Bloomberg — A presença não anunciada do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy na cúpula do G7 (grupo que reúne 7 das maiores economias do mundo) enervou a delegação brasileira, que agora se sente pressionada a aceitar um convite para um encontro cara a cara com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo autoridades brasileiras.
Lula, que também participa da cúpula do Grupo dos Sete no Japão como convidado, ainda está em dúvida sobre uma reunião com Zelenskiy, disseram as autoridades, que pediram para não serem identificadas devido a informações privadas.
Ao contrário dos países do G7, o Brasil assumiu uma postura mais neutra em relação à guerra na Ucrânia, argumentando às vezes que Zelenskiy, os Estados Unidos e os países europeus compartilhavam a culpa pela invasão do líder russo Vladimir Putin.
Lula suavizou sua postura nas últimas semanas, no entanto, diminuindo alguns comentários e despachando uma grande ajuda para Kiev.
Em uma reunião neste sábado (20) com Emmanuel Macron, o presidente francês pediu a Lula que se sentasse com Zelenskiy, segundo pessoas familiarizadas com a conversa. Um porta-voz de Macron disse que o líder francês discutiu a Ucrânia com Lula, mas não confirmou se tal pedido foi feito. O líder brasileiro apenas disse em um tuíta que a Ucrânia foi um tema discutido.
Zelenskiy chegou a Hiroshima na tarde de sábado em um avião do governo francês, uma viagem que foi mantida em sigilo até um dia antes. Alguns integrantes da delegação brasileira disseram que a presença do líder ucraniano foi uma “armadilha” para forçar um encontro, enquanto outros reclamaram que só souberam da visita quando Lula já estava no Japão, disseram as autoridades.
Muitos na delegação brasileira estavam nervosos com a possibilidade de Zelenskiy ser incluído na chamada foto de família dos líderes da cúpula neste sábado, disseram as autoridades, e sentiram alívio quando ele não apareceu. O Japão havia dito anteriormente que não haveria disponibilidade de imprensa para Zelenskiy.
A assessoria de imprensa de Lula negou reiterados pedidos para confirmar se o líder brasileiro se encontraria com Zelenskiy. As autoridades brasileiras disseram que ainda é possível que um encontro entre os líderes ocorra no domingo (21) último dia da cúpula.
No mês passado, Lula viajou à China para discutir a proposta de cessar-fogo do presidente Xi Jinping, que efetivamente congelaria as tropas russas no local. Zelenskiy rejeitou qualquer estrutura que não envolvesse a retirada completa das forças russas, uma posição também repetida pelos líderes do G7 na cúpula no Japão.
Enquanto esteve em Pequim, Lula pediu aos países do BRICS - incluindo também Rússia, Índia, China e África do Sul - que apresentem uma alternativa ao dólar no comércio exterior. E acusou os EUA de ajudarem a atiçar a guerra na Ucrânia.
“É importante que os Estados Unidos parem de encorajar a guerra e comecem a falar em paz”, disse Lula a jornalistas no mês passado durante sua viagem à China. Poucos dias depois, ele recebeu o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, no Brasil.
Um alto funcionário de um país europeu do G7 disse anteriormente que a presença de Zelenskiy oferece uma grande oportunidade de se envolver pessoalmente com líderes como Lula e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que se encontrou com o presidente ucraniano pela primeira vez no sábado.
A Índia tem sido um dos principais compradores de petróleo e armas russos, fornecendo moeda forte ao governo de Putin em um momento em que o G7 está tentando privá-lo de fundos.
- Com a colaboração de Alberto Nardelli e Isabel Reynolds.
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