Kelly Cates, mencionou no intervalo que o Arsenal havia relatado um abuso racista de um espectador no início do jogo.

No entanto a cobertura do futebol espanhol é rigidamente controlada. A La Liga admitiu anteriormente que os jornalistas que cobrem a liga entendem que existem certas regras sobre como você cobre o esporte.

“Não digo quais perguntas devem ser feitas, você deve saber o que não pode fazer”, disse Tebas em uma entrevista de rádio no ano passado. “Se você perguntar algo que não está no livro de regras, você não vai voltar.”

A La Liga disse em comunicado que investigará o incidente e tomará as medidas legais cabíveis. A liga fez oficialmente nove denúncias de racismo contra Vinícius nas duas últimas temporadas, incluindo sete nesta temporada.

- Com a colaboração de Clara Hernanz Lizarraga, Andrew Rosati e Daniel Carvalho.

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