Bloomberg Opinion — Tendo chegado ao fim de um período de grandes aumentos das taxas de juros e com sinais claros de que a inflação atingiu seu pico, os bancos centrais da América Latina agora avaliam quando começar a reduzir as taxas. Será um processo delicado – e igualmente necessário.
Nesta quinta-feira (18), o banco central do México, conhecido como Banxico, anunciou que manterá as taxas inalteradas “por um período prolongado”. O banco provavelmente vai entrar em um modo de espera por vários meses, depois de concluir um aumento recorde de 7,25 pontos percentuais em dois anos, chegando à taxa atual de 11,25% ao ano.
Com o histórico da região de preços e instabilidade financeira em descontrole, os banqueiros centrais da América Latina precisam continuar sendo prudentes e garantir que a fase de redução das taxas seja tão suave quanto o ciclo de aumentos.
Dito isso, os argumentos a favor dos cortes nas taxas estão aumentando, principalmente no Brasil, a maior economia da região. Duas economias menores, Costa Rica e Uruguai, já reduziram as taxas em março e abril.
Uma análise das taxas reais atuais e das expectativas de inflação mostra que existe um risco de apertar demais a economia da região que deve desacelerar neste ano e se recuperar apenas ligeiramente em 2024. Isso seria um erro. Os bancos centrais devem evitar manter as taxas demasiadamente restritivas por muito tempo.
No caso do Brasil, a Selic teve seu primeiro aumento em março de 2021 e, em 17 meses, chegou ao nível atual de 13,75% ao ano, em que se encontra desde agosto do ano passado. O aperto monetário ajudou a reduzir a inflação de um pico de 12% para pouco mais de 4% em 12 meses.
Isso elevou as taxas de juros reais do Brasil – a taxa de juros nominal menos a inflação – para mais de 9,5%, a mais alta entre um grupo de mais de 50 países grandes analisados pela Bloomberg.
O próximo país da lista é a Ucrânia, com uma taxa real de 7,1%. Para fins de comparação, a Índia tem uma taxa real de 1,8%, e os Estados Unidos estão com apenas 0,35%. Mesmo levando em conta as expectativas de inflação, que os economistas projetam que devem voltar a 6% até o final do ano, isso ainda dá ao Bacen algum espaço para baixar as taxas e reduzir os custos dos empréstimos.
No caso do México, a taxa real é de cerca de 5%. Uma nova desaceleração na taxa de inflação aumentaria a diferença em relação à taxa de referência nominal, abrindo espaço para reduzir os custos dos empréstimos. Alguns economistas veem isso acontecendo até novembro.
Por enquanto, a situação da Colômbia, do Chile e do Peru é menos óbvia, pois suas taxas reais ainda são bastante baixas ou até negativas.
Sim, os formuladores de política monetária da região também vão querer ver essa inflação – principalmente a leitura do núcleo, que não caiu tão rapidamente quanto os preços - desacelerando. Mas os mercados de trabalho resilientes e um desempenho melhor do que o esperado até agora neste ano moderaram o processo de desinflação.
E ainda há a questão política: no Brasil, o banco central está sob pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que há muito tempo argumenta que as taxas precisam ser reduzidas rapidamente. E o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, pediu na semana passada aos bancos comerciais que reduzissem suas taxas, argumentando que os aumentos do banco central colocam em risco a economia produtiva.
É claro que os banqueiros centrais vão querer garantir que sua autonomia seja respeitada e que não sejam vistos como se estivessem cedendo à pressão política. Eles também querem evitar quaisquer reviravoltas embaraçosas que coloquem sua credibilidade em risco.
Como disse o peruano Julio Velarde, o banqueiro central mais antigo das Américas, à Bloomberg News no mês passado: “o pior cenário para um banqueiro central é reduzir a taxa de juros e aumentá-la novamente dois ou três meses depois”.
É verdade. Ainda assim, os bancos centrais da região podem e devem começar a sinalizar um caminho para futuros cortes. Eles ganharam credibilidade nos últimos anos, quando reagiram de forma mais rápida e agressiva do que seus pares de países desenvolvidos para evitar o pico inflacionário pós-pandemia. Eles mostraram que têm as habilidades de comunicação necessárias e não devem ter vergonha de usá-las.
--Com a colaboração de Chris Middleton.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Juan Pablo Spinetto é editor-chefe de economia e governo da Bloomberg News na América Latina.
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