Bloomberg Línea — Com lucros em trajetória de alta, o Nubank (NU) pretende acelerar a diversificação de sua base de clientes, com foco também no público de alta renda. Outro objetivo é oferecer serviços não financeiros, ampliando igualmente a base e a recorrência de usuários em sua plataforma. A execução dessa estratégia deve ajudar o banco digital a não só preservar como elevar a rentabilidade com suas operações, algo que já começa a ser cada vez mais evidente, na avaliação dos seus principais executivos.
David Vélez, CEO do Nubank, disse que a fintech opera atualmente com uma taxa de 18% de capital de Basileia no Brasil, enquanto a exigência mínima de capital regulatório do país é de 10,5%.
“O Brasil está sobrecapitalizado e ainda assim tiramos esse ROE [Retorno sobre o Patrimônio Líquido]”, disse Vélez em resposta a uma questão da Bloomberg Línea em evento realizado pela fintech nesta quinta-feira (18) em São Paulo.
O banco digital teve um ROE de 11% no primeiro trimestre de 2023 no resultado consolidado; na operação brasileira, o ROE foi de 43%, versus 6% no mesmo período um ano antes.
Quanto maior o índice de Basileia de um banco, maior é o volume de capital em relação aos seus ativos ponderados pelo risco, o que pode afetar a rentabilidade do banco. Outra parte do capital do Nubank está reservado para as operações na Colômbia e no México.
No México, a empresa chegou a um market share de 4,9% em valor transacionado em cartões de crédito, enquanto na Colômbia esse número atingiu 3,2% em janeiro de 2023.
O Nubank alcançou um lucro líquido de US$ 141,8 milhões no primeiro trimestre de 2023, segundo dados divulgados na segunda (15). Questionado sobre a cobertura de provisão para inadimplência, Vélez disse que o Nubank tem mais de 200% de provisão sobre inadimplência e que vê esse ponto não como um problema mas como uma vantagem competitiva em relação aos grandes bancos.
Isso porque, segundo o executivo, o Nubank tem uma inadimplência de 25% até 50% menor do que a média do mercado, agora com um índice de 8,9%. Até março de 2023, o Nubank teve uma inadimplência de 5,8%, em tendência crescente desde janeiro de 2021 como o mercado.
“Se quebramos isso por segmentos, na baixa renda temos inadimplência 50% menor do que o mercado. Essa vantagem cai à medida que a renda vai aumentando. Porque a vantagem que temos, em termos de dados e infraestrutura, fica menor em segmentos de mais alta renda”, disse Vélez.
Foco na alta renda
Mas isso deve mudar de acordo com os planos estratégicos do banco. O Nubank elegeu como novo foco a expansão para o público de alta renda. A fintech tem há dois anos um cartão para esse segmento, denominado Ultravioleta.
“Na alta renda, 63% já são clientes, têm cartão, mas não usam o Nubank como banco principal. Nosso objetivo é nos tornamos o banco principal [desses clientes]. O Ultravioleta é um produto importante, mas estamos trabalhando em uma proposta de valor mais holística”, disse Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, durante o evento por ocasião dos dez anos da fintech.
O Nubank atingiu 80 milhões de clientes na soma das operações dos três países, com uma receita média de US$ 8,6 por mês por cliente. Atualmente, 46% dos adultos brasileiros são clientes Nubank. O objetivo é crescer não só a base como o percentual dos que utilizam o banco ativamente - que geram alguma receita no período de 30 dias.
Além dos serviços financeiros tradicionais originados em casa ou de terceiros, a fintech pretende diversificar suas ofertas, com produtos e serviços não financeiros - sem detalhar ainda quais -, utilizando Inteligência Artificial (AI) para a personalização da experiência do cliente, tanto para pessoas físicas quanto empresariais.
Em direção ao que Vélez chamou de “plataformização”, o Nubank lançou um marketplace em novembro de 2021, que hoje conta com parcerias com mais de 140 varejistas. O banco oferece crédito para impulsionar as vendas de seus parceiros. Outra aposta da fintech é no crédito consignado, o que, segundo Cristina Junqueira, é algo em que a fintech “acredita muito”.
“É uma fonte de crédito para muita gente e é o crédito mais saudável e barato que há [por causa da garantia]. Acreditamos que podemos trazer inovação”, disse Junqueira.
Vélez disse não descartar os Estados Unidos nem uma expansão global futura para além da América Latina. “Já estamos nos três países mais relevantes da América Latina, mas ainda não temos resposta para onde vamos e quando haverá mais expansões”, afirmou nesta quinta.
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