Na maior feira de Bitcoin do mundo, a sensação de que o inverno cripto passou

Devotos de ativos digitais prestigiam evento que teve a metade do público de um ano atrás, após queda nas cotações e quebras de players, e mantêm convicção inabalada

Por

Bloomberg — Os defensores do Bitcoin ainda gostam de festejar mesmo depois do annus horribilis que abalou o mundo dos ativos digitais em 2022. Ainda que estejam um pouco mais moderados neste ano.

Os devotos do maior token digital em valor de mercado se reuniram em Miami Beach nesta semana para a Bitcoin Conference 2023 - para lamentar, mas também para comemorar a superação da série de calamidades do ano passado, incluindo o colapso da exchange FTX.

Embora esse período tenha sido doloroso, os preços das criptomoedas conseguiram se recuperar neste ano, com o Bitcoin adicionando 60% de valor para ser negociado a cerca de US$ 26.800, um aumento expressivo em relação aos US$ 16.600 no início de 2023. Uma evolução difícil de não notar no salão da conferência, em que o preço do Bitcoin estava estampado em todos os lugares. Ausentes estavam os lembretes de que foi negociado a quase US$ 69.000 no final de 2021.

Mais de 12.000 pessoas compareceram ao evento deste ano, abaixo dos mais de 25.000 em 2022, de acordo com Brandon Green, diretor da conferência.

“As pessoas aqui perderam dinheiro, eles têm amigos que perderam tanto dinheiro que estão fora do mercado, então não há mais conversa de ‘preços até a lua’. Todos aqui estão mais sóbrios do que no ano passado”, disse Dominic Ward , diretor de operações da Samara Alpha Management.

“Mas iríamos mandar algumas pessoas para cá de um jeito ou de outro porque estamos investindo nesse espaço. Portanto, sob essa perspectiva, este ainda é um ótimo lugar para ver todos com quem queremos trabalhar – mas é em escala reduzida”, afirmou.

A conferência teve todas as características de um evento criptográfico sensacionalista, incluindo um grande palco com alto-falantes cujas luzes foram perpetuamente reduzidas a um nível que normalmente seria encontrado em um clube noturno de Miami.

Havia música animada - pense em muito techno - sendo tocada o dia todo. Assentos confortáveis especiais foram reservados para as “baleias” – um grupo que inclui detentores de amplos volumes de criptos e também palestrantes. Alguns candidatos presidenciais em potencial também circulavam.

O piso da exposição abrigava uma série de estandes, incluindo uma “aldeia de mineração” em que empresas como a CleanSpark acampavam. O touro mecânico apresentado no evento do ano passado está de volta. Caixas eletrônicos com Bitcoin também podem ser encontrados, assim como um logo de Bitcoin “B” inflável com mais de 7 metros de altura. Na área de jogos, os participantes puderam jogar xadrez ou cornhole.

Erik Meltzer, co-fundador da Plutus Properties, uma empresa de investimentos imobiliários amigável às criptomoedas, estava leiloando um DeLorean “De Volta para o Futuro” - uma cópia do carro futurista do famoso filme, mas com um toque de Bitcoin.

As datas de viagem na “máquina do tempo”, por exemplo, foram definidas para janeiro de 2009, quando o primeiro bloco Bitcoin foi criado. “Queremos trazer os detentores de criptomoedas para o futuro dos investimentos imobiliários”, disse ele em entrevista. Os lances começaram em um Bitcoin.

Um dos destaques da conferência veio de Sebastian Coolidge, um nativo de Tampa de 34 anos que trabalhou com os organizadores para instalar uma obra de arte gigante - uma estrutura de touro Bitcoin com “poderes divinos” puxando cordas sobre uma série que propositalmente batizaram de forma incorreta em alusão a bancos em chamas, incluindo “Piti” para Citigroup, e “Crapital One” para Capital One. No fundo estava um Federal Reserve em frangalhos.

“Quero que as pessoas pensem por si mesmas e usem o Bitcoin como um exemplo disso”, disse Coolidge em uma entrevista.

O inverno do atum

O clima era amplamente positivo. Afinal, a multidão criptográfica tende a ser eternamente otimista. Ainda que as lembranças persistentes da queda do ano passado tenham atenuado um pouco o evento. O Bitcoin, embora em alta neste ano, ainda acumula queda de quase 60% em relação aos preços máximos históricos de 2021.

“É muito menor do que no ano passado”, disse Dusan Matuska, fundador da AmityAge, que minera Bitcoin e está montando uma academia de educação no criptoativo em Honduras. “Estávamos brincando que esta é uma representação física de um mercado em baixa - um bear market”, disse ele, mas acrescentou que ficou mais fácil visitar os estandes e fazer contatos.

A BitGo, que oferece soluções de custódia, organizou no ano passado um evento cuja peça central incluiu dois atuns gigantes inteiros que os garçons prepararam como suhis para os convidados. Neste ano, o CEO Mike Belshe ainda deu uma festa. A empresa decidiu se divertir com isso e distribuiu adesivos na festa ostentando minúsculos atuns sorridentes com o hashtag #TunaWinter, uma referência ao cripto inverno.

Miami quer ser a capital cripto

Miami buscou nos últimos anos transformar-se em um centro para criptoativos e fintechs, e seu prefeito, Francis Suarez, abraçou totalmente os ativos digitais na tentativa de atrair novas startups. No ano passado, na conferência Bitcoin, Suarez ajudou a revelar uma estátua gigante do “Miami Bull” que veio equipada com olhos de laser Bitcoin.

Várias empresas que organizaram festas na Bitcoin Conference do ano passado fecharam as portas. E o investimento de risco na área caiu mais de 90% durante os primeiros três meses de 2023 em comparação com o ano anterior, de acordo com o PitchBook. A queda foi causada, em parte, por uma desaceleração na indústria cripto.

“Estar em Miami faz uma enorme diferença – o impacto da rede de pessoas que conheci nos últimos três meses é maior do que nos últimos três anos nos EUA”, disse Rali Perduhova, cofundadora e CEO da 7RCC Global, uma emissora de ETF (fundos passivos) de criptos que fica em Miami.

Antes de se mudar para o Sunshine State, ela passou um tempo no Canadá, em Los Angeles e em Porto Rico, entre outros lugares. Perduhova reconheceu que a participação na conferência diminuiu em comparação com o ano passado, mas disse que ainda a considera a melhor conferência do setor.

Dan Gelber, prefeito de Miami Beach, diz que a cidade tem procurado diversificar sua economia para se concentrar em fintech e outras áreas da economia além da hospitalidade, sua grande atração.

“As pessoas estão vindo aqui em massa porque sentem que esta é uma comunidade de qualidade de vida, o que significa que não é apenas o clima e as belas vistas, mas também coisas que você poderia ter feito em Chicago ou Nova York, mas pode fazer aqui o ano todo”, disse ele em entrevista.

Ainda assim, ele diz que a indústria criptográfica passou por um “abalo”.

“Isso é algo relativamente novo, então haverá um nível de volatilidade refletido nesses tipos de eventos”, disse ele. “Mas acho que há um consenso de que as criptomoedas vieram para ficar.”

- Com a colaboração de Lizette Chapman e Felipe Marques.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

De ativos do metaverso ao colapso da FTX: a visão do BTG para crescer em cripto

Colapso da FTX leva governo das Bahamas a propor regulação mais forte para criptos

Mercado Bitcoin: conseguimos operar três anos sem ter que captar, diz CEO